EYO´NLE BRASS BAND NO PALÁCIO DE FERRO ÁFRICA NUM SOPRO DE TROMPETE
Naquele sábado, 18 de Junho, a Fundação Sindika Dokolo e a Alliance Française de Luanda conseguiram darnos uma ideia de uma Luanda africana, sob o som alegre da Eyo´nle Brass Band. Oriunda do Benim, esta orquestra traz no seu repertório uma mão cheia de ritmos que comungam com os variados estilos em voga da musicalidade africana. Do que nos falam de si, focam a sua estrutura melódica mais no blues de patente nigeriana, afrobeat yoruba, high life ganense, músicas baseadas em rituais tradicionais do Benim (vudu). O termo Eyo´nle Brass Band provêm do yoruba e signi ica "alegremo-nos". Constituída por mais de meia dúzia de instrumentistas, está em digressão pelo mundo, numa jornada comemorativa dos seus 20 anos de existência e apresentação do seu mais recente álbum que saiu em 2015, Empreinte du Père (Pegadas do Pai). Este álbum conta já com 70 participa- ções em shows e mais de 60 actuações, sendo a marca que veio cimentar uma banda negra que reside em França mas que se alarga para todo o mundo levando as raízes de África.
A circulação em Luanda de Empreinte du Père começa dias antes do show, permitindo aos amantes atentos a degustarem uma musicalidade que marcou pela modernidade como é construída, constituindo um mosaico dos grandes e isolados momentos e nomes da música africana destas últimas cinco décadas.
Fora o vestuário, sempre feito de tecidos de pano africano, a postura em palco, nada alienada, convidando vigorosamente os presentes a toques de dança que convergiu o público luandense e beninense que não resistiram e foram ver e ouvir a banda, congoleses que se reviram na sonoridade e na língua e que podem muito bem se identi icar no ritmo, bastando tomar atenção no registo Caiman, que no segundo momento traz uma batida dançante ao estilo congolês. Também se juntaram à festa amigos do Oeste de África que esta Luanda metropolitana acolhe, ou a África inglesa que não pode reclamar-se ausente, porque a banda traz em alguns temas marcas fortes de um afrobeat que comunga com as sonori- dades da África do Sul e da Nigéria. Ou seja, se encontramos a iníssima melodia de Hug Masekela ou Dibango, também encontramos indelével a arrepiante soprada melódica de Fela, bem patente no registo Assevi, que obriga a seguir veloz as mudanças bruscas que acontecem no ritmo mas sem nunca perder a harmonia, como bem o fazia ao sintetizar toda ebulição africana num sopro de trompete, estilo que justi icava como re lexo da evolução de uma aceleração precipitada das capitais africanas. Mas também, como é bem o caso da música África Nigth, uma lagrante intenção musical construída bem à maneira de Salif Keita, principalmente no seu registo África, que num grito sonoro evoca com toda intensidade o continente. No seu lado espiritual, trazem de modo lento e dolente a música Oklounon, fazendo ligação com o estilo cerimonial e grave como a orquestra africana Ladysmith Black Mambazo encanta o mundo. O registo Yéye Wé, sagaz e hipnótico, é de fácil absorção pelos sentidos e mais recaído ao soul music, trazendo no tecido sonoro mais das plásticas e misturas da nova geração, um pouco feito à maneira de Rockia Traoré, Rock Dawni, Ndaka Yo Wini, Asa, Y´akoto...