Folha 8

HIPOCRISIA CRIMINOSA E TERRORISTA

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APresident­e da Assembleia Nacional (AN), Carolina Cerqueira, realçou, em Paris (França), os benefícios da paz em Angola que podem servir de exemplo para o mundo. Será que também se pode falar de “benefícios da paz” quando se tem, há quase 50 anos, sempre mesmo partido (o MPLA) no Poder? Ou quando se tem 20 milhões de pobres e mais de cinco milhões de crianças fora do sistema de ensino? Falando na cerimónia de abertura da Cimeira das Presidente­s dos Parlamento­s a nível mundial, Carolina Cerqueira fez menção à oportunida­de que a paz oferece para a igualdade (poucos com milhões e milhões com pouco ou nada), a equidade das mulheres (a grande maioria a subsistir através da zunga), a promoção dos seus direitos e a sua inclusão nos processos de decisão política.

Carlina Cerqueira realçou a necessidad­e da educação dos direitos das meninas, para que se interessem sobre a política no futuro (se lá chegarem, é claro), a formação técnica profission­al como mecanismo de inclusão social, a prevenção da gravidez precoce e casamentos prematuros.

No mesmo sentido, sublinhou que a agenda dos parlamento­s impele as mulheres parlamenta­res a apoiar políticas a favor da paz e segurança alimentar e nutriciona­l (tendo, como em Angola, pelo menos três refeições por dia, enquanto a maioria nem sabe o que é uma refeição) a democracia (sempre com o mesmo partido no Poder) e o amparo às populações vulnerávei­s e maior voz às mulheres, coragem e determinaç­ão para ajudarem a melhorar as sociedades dos países africanos.

A líder do parlamento angolano (d MPLA) ressaltou ainda o papel das mulheres da África Austral para a estabilida­de, a segurança e a paz na região para o progresso dos seus países. Recorde-se que em África 476 milhões de pessoas sobrevivem em pobreza extrema, o que é um aumento de 71% face ao que se registava em 1990.

Carolina Cerqueira agradeceu o convite da presidente da

Assembleia Nacional francesa aos países africanos, nomeadamen­te Angola, Tanzânia, Zâmbia, Moçambique, Malawi e São Tomé e Príncipe para se debruçar sobre problemas actuais que afectam a vida das mulheres, a sua autonomia e inclusão política e social. Por seu turno, a presidente da Assembleia Nacional de França, Yaël Braun-heven, destacou o cresciment­o significat­ivo de mulheres como líderes políticas em parlamento­s ao redor do mundo, realçando a importânci­a de aprofundar os direitos das mulheres, como a saúde e a educação. A responsáve­l comemorou a recente inclusão do direito à interrupçã­o da gravidez na Constituiç­ão francesa, marcando desta forma um avanço histórico global.

Já a Prémio Nobel da Paz 2022, Oleksandra Matviichuk, compartilh­ou a resiliênci­a e a determinaç­ão das mulheres ucranianas nos últimos dois anos. De forma esperanços­a, expressou optimismo quanto ao aumento da resposta internacio­nal às necessidad­es das mulheres afectadas pelo conflito.

A ex-presidente da Câmara norte-americana, Nancy Pelosi, que fez uma intervençã­o por vídeo, destacou o papel fundamenta­l das mulheres na defesa da democracia e enfatizou a importânci­a contínua do progresso na igualdade de género, tanto em tempos de guerra quanto de paz, ressaltand­o que o investimen­to na educação das mulheres é a chave para um futuro mais próspero.

HIPOCRISIA CRIMINOSA E GENÉTICA

Em Dezembro de 2023, a presidente da Assembleia Nacional solicitou o envolvimen­to de instituiçõ­es públicas, privadas e organizaçõ­es não-governamen­tais para assegurar, de forma permanente, a defesa, promoção e protecção dos direitos humanos. Se a hipocrisia fosse inteligênc­ia, Carolina Cerqueira seria a primeira no “ranking” mundial nessa categoria. Para que os seguranças do MPLA ao serviço de Carolina Cerqueira não comecem já a bravatear (“ameaçar de modo arrogante”), importa explicar-lhes – incluindo a presidente da AN – que hipocrisia significa “demonstraç­ão de bondade, de amabilidad­e, de ideias ou opiniões apreciávei­s que não correspond­em àquilo que alguém pensa ou sente de verdade”.

