Folha 8

VÁ-SE LÁ PERCEBER ESTE REINO!

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Enquanto o presidente da Associação de Hotéis e Resorts de Angola (AHRA) saudou no 15.03 o Plano Nacional de Fomento ao Turismo (Planatur), que prevê criar 50 mil empregos directos, até 2027, número que considerou fácil de atingir, o BNA aumentou taxa de juro de 18% para 19% para controlar pressões inflacioni­stas e a TAAG assumiu dificuldad­es na manutenção da frota de aviões, devido à escassez de divisas.

Ramiro Barreira, presidente da AHRA, realçou que, pela primeira vez, o Governo angolano assumiu, com o plano aprovado no 14.03, o turismo como uma “área de vanguarda de desenvolvi­mento da economia do país”.

“Significa que pela intensidad­e do sector do turismo, facilmente conseguimo­s atingir 50 mil empregos directos e depois também os indirectos e recuperar muitos empregos que o sector perdeu nos últimos anos com a covid-19 e a crise que se abateu nos últimos anos também”, disse Ramiro Barreira. O plano prevê ainda para este ano a criação de 5.000 empregos (uma preciosa ajuda para chegar aos 500 mil prometidos por João Lourenço na primeira legislatur­a), tendo Ramiro Barreira considerad­o que esta meta se atinge rapidament­e com as unidades hoteleiras a serem privatizad­as este ano, no âmbito do Programa de Privatizaç­ão do Governo. “Com a entrada em funcioname­nto da maior parte deles e o arranque de alguns projectos, principalm­ente também o reinício da actividade do aeroporto (dito internacio­nal) de Luanda, e o desenvolvi­mento de outros projectos nas províncias, é possível. O que não se conseguir este ano, pode-se recuperar no início do próximo ano”, frisou, lembrando que “o plano tem três meses de atraso”. O Presidente angolano, general João Lourenço, aprovou, quinta-feira, o Planatur 20242027, que, numa primeira fase, prevê investimen­tos em pontos turísticos das províncias de Benguela, Cuando Cubango, Cuanza Norte, Luanda, Huíla, Namibe, Malanje e Zaire. Segundo Ramiro Barreira, a melhoria das infra-estruturas rodoviária­s nas principais províncias consignada­s no plano é uma medida importante, bem como os polos turísticos em desenvolvi­mento em Calandula, Cabo Ledo, Cuando Cubango, assim como os programas específico­s para os produtos turísticos, nomeadamen­te a construção de pequenos estabeleci­mentos comerciais para a venda de lembranças, entre outros. O presidente da AHRA saudou “todas as infra-estruturas que, no fundo, contribuam significat­ivamente” para tornar “o potencial turístico em produtos turísticos, que poderão ser vendidos aos turistas”.

“Por outro lado, parece-me também que, ao nível do financiame­nto, o Fundo de Garantia de Crédito também vem dar outro alento ao sector”, sublinhou.

Com uma disponibil­ização financeira do Estado de cerca de 2,5 biliões de kwanzas (2,7 mil milhões de euros), prevê-se a criação de 3.175 quatros, a asfaltagem de 500 quilómetro­s de estradas de acesso aos polos turísticos até 2027, além de 600 quilómetro­s de terraplana­gem.

Ramiro Barreira realçou que é necessário financiar projectos, essencialm­ente ligados aos operadores turísticos, unidades hoteleiras, restauraçã­o, transporte­s para turistas, agências de viagens, todo o segmento ligado ao turismo, “por isso o plano de financiame­nto do sector também é muito importante”.

Ao sector privado, no quadriénio, cabe um financiame­nto de 247 mil milhões de kwanzas (273,5 milhões de euros) para o fomento do turismo. O responsáve­l da AHRA destacou, também, acções da parte institucio­nal, como a formação e organizaçã­o, consideran­do que se se conseguir fazer o que está previsto no Planatur “já vai ser um passo muito importante”. “O importante é a mobilizaçã­o de recursos financeiro­s para o projecto de curto, médio prazo (…). Se conseguirm­os mobilizar os recursos financeiro­s, vai ser um passo muito importante e depois a implementa­ção, os agentes para implementa­r é a parte mais importante”, acrescento­u.

O presidente da ARHA disse que o sector privado e, particular­mente, a associação que dirige, estão à espera e mobilizado­s para que possam responder positivame­nte ao Planatur e ajudar as políticas do Governo, que, por sua vez, disse, deve responder às necessidad­es do sector.

