PARA MELHOR FALAR ESCREVER E COMPREENDER
misturando deliberadamente os níveis de linguagem erudita e o icial com o nível de linguagem meramente popular. Aparentemente, mesmo os mais letrados, incluindo professores, antes iéis seguidores do gramático José Maria Relvas, passaram deliberadamente a apadrinhar erros grosseiros de linguagem escrita e falada, para enveredarem pelo oportunismo político de circunstância, confundido com a solidariedade na defesa dos interesses das massas populares mais exploradas pela colonização.
O neorrealismo literário corrompeu- se com a literatura de má qualidade e mergulhamos numa autêntica crise de valores e regras, incluindo a norma escrita e falada da Língua Portuguesa, enquanto passaram a proliferar, por todo o lado, os falsos poetas e os falsos prosadores. Consequentemente, a Língua Portuguesa, cujo seu proprietário ( como qualquer outro idioma) é tão- somente o seu usuário, foi, durante muito tempo, maltratada e o resultado do testemunho que as gerações mais idosas deveriam ter passado às gerações mais jovens, está à vista.
Temeu-se pela glotofagia da Língua Portuguesa mas não se criaram estratégias para a promoção e difusão das línguas africanas de Angola, que, numa relação de horizontalidade, pudessem cooperar com a língua o icial, para se estabelecessem políticas linguísticas mixoglóticas, com ocorre, por exemplo, na Namíbia e na África do Sul. Não chegámos ao bilinguismo e mantemo-nos na diglossia.
As gerações mais escolarizadas, as menos idosas, deixaram de ter a necessária proficiência em qualquer um dos idiomas e, por desconhecimento ou mero modismo, continuaram a descuidar o uso correcto da Língua Portuguesa, como se a ela fossem idiossincraticamente alheios, para se refugiarem na brejeira linguagem das gírias e dos disparates; ou melhor dizendo, no desleixado nível do discurso de rua.
Hoje, no meio de toda uma desconstrução normativa que se instalou no nosso país, à qual se a associaram a linguagem das telenovelas, os falsos erros assinados no computador ( incluindo os de concordância) que, através de uma qualquer actualização informática, traiçoeiramente nos introduziu nas regras do Acordo Ortográfico de 1990, perdeu- se o norte e instalou-se a crise do saber falar e do saber escrever correctamente português, a nível oficial e do falar e escrever português com alguma erudição em Angola.
Não haverá, de modo algum, qualidade das aprendizagens, visando o desenvolvimento, se não houver, por todos nós, o uso correcto da língua o icial e de escolaridade; i.e., saber ler, saber falar, saber ouvir, saber compreender bem o que se lê e o que se ouve, evitando-se assim deturpações (algumas, por vezes, imbuídas de má-fé) na comunicação escrita e falada. Daí que felicite o Banco Comercial do Huambo pelo seu alto patrocínio à edição do “Língua Portuguesa; Tira-dúvidas de A a Z”, bem com às autoras desta importante ferramenta pelo trabalho produzido, a ser evidentemente utilizada por toda a sociedade minimamente letrada e, em particular, pelos professores e estudantes de todos os níveis de ensino.