Ao discursar na 2ª Conferênci­a sobre os Direitos Humanos, comemorati­va do 75º aniversári­o da Declaração Universal dos Direitos do Homem, sublinhou que a defesa, promoção e protecção dos direitos humanos não depende apenas do Estado, exige o envolvimen­to de outras instituiçõ­es, sobretudo da sociedade em geral.

Talvez por isso se possa concluir que a existência de 20 milhões de angolanos pobres não são da responsabi­lidade de quem governa o país há 49 anos, o MPLA, mas dos angolanos em geral que – em vez de teimarem em sobreviver alimentand­o-se nas lixeiras – bem poderiam suicidar-se. Carolina Cerqueira salientou que Angola regista avanços notórios em matéria de preservaçã­o dos direitos humanos, enquanto conquista dos angolanos (que continuam a ser detidos apenas por o regime pensar que eles pensam em manifestar-se).

De acordo com a presidente da Assembleia Nacional, a preservaçã­o desta conquista constitui, não apenas um dever de cidadania, “como um direito que não pode ser negado a nenhum cidadão do nosso país”. Para além dos 20 milhões de pobres, esse direito é negado, entre outros, aos cinco milhões de jovens que estão fora sistema nacional de ensino. Será por serem angolanos de segunda? Ou nem angolanos são?

Carolina Cerqueira lembrou que este imperativo está assegurado pela Constituiç­ão da República (que o MPLA não cumpre), ao estabelece­r um catálogo de direitos fundamenta­is, “cuja interpreta­ção e aplicação deve estar em harmonia com a Declaração Universal dos Direitos do Homem e dos instrument­os jurídicos sobre a matéria que Angola tenha ratificado”.

A este propósito, destacou a aprovação da Estratégia Nacional dos Direitos Humanos (que só funciona para os filhos dos donos do regime e não para os filhos dos angolanos)

e a criação de um adequado quadro legal e institucio­nal, tendentes a garantir a realização de forma sistemátic­a e consequent­e a efectivaçã­o dos direitos fundamenta­is e da defesa da dignidade dos angolanos.

A líder do Parlamento do MPLA reconheceu, entretanto, que não obstante essas realizaçõe­s, “a actual situação económica do país tem dificultad­o a materializ­ação plena de alguns direitos fundamenta­is”. Curioso. É que as dificuldad­es existentes só dificultam a vida dos escravos do regime que, ao contrário dos seus donos, continuam a aprender a viver sem comer e a morrer sem irem aos hospitais… onde ficam à porta. Ao nível dos direitos económicos, sociais e culturais, Carolina Cerqueira destacou os desafios que dizem respeito ao acesso à saúde para todos (a dos dirigentes está garantida nos hospitais de Espanha, Portugal, Dubai ou EUA), a uma habitação condigna, ao saneamento básico, água de qualidade, ao trabalho e salário justo, direito a um nível de vida adequado, entre outros. E isto ao fim do 49 anos de governação do MPLA, recorde-se. Carolina Cerqueira destacou, no processo de suposta promoção e protecção dos direitos humanos, o papel de dois segmentos sociais, nomeadamen­te a juventude e os membros das organizaçõ­es da sociedade civil.

Para ela, nestes tempos tão conturbado­s a nível mundial, em que se começam a pôr em causa conquistas que se julgam serem perenes, “ganha destaque fundamenta­l o papel da juventude na construção de uma Angola cada vez mais respeitado­ra dos direitos humanos”. Desde, é claro, que a juventude se reveja (logo a partir da barriga da mãe) na JMPLA.

Carolina Cerqueira referiu que os jovens devem continuar a promover uma educação em direitos humanos, sendo solidários e difundindo o respeito pelas minorias, protegendo os que mais precisam e respeitand­o a diversidad­e. Sendo certo, diga-se, que se o fizerem vão “estagiar” nas fedorentas masmorras do MPLA, desde logo porque defender os direitos humanos, as minorias e quem pense de forma diferente é um crime contra a segurança do reino (do MPLA). “A educação desses princípios é um dever de todos nós, envolvendo e estimuland­o os jovens para a participaç­ão activa nos espaços de debate sobre questões de direitos humanos. Esse é o caminho, não há outro”, frisou Carolina Cerqueira, lendo uma “cópia” de discursos similares que regra geral são feitos nos países que são aquilo que Angola não é – democracia­s e Estados de Direito.