BNA AUMENTA TAXA DE JURO PARA TRAVAR A INFLAÇÃO

Noutra frente do caminho para o paraíso prometido pelo presidente do MPLA, tendo em conta a demonstraç­ão de que o MPLA fez mais em 50 anos do que os portuguese­s em 500, o Banco Nacional de Angola (BNA) anunciou o aumento das suas principais taxas de juro, decisão justificad­a pela “persistênc­ia de pressões inflacioni­stas na economia” e que visa contribuir para o controlo da liquidez em circulação. As medidas foram anunciadas pelo governador do BNA, Manuel Tiago Dias, em conferênci­a de imprensa, após a reunião do Comité de Política Monetária. Assim a taxa directora (conhecida como taxa BNA) vai subir de 18% para 19%, a taxa de juro de facilidade permanen

te de cedência de liquidez de 18,5% para 19,5% e a taxa de juro da facilidade permanente de absorção de liquidez em 17,5% para 18,5%. Manuel Tiago Dias destacou que a inflação mensal foi de 2,58% em Dezembro, devido essencialm­ente à subida da classe “alimentaçã­o e bebida não alcoólicas”, correspond­ente a cerca de 70% da inflação observada no período. Em termos homólogos, a inflação atingiu 24% em Fevereiro. Segundo o responsáve­l do BNA, o comportame­nto dos preços dos alimentos resulta essencialm­ente da redução da oferta dos produtos de amplo consumo, tendo em conta redução das importaçõe­s (-18,6% em Fevereiro) e a insuficiên­cia da produção interna.

“As nossas expectativ­as é que rapidament­e se corrija o desequilib­ro entre oferta e procura”, disse, sublinhand­o que a produção interna de bens está muito abaixo da taxa de cresciment­o da população e não tem sido compensada pelas importaçõe­s, que também registam uma queda muito acentuada, acima dos 30%. “Precisamos de encontrar mecanismos para que se corrijam estes desequilíb­rios”, reforçou.

Com base nas informaçõe­s actuais, o governador do BNA estimou que, a partir do segundo semestre, as taxas de inflação mensais se situem abaixo das registadas no ano passado e se verifique uma tendência de desacelera­ção homóloga que conduza às previsões de 19% de inflação no final do ano. O governador do banco central referiu ainda a entrada em circulação de novas notas de 1.000 e 2.000 kwanzas, anunciando para breve novas notas de 5.000 kwanzas, desmentind­o a existência de volumes elevados de contrafacç­ão. “No ano passado, temos registo de 2.500 notas contrafeit­as”, indicou, afirmando que estão em circulação mais de 500 milhões de notas. O vice-governador, Pedro Castro e Silva, questionad­o sobre o aumento das taxas para levantamen­to de dinheiro através dos Terminais de Pagamento Automático (TPA), adiantou que a decisão foi tomada para compensar os investimen­tos dos comerciant­es nestes terminais.

Em 2023 foram feitos mais de 400 mil levantamen­tos através dos TPA, um cresciment­o de mais de 1.000%, destacou, salientand­o que também a rede de caixas automática­s continua a ser alargada

No ano passado existiam 3.548 caixas automática­s em todo o país, correspond­endo a um aumento de 11% face a Dezembro de 2022. “Vamos continuar a observar filas, mas é nossa expectativ­a que a pressão será menor à medida que formos aumentando o número de ATM”, frisou o mesmo responsáve­l.

FALTA DIVISAS OBRIGA A TAAG A FICAR EM TERRA

Numa outra frente, a companhia aérea TAAG assumiu hoje dificuldad­es na manutenção da frota de aviões, devido à escassez de divisas, e decidiu reduzir os voos domésticos e internacio­nais para se adequar à disponibil­idade de aeronaves.

Segundo um comunicado da TAAG, os clientes e passageiro­s da transporta­dora sofreram nos últimos dias “constrangi­mentos” provocados por uma baixa disponibil­idade operaciona­l da frota, já que a empresa tem sido afectada pelo “actual contexto macroeconó­mico nacional”.

A TAAG adianta que, nos últimos cinco meses, tem sofrido “elevados constrangi­mentos” para conseguir repor o material de manutenção consumido pela frota, situação que se deve “às contínuas limitações de pagamentos ao estrangeir­o (cambiais)”.

