Jornal Cultura

POEMA DE ADRIANO BOTELHO DE VASCONCELO­S

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9.1 Um cabelo longo com o resto de túmulo aberto numa rua principal da cidade. O Tiba abriria em cada uma das letras dos poemas a sua aurora com tintas há muito a inadas no número de portas que não se abriram. O sol na taça partida pela lebre agora sobe o umbral da janela onde a ninfa está perto do meu poema, descalça e pronta para pedir uma lua mais aberta que resgatasse o último namorado que com a cintura tirou um quarto de hotel que sem lâmpadas caiu do último andar da noite : os polícias vieram à paisana, pretendiam escrever o melhor romance de um crime que não podiam testemunha­r. Uma noite por este postigo não faz o crime. Chamem um carcereiro cubano distante da sua terra natal para dizer se uma utopia tirada de um contentor pode salvar um país quando Fidel está acordado sobre o sono que Lenine prefere passear com duas algemas. 10. O soba fechou o estádio com todos os teus troféus que foram recolhidos pelos mesmos três ourives que os jogaram para dentro do WC onde puderam desfazer os seus brilhos. Faço contas do teu ódio através das antiguidad­es dos teus terços. Todos os gafanhotos que desceram com o céu preso em suas asas conheceram a tua lavra. 10.1 Fomos para o tapete onde por descuido deixei uma guarda aberta, não me tinha protegido com cotovelos e ombros e uma forte razão para não cair no primeiro assalto. As estrelas que são arrancadas do chão são anéis da dor mais ina. Tentaste desferir mais um golpe quando duas mães corriam para o ringue para fazerem de mim o último dos seus ilhos. O árbitro icou impávido, tinha medo de erguer as regras e já contava a minha desistênci­a quando a primeira mãe me disse que corresse pela calçada onde Deus andou descalço. O soba desceu do camarote forrado com tapetes vermelhos, parou onde estava o sino, tocou-o com importânci­a e já diante de ti ordenou que levasses os murros para lá do tapete manchado de sangue. O árbitro pediu licença para arrancar uma folha do livro que os advogados deixaram numa estante próxima do apóstolo que inventou o cálice para as vitórias. Parece até que os teus punhos tinham uma dívida antiga que querias saldar através do meu desfalecim­ento, podias sempre escolher uma carpideira sem salários. O público escolheu: já podia olhar através da praça onde os heróis são cuidados com palavras que precisam de ser repetidas. Olhaste para o soba e ele não te pediu que usasses os joelhos para que pudesses voltar a dirigir uma guerra. Ficaste zangado porque não tinhas como arrancar o tapete do último assalto e colocá-lo no coração do País depois de todos só poderem usar três palavras para todas as necessidad­es do coração. (...) in Olímias, 2005

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