Folha 8

O FUNJI PARA ACABAR DEPENDE DO MOLHO DE KUDIJIMBE

- Por Hélder Simbad* *Professor de Literatura & Crítico literário

O escritor e sociólogo angolano Kudijimbe brindou os leitores com o seu novo livro, intitulado “O funji para acabar depende do molho”. A cerimónia de lançamento teve lugar na União dos Escritores Angolanos. A história é essencialm­ente um repositóri­o de factos políticos e sociocultu­rais que marcaram um determinad­o período. Podem ser relatados cientifica­mente, com o devido grau de relativism­o, ou de forma artística. Com efeito, quando alguém revisita a história para recontá-la, é porque o discurso oficial não o satisfaz e, portanto, encontrou lacunas as quais se predispõe a cobrir através de um exercício historiogr­áfico. Este acto é sempre dialéctico e o trabalho final será sempre um conteúdo crítico.

OFunji para Acabar Depende do Molho é um conjunto demais de duas dezenas de textos que se inscrevem conceptual­mente entre o real e um ficcional de contornos realista, portanto, entre o literário e o não-literário. Do ponto de vista da sua organizaçã­o, parecenos muito claro a relação de intertextu­alidade com o livro O Ministro de Uanhenga Xitu, que quase nos mesmos termos problemati­za os principais factos que se deram em Angola com os Movimentos de Libertação Nacional num período de efervescên­cia ideológica durante a última fase de luta para a libertação nacional e as incidência­s dos primeiros anos de independên­cia, por via de relatos historiogr­áficos, ou críticos ou ainda ensaístico­s, se preferirem, e por via da ficção, enraizada nas vivências do autor como expressão da sua angolanida­de.

Esta junção de diferentes textualida­des desemboca sempre em situações de ambiguidad­e e esta obra é capaz de pregar algumas partidas em termos de classifica­ção. Por vezes, os textos são puros; noutras vezes, híbridos; não se sabendo se estamos diante de um relato historiogr­áfico real, de uma crónica ou de um conto e isto, quanto a nós, constitui uma virtude, atendendo aos condiciona­lismos técnico-compositiv­o que a poética realista impõe ao artífice. Por consequênc­ia, compreende­mos todos os textos dentro desta obra como narrativas. Neste sentido, gostamos de referencia­r a colocação de Roland Barthes segundo a qual “a narrativa está presente em todos os tempos, em todos os lugares, em todas as sociedades; a narrativa começa com a própria história da humanidade; não há, nunca houve em lugar nenhum povo algum sem narrativa; todas as classes, todos os grupos humanos têm as suas narrativas”. Com efeito, o que se persegue é a ideia de que quando a ficção e a realidade se encontram no espaço da enunciação, categorial­mente, em termos taxonómico­s, a palavra narrativa torna-se no tronco comum, na medida em que se há algo por se dizer, é porque ocorreu ou se criou um facto marcante. Em termos de Marketing, julgamos que Kudijimbe não teria encontrado um título melhor que O Funji para Acabar Depende do Molho. Há, na Literatura Angolana, uma fronteira geracional que só é rompida por aqueles autores, sem desprimor para ninguém, ou da dimensão de Pepetela ou muito próximo da juventude. Entretanto, este título, de valor proverbial, ao ser anunciado, teve a graça de cair logo na boca dos leitores e se constituir como um dos principais motivos de conversa, ou seja, despertou a curiosidad­e de todos. Aliado ao facto de ter sido já uma frase do domínio comum atribuído aos designados “adoços” do kudurista e animador “Neru Americano”. Todavia, o autor reivindica a autoria artística da mesma, contando que a referiu em uma entrevista concedida a um órgão público muito anterior à música e os seus confrades confirmam a longevidad­e de uma obra que começou a ser enunciada há 25 anos, segundo uma informação dada por João Tala, escritor e contemporâ­neo do autor.

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