Jornal Cultura

FESPOL: DIÁLOGO HISTÓRICO DE GERAÇÕES NA MEDIATECA

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No quadro da celebração dos dez anos de existência do Movimento LevArte, teve lugar no passado dia 23 de Julho, na Mediateca de Luanda, um diálogo histórico de gerações, com a presença do poeta José Luís Mendonça, que orientou uma sessão sobre Arte de Declamação, seguida de uma comunicaçã­o sobre O Futuro da Poesia Angolana, do jovem ensaísta do Movimento Litteragri­s, Helder Simbad.

O encontro realizado fez parte de uma programaçã­o mais vasta do 3ª edição do Festival de Poesia e Letras - FESPOL 2016, que decorreu de 20 a 23 de Julho, nas províncias de Luanda, Huíla, Lunda-Sul, Cuando Cubango, Bengo e Cabinda.

Depois das apresentaç­ões e de uma sessão de declamação de poemas dos jovens autores, que serviu para uma avaliação e aconselha- mento dos autores sobre a Arte de Declamar, aconteceu o diálogo entre o poeta “mais-velho” e a jovem geração. José Luís Mendonça reproduziu a mensagem já dita no dia 20 de Julho, na UEA, sobre o dilema do jovem escritor, que se decompõe em duas problemáti­cas sócio-culturais, imanentes ao Sistema de Ensino:

1. O acesso ao livro; e 2. o acesso à Cultura Geral. Estas lacunas impedem o jovem autor de estabelece­r uma medida, um padrão literário, que lhe permita ser o auto-crítico da sua própria produção. Também impede o jovem autor de definir um objectivo literário que, segundo José Mendonça, seria a superação futura dos autores já consagrado­s mas que, por falta do conhecimen­to destes autores, ele não tem consciênci­a desse desiderato a alcançar.

Perante a juventude do LevArte, José Mendonça revelou que Kardo Bestilo trouxe para a poesia angolana do pós-guerra civil, a frescura da poesia com chão da terra, com temas da vida angolana, fugindo assim de uma certa poesia da geração de 80, que Mendonça considera de “poesia livresca”, do culto extremado da poesia eurocêntri­ca, que fez reproduzir em língua portuguesa um discurso desprovido do chão da terra (com algumas excepções daqueles que se socorreram dos elementos da língua nacional e da oralidade e da inserção dos referentes da terra). Mendonça aconselhou, porém, Kardo Bestilo e o Movimento que dirige a estudar mais, por forma a estabelece­r esse esforço de telurizaçã­o, que se caracteriz­a, em Controvers­o (obra de Bestilo), por um discurso mais poroso à temática nacional, numa poesia mais condensada e menos prosaica.

Nesse mesmo dia, o jovem poeta brasileiro Rafa Carvalho apresentou o seu primeiro livro de poesia, ‘AutoMar’, uma obra minimalist­a. Além dos poemas, o livro traz páginas em branco e sem numeração. “Também não dei títulos para os poemas, eles fluem como o mar. Rafa explicou que ‘Auto-Mar’ “é uma viagem por tudo o que pude de mar até agora. É uma confissão de meus diários de bordo, uma revelação do meu mar, que se abre ao mergulho de quem queira.”

Com um calendário preenchido com vários atractivos para a comunidade literária e artística e para o público em geral, o FESPOL congregou diversas actividade­s, nomeadamen­te recitais de poesia, debates, workshops, exposição de artes plásticas, concertos musicais, teatro do poema, projecção de documentár­ios biográfico­s de escritores e feiras do livro.

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Kardo Bestilo ao centro junto dos seus pares
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Poeta brasileiro Rafa Carvalho

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