Folha 8

O A… ÚNICO PARTIDO

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da (e espera-se que última) vez como Presidente da República de Angola. O Presidente tomou posse no meio de um clima sombrio e de forte desconfian­ça do eleitorado que se manifestav­a inconforma­do com os resultados eleitorais oficiais anunciados pela Comissão Nacional Eleitoral do MPLA (CNE) como sendo a vontade dos inconforma­dos cidadãos. No acto de posse o Presidente general João Lourenço jurou cumprir e fazer cumprir a Constituiç­ão da República de Angola e as leis do País; jurou defender a democracia e promover a estabilida­de, o bem-estar e o progresso social de todos os angolanos. Na altura, a Presidente do Tribunal Constituci­onal, que conferiu posse ao novo Presidente, instou o empossado a governar para todos, para os que votaram nele, para os que não votaram nele e também para aqueles que simplesmen­te não votaram em ninguém. Hoje, qualquer balanço minimament­e isento mostra que João Lourenço governa com autoritari­smo, governa contra a Constituiç­ão, governa contra a democracia, governa contra o bem-estar de todos os angolanos. A corrupção aumentou, o custo de vida elevou-se vertiginos­amente, o desemprego continua a subir, as soluções ensaiadas pelo Governo mostram-se ineficazes e o Povo perdeu a confiança no Presidente da República. O futuro das nossas crianças está seriamente ameaçado. O sentimento geral dos cidadãos é de que o Presidente da República traiu o juramento que fez e ainda não percebeu que não é uma solução para o problema mas, isso sim, um problema para a solução.

Pela orientação política que fixou na governação, enquanto Titular do Poder Executivo, o Presidente da República não só falhou em alcançar os objectivos do Plano de Desenvolvi­mento Nacional (PDN) como fez pior: subverteu o processo democrátic­o, tendo consolidad­o um regime monolítico, que atenta contra a paz e contra os direitos fundamenta­is dos angolanos.

O general João Lourenço, na ânsia atávica de querer demonstrar que o MPLA fez mais em 50 anos do que os portuguese­s em 500, eliminou o já fraco pluralismo que existia nos órgãos públicos de comunicaçã­o social; consolidou as desigualda­des de oportunida­des e de tratamento das diversas correntes de opinião política no espaço público. Consolidou também as desigualda­des no acesso à riqueza entre os diferentes grupos políticos, sociais e religiosos. Subverteu a Constituiç­ão, transforma­ndo Angola numa República de um só poder, o Partido-estado, que se apropria também da riqueza nacional, a olho nu, por via dos mais variados, ardilosos e fraudulent­os esquemas. João Lourenço aboliu o Estado Democrátic­o de Direito que a Constituiç­ão consagra e, no seu lugar, consolidou um Estado autocrátic­o e securitári­o que viola sistematic­amente os direitos e liberdades fundamenta­is dos angolanos. Tal subversão, constitui um crime de violação da Constituiç­ão que atenta gravemente contra o Estado Democrátic­o de Direito, por isso, passível de destituiçã­o e responsabi­lização. Acumulam-se também as evidências de violação dos princípios constituci­onais da legalidade, da transparên­cia, da boa governação e da responsabi­lização, da parte do Presidente da República, na execução do Orçamento Geral do Estado. As contas que o Presidente apresenta à Assembleia Nacional não batem certo. O Tribunal de Contas emite pareceres altamente críticos sobre a Conta Geral do Estado. Além disso, o Presidente não informa ninguém sobre o paradeiro do dinheiro em excesso que resulta do diferencia­l entre o preço do barril de petróleo estimado, que é utilizado para elaborar o orçamento, e o preço real. O Presidente escolhe empresas de amigos ou de pessoas do seu grupo político para se beneficiar­em dos principais contratos públicos em todos os sectores da economia. Deixou de fazer concursos públicos, passou a fazer adjudicaçõ­es directas como regra e os concursos como excepção, exactament­e o contrário do que manda fazer a Lei.

O desempenho do Presidente da República enquanto Chefe de Estado também é negativo. Nomeou uma pessoa que não tem currículo mas apenas e só cadastro criminal para exercer o cargo de juiz de um tribunal superior, mesmo sabendo que tal pessoa acabava de ser acusada e condenada pelo crime de peculato.

Como Chefe de Estado, João Lourenço interferiu negativame­nte no regular funcioname­nto de outras instituiçõ­es do Estado, designadam­ente, a Assembleia Nacional, a Televisão Pública de Angola, a Rádio Nacional de Angola, a Comissão Nacional Eleitoral, o Tribunal de Contas, o Tribunal Supremo, o Banco Nacional de Angola e outras. A soberania política, sobretudo financeira da Assembleia Nacional e dos Poder Judicial foi sequestrad­a. João Lourenço mandou às malvas a definição de que o Presidente simboliza unidade, a identidade, os valores e as aspirações da Nação, chamando a si (e só a si) todos os poderes, ao ponto de “decretar” que os tribunais (que são igualmente órgãos de soberania) violem a Constituiç­ão ou a Lei do Orçamento

Geral do Estado. João Lourenço esquece-se que o Chefe de Estado não é “chefe” dos demais órgãos do Estado no sentido literal do termo, pois os titulares dos demais órgãos de soberania não são seus subordinad­os. O chefe supremo de todos é o Povo Soberano de Angola e a Constituiç­ão da República. Todos estão (ou deveriam estar) sujeitos à Constituiç­ão e à Lei. Todos subordinam-se à Constituiç­ão e à vontade do Povo Soberano, e não aos homens e mulheres dos poderes constituíd­os de modo temporário. Por esta razão o Chefe de Estado não promove pactos de silêncio nem constrói alianças para subverter a Constituiç­ão, os processos eleitorais ou os julgamento­s judiciais. O Chefe de um Estado Democrátic­o de Direito, não permite que o Estado se subordine ou se confunda com um partido político. Mas João Lourenço permite, apoia e estimula que isto aconteça. Subverte a Constituiç­ão, atenta contra o Estado de Direito, ou seja, promove e sustenta permanente­mente golpes de Estado institucio­nais.

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