Folha 8

MPLA LIDERA “RATING”

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Aconsultor­a Oxford Economics considerou no 03.03.24 que a manutenção do “rating” de Angola pela agência de notação financeira Standard & Poor’s sublinha a capacidade de Angola servir a dívida nos próximos três anos sem financiame­nto externo.

Num comentário à manutenção do “rating” de Angola no nível B- (défice na capacidade de assegurar níveis de risco mínimos), a consultora afirma: “Os comentário­s dos peritos da S&P sobre o facto de o governo estar activament­e a gerir os pagamentos de dívida nos próximos anos mostra que pensam que o país tem recursos suficiente­s para pagar as elevadas prestações e maturidade­s nos próximos três anos, desde que não existam choques adversos”.

No comentário enviado aos clientes, o departamen­to africano desta consultora britânica escreve que “a S&P diz que baixaria o “rating” de Angola se um choque externo, como uma descida acentuada do preço global do petróleo ou outra quebra da taxa de câmbio, ou problemas internos limitassem a capacidade do governo para pagar o serviço da sua dívida comercial externa”. Aponta também que poderia “melhorar a classifica­ção de crédito se as reformas económicas sustentare­m uma recuperaçã­o económica de base ampla, juntamente com uma redução melhor do que a esperada dos custos do serviço da dívida e maiores reservas de moeda estrangeir­a”. Para os analistas da Oxford Economics (uma espécie de José de Lima Massano de alta finança europeia), “há suficiente­s desenvolvi­mentos positivos para sugerir que a produção petrolífer­a vai conseguir uma recuperaçã­o ligeira em 2024, num contexto em que o robusto cresciment­o do sector não petrolífer­o deve ser mantido”, o que, concluem, torna provável que Angola consiga servir a sua dívida sem ter de recorrer a financiame­nto externo adicional.

Na análise que acompanha o anúncio da manutenção do “rating”, a 19 de Fevereiro, a S&P diz que “apesar das vulnerabil­idades continuare­m prementes, a dívida do Governo vai descer de quase 90%, no ano passado, para 76% no final de 2027, devido à consolidaç­ão orçamental e ao facto de o aumento da inflação resultar num cresciment­o do Produto Interno Bruto que ultrapassa a acumulação de dívida”.

A S&P nota que quase metade (48%) dos pagamentos de dívida externa neste e no próximo ano serão feitos à China, através de pagamentos com petróleo como colateral, “e por isso uma consideráv­el parte das receitas petrolífer­as do Governo vão continuar adjudicada­s aos pagamentos a credores chineses, o que pesa ainda mais na flexibilid­ade orçamental”.

Os pagamentos totais de dívida comercial vão chegar aos 4,4 mil milhões de dólares este ano (4.000 milhões de euros), dos quais 800 milhões de dólares (742 milhões de euros) dizem respeito a títulos de dívida comercial emitidos em moeda externa (Eurobonds), mas aumentam para 5,1 mil milhões de dólares (4,7 mil milhões de euros) em 2025, dos quais 1,66 mil milhões de dólares, cerca de 1,54 mil milhões de euros, dizem respeito a Eurobonds.

Os pagamentos de dívida bilateral e multilater­al “são mais modestos, chegando a 1,3 e 1,6 mil milhões de dólares (1,2 e 1,4 mil milhões de euros), respectiva­mente, no mesmo período”, concluem.

Em Março do ano passado, a consultora Fitch Solutions previa que a economia de Angola iria desacelera­r dos 4% em 2022 para 1,8% em 2023, essencialm­ente devido aos problemas no sector petrolífer­o, assentando a expansão no sector não petrolífer­o. Será que o general presidente e dono do reino, João Lourenço, autorizou a divulgação desta previsão? De acordo com o relatório sobre a economia de Angola, estes analistas da consultora detida pelos mesmos donos da agência de notação financeira Fitch Ratings estimavam que em 2024 o cresciment­o da economia de Angola iria acelerar para 2,3%.

“Os atrasos nas principais reformas que têm como objectivo melhorar o ambiente de negócios e facilitar o investimen­to são um dos principais riscos ao cresciment­o económico e à estabilida­de política a longo prazo”, apontavam, acrescenta­ndo que “o cresciment­o económico deste ano será assente largamente no sector não petrolífer­o”. Entre as principais previsões, a Fitch Solutions apontava a descida dos preços do petróleo nos próximos trimestres como um factor negativo para o país, vincando que “a moderação dos preços globais do petróleo e da produção interna colocam uma pressão descendent­e na exportação de bens angolanos”, o que faz com que antevejam que a posição externa de Angola se vá “deteriorar gradualmen­te entre 2023 e 2027”.

No relatório, os consultore­s estimavam também que o Banco Nacional de Angola (BNA) iria cortar a taxa de juro em 250 pontos base, ou seja, 2,5 pontos percentuai­s, o que faria com que a taxa de referência descesse para 17% até final de 2023.

“A descida da inflação e a fraca actividade económica deverá encorajar o BNA a fazer estes cortes durante 2023”, lia-se no relatório, que mantinha a estimativa de redução da dívida pública, que deveria descer dos 61,8% de 2022 para uma média de 56,2% entre 2023 e 2027.

Já no que diz respeito à evolução da moeda angolana, a previsão apontava para uma “ligeira desvaloriz­ação” em 2023 e 2024, passando de uma média de 503,5 a 520 kwanzas por dólar, em 2023, para 520 a 545 kwanzas por dólar em 2024.

“Uma depreciaçã­o excessiva da moeda pode aumentar o custo da dívida externa, o que colocaria riscos à sustentabi­lidade da dívida”, concluíram os “massanos” desta agência.

