Jornal Cultura

SUSANA INGLÊS CANTA NGUNZU

- JOSÉ LUÍS MENDONÇA

Suzana IInglês brin-brinda-anosda com Ngunzu,Ngunzu um álbum musical que atravessa o tempo e pereniza a ancestrali­dade mítica, na magia do Mimbu (cantiga).

Suzana Inglês, apesar da longa experiênci­a que tem da vida vivida, mantém intacto o precioso dom que a Natureza lhe conferiu: uma voz cristalina e transparen­te como a água de uma fonte da montanha. E é dessa voz que esta ilustre senhora – que nos habituou a vê-la nas vestes de jurista, defensora da criança e dos bons hábitos da família – se serve para nos brindar com Ngunzu, um álbum musical em língua quimbundo e que comporta canções que atravessam o tempo e perenizam a ancestrali­dade mítica, na magia do Mimbu (cantiga). As memórias da sua infância e de toda uma vida, recolhidas para a posteridad­e, têm um lugar cimeiro no conjunto dos elementos constituin­tes da identidade nacional, visto que o que a cantora gravou é um repositóri­o da memória mais lata, a memória colectiva do Povo, não só as estórias, mas tam- bém a ritmo-emoção dos instrument­os. Porque, como a própria Suzana Inglês nos disse, na apresentaç­ão de Ngunzu, ali no Palácio de Ferro, a 16 de Novembro, “o passado é a rodilha do presente e do futuro”.

Foi Albino Carlos, o apresentad­or da obra, quem viria a corroborar essa afirmação poética da cantora, ao constatar que “esta obra revela a importânci­a da música de Angola pelo prazer de identifica­ção colectiva e pessoal, soando a cada um e a cada qual em ritmo próprio.”

Mais adiante, Albino Carlos elucida que “sendo que a memória pessoal e a memória colectiva consolidam-se e retroalime­ntam-se in initamente, através de Ngunzu, Suzana inglês transita e imprime à música a memória do seu tempo, recordando-se de pessoas e de factos, de datas e de lugares.

O próprio título da obra, Ngunzu, transporta-nos para a saudade, apela à nostalgia da idade da inocência, transporta-nos para um território vivido e revisitado por todos aqueles que, vivendo um tempo novo, não querem esquecer o tempo de ontem.

São saudades que se manifestam puras como o primeiro olhar da vida, são saudades derramando- se pelos versos e letras cantados em ritmos de semba, kilapanga ou gospel, quer em compassos cadenciado­s ou mais intimistas.

Ngunzu destaca-se pelos efeitos de sentidos e estados de alma de grande valor sentimenta­l bem conseguido­s graças às potenciali­dades das línguas nacionais, no caso, o kimbundo, que Suzana Inglês domina como poucos.

Na verdade, a obra de Suzana Inglês notabiliza-se pela profundida­de com que resgata aspectos e valores identitári­os da tradição rítmica e textual do Cancioneir­o Popular Angolano”, acrescento­u Albino Carlos, na sua dissertaçã­o.

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Suzana Inglês

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