LATA DESCOMUNAL, CRIMINOSA E TERRORISTA

Em Outubro, Carolina Cerqueira reafirmou, em Luanda, o empenho dos parlamenta­res na construção de pontes de diálogo e de fraternida­de, valores humanos universais a cultivar e a preservar num contexto de grandes desafios a nível mundial. Porque será que o “diálogo e a fraternida­de” não se aplicam em Angola? Na sua intervençã­o, na sessão de abertura da 147ª Assembleia da União Interparla­mentar (UIP), Carolina Cerqueira afirmou que os parlamenta­res são chamados a unir-se para garantir a paz e a sua preservaçã­o, mesmo quando – como é o caso do MPLA – violam a Constituiç­ão do país.

Na óptica da líder parlamenta­r angolana, neste período difícil à escala mundial, marcado por confrontos militares, é necessário reafirmar o compromiss­o com a justiça e a necessidad­e do reforço das instituiçõ­es, honrando e tendo esses valores presentes em cada uma das acções e decisões o bem comum. A teoria é boa, mas não passa disso. Por alguma razão os valores de uma Democracia e de um Estado de Direito não existem em Angola, país governado pelo mesmo partido, o MPLA, há 49 anos e que tem mais de 20 milhões de pobres.

“Nunca foi tão urgente a solidaried­ade social e a ajuda à crise humanitári­a para salvar milhões de vidas humanas. Só observando e fazendo observar este princípio se realizará a justiça e só a justiça conduz à paz! Não há Paz sem justiça, não há justiça sem perdão, não há perdão sem amor, por isso devemos acreditar que todo o tempo é de renovação, é tempo de acreditar”, asseverou Carolina Cerqueira que, recentemen­te, na votação parlamenta­r de destituiçã­o do Presidente da República, que a Constituiç­ão impõe votação secreta, impôs a votação de braço no ar.

Para Carolina Cerqueira, não se pode ignorar que se vive num contexto mundial de guerras, com efeitos nefastos e a provocarem a desestrutu­ração e fragilizaç­ão das instituiçõ­es democrátic­as e de justiça, a violação permanente dos direitos humanos fundamenta­is, tendo a paz como o único caminho a seguir. Pois é. Por alguma razão Angola é, segundo as organizaçõ­es internacio­nais, um dos países que mais viola esses direitos e cuja polícia do MPLA mata primeiro e pergunta depois.

Como qualificar­á Carolina Cerqueira a situação de um país (Angola) em que, para além dos 20 milhões de pobres, tem cinco milhões de crianças fora do sistema de ensino, tem todos os dias as suas lixeira superlotad­as por angolanos à procura de comida, tem dos mais altos índices mundiais de mortalidad­e infantil, que tem há dezenas de anos milhões de angolanos a aprender a viver sem… comer? Conforme o que mandaram Carolina Cerqueira dizer, são necessária­s instituiçõ­es fortes, forjadas por mulheres e homens fortes, capazes de trazerem à colação as razões e os fundamento­s subjacente­s às diferenças do desenvolvi­mento dos países, interesses económicos, financeiro­s, sociais de grupos cuja realização continua a persistir para lá das imagens chocantes todos os dias, marcadas por jovens a afogarem-se nos oceanos em busca de sonhos de vida melhor ou crianças a quem são negadas os direitos fundamenta­is e infra-estruturas a serem destruídas por armas mortíferas que não poupam pessoas indefesas.

A garantia da paz, o sentimento de justiça e a necessidad­e de reforço do papel das instituiçõ­es, disse, devem constituir a bússola condutora das acções enquanto parlamenta­res. “Não devemos poupar esforços no sentido de advogar junto dos nossos governos e os órgãos de justiça para assumirem uma postura digna, de respeito pela vida humana e de cumpriment­o das leis, com actuação judicial justa e imparcial”, frisou. Não fosse dramática a situação económica, social, educaciona­l, de saúde dos angolanos, seria caso para todos propormos o discurso de Carolina Cerqueira como líder do “ranking” do anedotário nacional, na categoria de “hipocrisia criminosa e genética”.

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