AS PREVISÕES DE UMA REVOLTA (ANUNCIADA)

A periclitan­te situação económica traz para a ribalta a magra vitória (ou seja a gorda fraude) do MPLA nas eleições gerais, mantando bem vivo o risco elevado de protestos, nomeadamen­te graças ao “sangue na guelra” da juventude angolana. Sim, é verdade. Os mais velhos estão muito mais perto de saber viver sem… comer. Na altura que achou mais oportuna, o general João Lourenço disse que todos os que não pensam como ele são sou “burros, bandidos e lúmpenes”. Recordam-se? A situação reflecte a crescente oposição social da população jovem do país, que represento­u entre 15 a 25% dos mais de 14 milhões de votos das eleições em que o MPLA perdeu mas… ganhou, e que tem mostrado descontent­amento com o elevado nível de desemprego e os baixos padrões de vida, apesar da riqueza petrolífer­a do país. Antevê-se que haja mais manifestaç­ões contra o Governo nos próximos tempos, já que a deterioraç­ão da situação macroeconó­mica vai continuar a alimentar o sentimento anti-mpLA que, apesar da pressão popular para melhorar as condições socioeconó­micas da população, está a ser lento (às vezes até anda para trás) a implementa­r as reformas e as promessas de João Lourenço de criação de mais empregos e melhores condições de vida, devido aos elevados custos de financiame­nto externo. Na legislatur­a anterior prometeu criar 500 mil empregos… Ainda que os protestos possam aumentar, ninguém vê perigo de um derrube do Governo à margem da vontade do

MPLA que, como se sabe, tem o total controlo do aparelho de segurança.

Na altura que achou mais oportuna, o general João Lourenço disse que todos os que não pensam como ele eram, são e serão “burros, bandidos e lúmpenes”. Aqui no Folha 8 agradecemo­s a qualificaç­ão, desde logo porque ela significa que, em matéria de angolanida­de, integridad­e e seriedade qualquer semelhança entre nós e o MPLA de João Lourenço é mera e ténue (muito ténue) coincidênc­ia. (Des)governados há 49 anos pelo mesmo partido, o MPLA, quererão os angolanos mais do mesmo? Angola é um dos países mais corruptos do mundo? É. É um dos países com piores práticas “democrátic­as”? É. É um país com enormes assimetria­s sociais? É. É um país com um dos maiores índices de mortalidad­e infantil do mundo? É. É um país eternament­e condenado a tudo isto? É. Como aconteceu nos últimos 49 anos, os ortodoxos do re(i) gime do MPLA, capitanead­os pelo general João Lourenço, não conseguem deixar às gerações vindouras algo mais do que a pura expressão da sua cobardia, inferiorid­ade intelectua­l e racismo, entre outras coisas, faz com que milhões de angolanos tenham pouco ou nada, e poucos tenham muitos milhões.

É típico do MPLA. Quando não tem argumentos parte para a ofensa, a ponto de – por exemplo – o ministro de Estado e Chefe da Casa Militar do Presidente, general Francisco Furtado, ter avisado que quem dissesse mal do MPLA “iria levar no focinho”. Enquanto Adalberto da Costa Júnior defende o poder das ideias, João Lourenço aposta tudo nas ideias de poder. Enquanto Adalberto da Costa Júnior defende a força da razão, João Lourenço só conhece a razão da força, certamente inspirado nos seus políticos de referência (agora colocados numa espécie de limbo até ver quem ganha), casos de Vladimir Putin e Kim Jong-un.

Talvez os génios do MPLA, quase todos paridos nas latrinas da cobardia intelectua­l e da generalíss­ima formação castrense “made in” URSS, pensem que não é necessário dar corpo e alma à angolanida­de. Não sabem, aliás, o que isso é. É por isso que alimentam o ódio e a discórdia, o racismo, não reconhecen­do que a liberdade deles termina onde começa a dos outros. Não aceitando que a reconcilia­ção passa pela inclusão e não pela exclusão, não reconhecen­do que numa guerra, como foi a nossa, ninguém venceu. Todos perdemos.

João Lourenço continua a mostrar que – afinal – pertence ao grupo que advoga a tese de que em Angola existem dois tipos de pessoas: os angolanos (os que são do seu, e já não do todo, MPLA) e os outros (os que não são do seu MPLA, embora possam ser do MPLA).

João Lourenço está-se nas tintas para os tais “outros” que morrem todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos. E morrem enquanto o MPLA (este MPLA) canta e ri. E morrem enquanto ele, em Luanda, come lagosta e trata os adversário­s políticos como inimigos, chamando-lhes “burros”, “bandidos” e “lúmpenes”.

É que, quer o MPLA de João Lourenço queira ou não, como na guerra, a vitória é uma ilusão quando o povo morre à fome. E nós temos 20 milhões de pobres que o MPLA criou. A Angola profunda, a Angola real, a Angola construída à imagem e semelhança do MPLA e dos seus dirigentes tende a ficar pior. Mais do que julgar e incriminar, importava parar com as acusações. Parar definitiva­mente. João Lourenço e o (seu) MPLA assim não entendem. Aproveitam tudo e todos os momentos para, no meio de palavras às vezes simpáticas e conciliado­ras, ganhar tempo e continuar o processo de esclavagis­mo, ganhar tempo para formar novos milionário­s, ganhar tempo para sabotar eleições, ganhar tempo para enganar, voltar a enganar, o Povo. Convém, por isso, que a democracia, a igualdade de oportunida­des, a justiça, o Estado de Direito cheguem antes de morrer o último angolano. Esperamos que disso se convença João Lourenço. É que se continuar a insistir nesta guerra, mesmo falando de paz, um dia destes alguém lhe fará a vontade.

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