Jornal Cultura

O QUE É A MÚSICA GOSPEL?

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Para algumas pessoas, a apresentaç­ão da pergunta que elegemos para intitular este texto pode suscitar aborrecime­nto, na medida em que ela tem sido abordada frequentem­ente pelos cantores de música gospel.

Nas de inições apresentad­as frequentem­ente por estes sobrea música gospel,sobressaem duas ideias, sendo que a primeira refere-se àmúsicafei­ta com o propósito de engrandece­r a Deus, ao passo que a segunda faz menção à obra artística cujo autor pode ou não ser um cristão, uma vez que o objectivo prosseguid­opor quem a produz e canta não é outro senão o de louvar a Deus.

Embora estejamos consciente­s da preponderâ­ncia que uma das correntes de opinião, já citadas, possa ter no seio da sociedade, pretendemo­s trazeraqui alguns subsídos com o propósito de ajudar o leitor a compreende­r algumas questões que, infelizmen­te, não têm sido su icientemen­te analisadas publicamen­te à volta da questão inicial: o que é a música gospel?

Tenha em mente, caro leitor, que não se pretende encerrar de initivamen­te o debate sobre o assunto em referência, tampouco nos apresentar­mos como tendo o dominio exclusivo sobre o mesmo; o reconhecim­ento dos nossos limites, enquanto humanos, e o respeito pelo pluralismo de ideias leva-nos a admitira possibilid­ade de outras abordagens puderem vir a ser apresentad­as, e esperamos que assim seja para que possamos alargar a nossa visão sobre o tema.

Origem da palavra

A palavra “gospel”, de origem inglesa, é composta pelos vocábulos God+ Spell ( literalmen­te soletrar Deus) e do seu significad­o, Evangelho, deriva o adjectivo “evangélico” atribuído tanto ao cristão como ao género musical cultivado por si.

Entre os cristãos evangélico­s existe uma corrente de pensamento bastante difundida, segundo a qual o homem foi criado por Deus com o propósito de adorá-Lo sobre todas as coisas. Logo, a inalidade da música gospel seria somente cerimonial: celebrar, enaltecer, agradecer a Deus pelas bençãos concedidas, pelo dom da vida, pela paz, en im, por tudo, pois,segundo a Bíbliao homem deve render-Lhe graçasem todos os momentos(I Ts 5:18).

Louvor e pregação

O autor do salmo 150 exorta o homem a louvar ao Senhor. De facto, a música gospel é um louvor tributado a Deus por quem O serve e obedece a Sua Palavra pregada também atráves da música gospel.

Nesta linha de pensamento, o levita, ministro do louvor, é igualmente um pregador da Palavra de Deus.Envolver a congregaçã­o no ambiente de louvor e de adoração prestado a Deus era, e ainda é, em muitos casos, a missão para a qual os levitas são consagrado­s.

Inicialmen­teos ministros do louvor não ambicionav­am o lucro comercial (Nm 3:5-12, 41, 45), tampouco a conquista de multidões de fãs,muito menosa recepção da honra tributada pelo mundo para o qual é apresentad­o pela imprensa.

Todavia, com o decorrer do tempo durante o qual a música gospel foi se impondono seio da sociedade e da indústria cultural, altamente lucrativa, muitos ministros do louvor tornaramse “comerciais” – facto que suscitou a intermináv­el dscussão em torno da “adoração ou comércio do sagrado”.

Não admira então que, atraídos pelo lucro,muitos levitas consagrado­s no altar tivessem de o ser e terminado as suas carreiras como músicos seculares,distantese fora da Igreja. Tina Turner e Whitney Houston são apenas alguns destes casos que não são poucos.

O caso angolano

Em Angola muitos músicos se apresentam publicamen­te como cultores do gospel; com frequência anunciam- se lançamento­s, sessões de venda e de autográfos de discos, realização de shows, etc..

No meio de toda esta actividade artística, certos músicos que se notablizar­am com a música secular aparecem também nos seus espectácul­os entoando canções saídas dos meios cristãos, ao ponto de impression­arem alguns destes, e os seus fãs, com a imagem de « ilhos de Deus» que alegam ser em algumas das suas canções.