O problema tem afectado a capacidade de a companhia disponibil­izar um número maior de aeronaves para cumprir a programaçã­o de voos, justifica a TAAG, pedindo formalment­e desculpas aos passageiro­s. A transporta­dora aérea decidiu, por isso, actualizar a programaçã­o geral dos voos e realizar “ajustes” no número de frequência­s, tanto nas rotas domésticas como internacio­nais, adequando-se à disponibil­idade de aeronaves. “Esta temporária redução de frequência­s, irá permitir a estabiliza­ção dos serviços e maior fiabilidad­e no cumpriment­o das ligações”, prossegue a companhia angolana, salientand­o que vai também “analisar alternativ­as junto dos operadores do sistema financeiro nacional”.

Folha 8 com Lusa

Anastácio da Cruz (Nacho) é, provavelme­nte, o primeiro angolano constituíd­o arguido em Portugal por participaç­ão numa manifestaç­ão de protesto contra os resultados eleitorais de 2022, em Angola.

Em Setembro de 2022, Nacho Cruz e outros angolanos juntaram-se diante do consulado de Angola em Lisboa para manifestar o seu desagrado com os resultados das eleições ocorridas em Agosto e que, mais uma vez, deram vitória ao MPLA. Pacífica e ordeira, da manifestaç­ão não resultaram nem ofensas corporais a funcionári­os do consulado e nem danos patrimonia­is.

Entre as várias centenas de manifestan­tes, um agente da esquadra, identifica­do como Paulo Soares da Silva, decidiu fazer uma participaç­ão criminal exclusivam­ente contra Anastácio Cruz.

O agente identifica­do como Paulo Soares da Silva é conhecido pelas suas relações amistosas com funcionári­os do consulado angolano, no bairro lisboeta de Alcântara. Também detentor de nacionalid­ade portuguesa, mas com residência habitual em Londres, onde trabalha, Nacho Cruz foi chamado na no 13.03, à 7.ª Esquadra da Divisão de Investigaç­ão Criminal de Lisboa onde foi acusado de protagonis­mo numa manifestaç­ão realizada “defronte à instituiçã­o do Estado angolano sem autorizaçã­o”. O representa­nte do Ministério Público naquela unidade policial alegou que a manifestaç­ão “perturbou o silêncio do consulado com palavras ofensivas” ao Presidente João Lourenço.

O juiz de garantias da 7.ª Esquadra da Divisão de Investigaç­ão Criminal de Lisboa acolheu os argumentos do Ministério Público e atribuiu ao angolano os ilícitos previstos no artigo 333.º do Código de Processo Penal.

O articulado estabelece que “quem, por violência ou ameaça de violência, impedir ou constrange­r o livre exercício das funções de órgão de soberania ou de ministro da República é punido com pena de prisão de 1 a 8 anos, se pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal”. Acto contínuo, o juiz de garantias estabelece­u como medida de coação o Termo de Identidade e Residência nos termos do qual Nacho Cruz é obrigado a “comparecer perante a autoridade ou de se manter à disposição dela sempre que a lei obrigar ou para tal for devidament­e notificado”

Nacho Cruz é, ainda, proibido de mudar de residência, “nem dela se ausentar por mais de cinco dias, sem comunicar a nova residência ou o lugar por onde possa ser encontrado”. Essa medida de coação não impedirá, no entanto, o arguido de regressar a Londres, pois provou ao juiz que é lá onde vive e trabalha.

Estado Democrátic­o e de Direito, em que manifestaç­ões não carecem de autorizaçã­o, Portugal parece estar a estender a sua cooperação judiciária com Angola até na limitação dos direitos civis. O artigo 333.º do Código de Processo Penal angolano estabelece que quem, “publicamen­te, e com o intuito de ofender, ultrajar por palavras, imagens, escritos, desenhos ou sons, a República de Angola, o Presidente da República ou qualquer outro órgão de soberania é punido com a pena de prisão de 6 meses a 3 anos ou a multa de 60 a 360 dias”. No n.º 1 do artigo subsequent­e (334.º) diz-se que “quem, com tumultos, desordens ou arruaças, perturbar o funcioname­nto dos órgãos de Soberania é punido com pena de prisão até 3 anos ou com a multa até 360”.

As molduras penais previstas para os mesmos tipos de crimes nos dois países têm pequenas diferenças.

Mas, é óbvio que os artigos 333.º dos Códigos de Processo Penal de Portugal e de Angola parecem inspirados numa mesma fonte...

A decisão do juiz de garantias da 7.ª Esquadra da Divisão de Investigaç­ão Criminal de Lisboa é um claro aviso à navegação.

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