“O MUSEU DE ARTE MODERNA ANGOLANA CONTINUA A SER UM SONHO”
Feitas as contas, desde a sua criação aos 8 de Outubro de 1976, a União Nacional dos Artistas Plásticos (UNAP) celebrou no início deste mês os seus 39 anos de existência. Enquanto “única instituição com autoridade moral para representar a classe das artes plásticas angolanas, ela assume-se como utensílio para resolver os egoísmos entre os pro issionais”, assim se de ine na nota de imprensa que fez circular. Para saudar a data, a sua direcção e convidados procederam, no dia 7 de Outubro de 2016, à reabertura da Galeria de Maio, acto prestigiado pela presença de entidades do governo afectas à Comissão Administrativa da Cidade de Luanda. Salienta a nota que a reabertura da Galeria de Maio exprime a atitude da actual direcção da UNAP na diversi icação da economia, face à crise económica. No que toca ao seu objecto de trabalho, abriu portas ao público para a exposição inaugural, que, como descreve, não especi ica uma temática, nem observa restrições para seleccionar estritamente as propostas estéticas de uma galeria que se preze, tratando-se de uma montra aberta, quer em estilos, quer em técnicas, que acolhe em primeira instância todo o pro issional, mas restringindo-se ao pro issionalismo e à qualidade. A exposição conta com nomes conhecidos como Tozé, Sam Mateus, Van, Tomás Vista, Matondo Alberto, Ely Kabudi, Tena, Dudu e Etona, este último actual secretário-geral da UNAP.
Jornal CULTURA - 39 anos da UNAP. Estão sendo cumpridos os pressupostos que motivaram a sua criação?
António Tomás Ana “Etona”
- Sim, estão sendo cumpridos. Infelizmente, não com a plausibilidade que desejamos, mas a luta diária da nossa direcção é esta: fazer com que a nossa associação cumpra com o seu objecto social.
JC - Já temos artistas que vivem da arte que fazem? Ou continua a ser uma paixão sustentada por outros serviços a que o artista deve sujeitar-se para poder sobreviver?
Etona-
Temos poucos. É um número ín imo que tende a crescer, mas nesta altura de forma desacelerada, tendo em conta o momento económico crítico em que nos encontramos. Porém, o mercado tem se mostrado cada vez mais receptivo à arte. Os consumidores, bem como a população em geral, têm maior apreciação e interesse em saber mais sobre as artes plásticas a nível nacional na sua diversidade, e isto culmina no consumo maior delas, e, naturalmente, os bene iciários directos são os produtores dessa arte, ou seja os artistas.
JC - Os bancos comerciais têm marcado presença, como patrocinadores, em exposições. Essa relação tem sido justa para os artistas?
Etona-
O apoio dos bancos comerciais às exposições, é uma acção louvável que gostaríamos de ver ampliada, pois existem artistas talentosos e dedicados cujos trabalhos não são divulgados devido a varias di iculdades, no que diz respeito à produção ou realização de eventos dessa natureza.
JC - Que mecenas podem ser apontados como seguros?
Etona
- Acredito que todos os mecenas possam falar por si individualmente, porém no que diz respeito à nossa área (artes plásticas) até ao momento não sentimos o impacto da estabelecida Lei do Mecenato. Portanto, ainda não podemos falar em segurança nesse sentido.
JC - Enquanto secretário-geral, como avalia a evolução deste órgão importante nos últimos dez anos?
Etona-
Tem sido uma evolução oscilatória, pois já passou períodos de dinamismo e estáticos, como também períodos até de evolução galopante. De qualquer forma, a nossa preocupação é sempre fazer com que o mínimo de evolução alcançada gere bene ícios aos nossos membros.
JC - A UNAP já se pode gabar de ter uma sede à altura da sua importância?
Etona
- Obviamente que não. O estado do nosso edi ício sede está muito aquém do desejado projecto da direccção e dos membros da nossa associação. Esforços têm sido desencadeados, mas ainda há muito para se fazer.
JC - Recentemente o Instituto Camões promoveu um encontro com um restaurador de arte. Como estamos neste capítulo, concernente à restauração de obras do espólio nacional?
Etona-
É uma disciplina em que precisamos investir e nos dedicar, pois existem poucos ou quase nenhum especialista nesta área. Visando a preservação do nosso historial artístico, naturalmente há necessidade de se velar por isto.
JC - Fala-se muito da internacionalização da cultura, com enfase para a música e a literatura. A UNAP tem uma política esclarecida para dar sustento a esse desa io? Etona-
Sim, a intenção é elevar a cultura angolana a todos os níveis, e naturalmente as artes plásticas não podem ser excluídas. Portanto, além de projectos a nível nacional, temos realizado projectos internacionais, alguns deles em parceria com instituições similares.
JC - Quais os grandes empecilhos da UNAP de hoje, um pouco a re lectir-se com a crise inanceira?
Etona
- A UNAP é uma organização sem ins lucrativos, declarada como Instituição de Utilidade Pública no Diário da República I Série nº109 de 15 de Junho de 2009. Com características associativas, nesta fase de crise são vários os empecilhos, mas muito nos inquieta o compromisso que temos com o quadro administrativo-pro issional, trabalhadores, e o público em geral, para sobrevivência da nossa associação.
JC – Para quando o sonho de um Museu de Arte Moderna Angolana?
Etona
- Mediante as di iculdades que enfrenta a UNAP, bem como as prioridades e especialmente face à dimensão desejada para aquele que seria o Museu de Arte (Moderna) Angolana, este continua a ser um sonho.