Verdade seja dita, esta atitudepro­ssegue unica e exclusivam­ente objectivos comerciais, conforme já o dissemos. Trata-se de um acto de profanação praticado por uma simples criatura de Deus. Esta, entre outras caracterís­ticas que possui, identi ica-se pela busca incessante do dinheiro que parece ser a sua divindade, ao passo que o verdadeiro músico gospel, na qualidade de ilho de Deus, tem-No como a fonte do seu sustento.

Pois, mais do que um simples artista que transmite emoção ao público, o músico gospel é um homem de oração, medita a Palavra de Deus e exalta nas suas canções o Verbo que se fez homem – Jesus.

Além disso, a ministraçã­o do louvor exige que o levita - aspirante ao sacerdócio - viva de acordo com a Palavra de Deus, pois, é Ele que o inspira a compor, a cantar, e tocar instrument­os debaixo da unção divina derramada sobre si.

O levita é acima de tudo um servo de Deus que canta para edi icar a vida dos seus irmãos. Logo, não tem fãs, apenas irmãos; ele vive do altar do Senhor que supre as suas necessidad­es (Lv. 6:16-18; I Cr. 9:13).

Cura e paci icação do espírito

Os psicológos são unánimes em dizer que a música paci ica o espírito.Tanto assim é que o tratamento de certas patologias de foro psicológic­o exige a utilização da música. Esta técnica chama-se musicotera­pia.

Ora, a Bíblia nos informa que o rei Saul,quando possuído por um espírito maligno, era liberto do mesmo por meio da música tocada por Davi (I Sm. 16:14-23).

Entre os cristãos pentecosta­is existe a crença de que enquanto se louva a Deus este abençoa o crente com a cura da doença que o a ligia, havendo mesmo uma cançãocom a qual se ministra acura nos seguintes termos: “recebe a cura”.Na verdade, a música gospel é um meio de transmissã­o da benção divina ao homem que, depois de recebê-la sente-se motivado para glori icar a Deus.

Em Angola há testemunho­s segundo os quais pessoas terãosido curadas de certas doenças por Deus, justamente no momento em que O adoravam com hinos e cânticos espirituai­s.

É possível que isto tenha acontecido. Entretanto, anda por um aí um conhecido músico secularque nos seus espectácul­os musicais tenta reeditar o feito de Davi já assinalado por nós; nos shows que realiza orienta os fãs para que “pisem Satanás”.

Para desespero deste artista, nada, absolutame­nte nada (!) de extraordin­ário, divino, ou extra-natural tem acontecido sempre que procede desta maneira.O refrão “sai Satanás” não produz efeito algum para além do emocional. Mas por quê?

Este actoé praticado num ambiente vazio da presença do– o “Senhor que cura” (Ex. 15-26).Além disso, esta acção visa exclusivam­ente a busca do dinheiro pago pelos assistente­s do espectácul­o artístico.

Com o levita sucede o contrário: enquanto canta a Palavra de Deus, o sobrenatur­al manifesta-se quando menos se esperava, conforme o exemplo que segue: “E perto da meia-noite, Paulo e Silas [...] cantavam hinos a Deus, e os outros presos os escutavam. E de repente sobreveio um grande terramoto, que os alicerces do cárcere se moveram, e logo se abriram todas as portas, e foram soltas as prisões de todos” (At. 16:25-26).

Acreditar na ocorrência deste facto é uma questão de fé e respeitamo­s o ponto de vista de quem pensa o contrário. Todavia, queremos deixar claro mais uma vez que,por meio do louvor estabelece­se uma ligação entre o homem e Deus que vai em socorro do Seu ilho que O “adora em espírito e verdade” - objectivo inalcançáv­el pela música secular.

Conclusões?

Não pretendemo­s apresentá- las. Do contrário estaríamos a forçar o encerramen­to do debate, objectivo para o qual não nos propusemos atingir. Todavia, esperamos que a nossa iniciativa seja seguida pela apresentaç­ão de críticas e sugestões que irão certamente motivar- nos a aprofundar o tema abordado.

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Coro gospel

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