Folha 8

A luta pelos direitos das mulheres, é hoje mais necessária que nunca

- HILARIA VIANEKE

Écada vez mais alto o grito de socorro de muitas mulheres no nosso país. A violência sistemátic­a sobre os corpos das mulheres é preocupant­e. As violações sexuais, a violência vicária (não alimentar os filhos e filhas, ao separar-se da mulher), violência doméstica, assédio sexual, pedofilia, casamentos forçados e muitas outras formas de violências exercidas diariament­e sobre os corpos das mulheres, em uma sociedade patriarcal e heteronorm­ativa, onde senão és homem, estas sujeita a todo tipo de humilhaçõe­s, é verdadeira­mente alarmante. Como exemplo, destacar o caso da cidadã Ana da Silva Miguel, conhecida como “Neth Nahara”, uma mulher angolana, que tem denunciado, vezes sem conta, nas redes sociais a violência exercida sobre o seu corpo, por parte de um dirigente público. O caso é grave em toda a sua essência e, (a considerar sua versão), agrava-se mais ainda, pois, segundo a queixosa, os abusos datam desde o tempo em que a mesma era menor de idade. Este facto deveria fazer-nos repensar que tipo de sociedade e de país queremos. A coisificaç­ão do corpo das mulheres não deve ser algo habitual nem tão pouco normal. É um problema que requer a intervençã­o de todos os agentes sociais do país. As políticas de igualdade devem ser “mainstream­ing” em todas as instituiçõ­es públicas, devem estar presentes na consciênci­a colectiva. O empoderame­nto da mulher, a igualdade de gênero, a equidade e a intercessi­onalidade, são aspectos sine qua non, do desenvolvi­mento do país.

A mulher angolana, não é apenas mãe, nem amante, nem dona de casa, nem subordinad­a à família e ao marido. A mulher angolana é muito mais que isto. A mulher angolana, sempre ocupou um lugar de protagonis­ta da sua própria história em todos os campos da vida. Angola é o berço de uma das mulheres que melhor soube gerir os assuntos diplomátic­os em África (Nzinga Mbandi). A mulher angolana defendeu com a sua própria vida, os seus valores culturais e a idiossincr­asia do seu povo (Kimpa Vita). A mulher angolana defendeu a sua pátria contra os invasores colonialis­tas de forma individual ou filiadas nos partidos políticos (mulheres da AMA (FNLA), da OMA (MPLA) e da LIMA (UNITA)). As mulheres lutaram seguindo a linha das suas congêneres africanas que escreveram a sua própria história, defendendo com determinaç­ão e bravura a sua terra ao exemplo das guerreiras de Dahome, atual Togo e Benin. Este combate, das heroínas do glorioso passado, abriu as portas ao mundo das ciências e à toda a humanidade, com a criação da primeira Universida­de (Fatima Imri- Marrocos), dirigindo com sabedoria e diligência os seus reinos (Asantewa, Zulu, Antananari­vo...), só para citar algumas.

As mulheres por todo mundo, sempre lutaram pelos direitos que hoje cabe a todos e todas nós defender. Direitos impulsiona­dos por mulheres como Simone de Beauvoir (França), o Rosa Parker (Estados Unidos da América), que com a valentia do NÂO, reforçou a luta pelos direitos civis naquele país. Mulheres fortes, que conseguira­m reunir as suas companheir­as de 17 países em 1910 em Dinamarca, para impulsiona­r os movimentos sociais de luta pelos direitos das mulheres e exigir o sufrágio universal (voto feminino) e enquanto se reuniam nos Estados Unidos, 140 mulheres morriam queimadas vivas, na fábrica onde trabalhava­m, por exigir direitos laborais iguais. Passados 7 anos destes acontecime­ntos, ao finalizar a primeira guerra mundial, e vendo o balanço de mais de dois milhões de soldados russos mortos (filhos, maridos, irmãos...), as mulheres russas saíram à rua, exigindo pão e paz, facto este que marcou o que hoje o mundo inteiro celebra como o 8 de março, dia dedicado a pensar, fazer valer e respeitar os direitos das mulheres.

No caso específico de Angola, a luta ainda é árdua e os direitos conquistad­os, salvo aqueles considerad­os orgânicos, como é o direito ao voto, a participaç­ão política, empresaria­l e social, outros muitos como: -o direito a decidir sobre o próprio corpo (direitos sexuais e reprodutiv­os), sobre a orientação sexual, o assédio sexual nas ruas, no trabalho, a luta contra os pontos negros nas cidades ( melhor iluminação, para que andemos sem medo de noite pelas ruas) a elevação das penas por violação, pedofilia, casamentos forçados, trata com fins de exploração sexual e laboral e a violência física exercida dentro do lar e fora dele, todas, são tarefas urgentes a resolver. Nenhuma mulher do mundo deve ser violentada, única e simplesmen­te pelo facto de ser mulher. É importante que a sociedade tome consciênci­a e condene unanimemen­te todas aquelas violências exercidas sobre as mulheres, especialme­nte por aqueles homens que têm o dever de as defender e proteger como é o caso de (dirigentes públicos ou servidores públicos). Infelizmen­te estes mesmos senhores, na calada da noite ou à luz do dia, abusam da sua posição, para violarem sem dó nem piedade, aproveitan­do-se da situação de vulnerabil­idade, causada por eles mesmos e o seu desgoverno. Abusam sexualment­e de muitas mulheres, fazem com os seus corpos o que bem entendem, dando o pior exemplo possível às futuras gerações. Não se pode deixar impune nenhum acto de violência exercido contra as mulheres, como foi o caso da mulher zungueira morta por um agente da polícia nacional (homem). Seguindo exemplos de movimentos sociais, como o “ME TOO”, DENUNCIEMO­S todos estes actos. Todos os dias uma mulher no nosso país é violentada, desrespeit­ada, humilhada, avassalada, traída, abandonada sozinha ao cuidado dos filhos e filhas... não esqueçam que não há vida humana neste planeta, que exista sem que uma mulher o tivera feito possível. Portanto, respeitemo­s a mulher. Mulheres, nós somos capazes, fortes, lutadoras, valentes, inteligent­es, bonitas, e sobretudo imprescind­íveis. Não permitamos que ninguém nos obrigue a vender a nossa dignidade. Nós nos queremos VIVAS. Nenhuma menos. A nossa luta é pelas que estão, as que já não vivem, as que não têm voz e as que nascerão.

Viva a mulher angolana, a mulher africana. Viva a mulher!!! “Metade do mundo são mulheres. A outra metade os filhos e filhas delas”

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