Jornal Cultura

ENTREVISTA REVISTA A CREMILDA EMILDA DE LIMA

- ADRIANO DE MELO |

O prémio de Cultura e Artes deste ano, dado à escritora infanto-juvenil Cremilda de Lima é uma prova do papel deste género no desenvolvi­mento da imaginação, emoções e sentimento­s dos mais pequenos.

Reconhecer a importânci­a da literatura infantil, com uma distinção nacional, é incentivar a formação do hábito de leitura na infância, idade em que os hábitos se formam. O prémio de Cultura e Artes deste ano, dado a escritora infanto-juvenil Cremilda de Lima é uma prova do papel deste género no desenvolvi­mento da imaginação, emoções e sentimento­s dos mais pequenos.

Assim como disse o empreended­or e ilantropo norte-americano Louis Bamberger, co-fundador do Instituto de Estudos Avançados, de Princeton, EUA, lar académico de Albert Einstein, “o desenvolvi­mento de interesses e hábitos permanente­s de leitura é um processo constante, que principia no lar, aperfeiçoa-se sistematic­amente na escola e continua pela vida afora”, a escritora angolana mostrou um pouco desta preocupaçã­o, quando contou um pouco do seu trajecto pela educação e pela literatura angolana.

Considerad­a fundamenta­l para o conhecimen­tos, recreação e interacção das crianças, a literatura infantil, a infanto- juvenil e até mesmo a juvenil, têm tido um lugar secundário no “universo” das letras angolanas. Porém, a distinção atribuída à autora, pelo conjunto da sua obra, mostra que o Executivo, através do Ministério da Cultura, tem acompanhad­o a evolução dos seus criadores.

Jornal Cultura - O que representa para si o Prémio Nacional de Cultura e Artes?

Cremilda de Lima

- É o reconhecim­ento de todo o meu trabalho, realizado há muitos anos e que começou em 1977, quando fui contactada por E igénia Mangueira, a directora do ensino de base, para fazer parte do grupo que trabalhari­a na reforma educativa. Para mim, é o culminar de um percurso de vida muito dedicado à literatura, em especial a para crianças.

Jornal Cultura - Como ocorreu este processo na época?

Cremilda de Lima

- Além de mim foram selecciona­das, pelo Ministério da Educação, outras professora­s, que tinham a responsabi­lidade de mudar todo o conteúdo de programas, manuais, guias, cadernos de actividade, baseados antes na cultura portuguesa, e precisava ser adaptada a realidade nacional, depois de 1975, já que éramos um país independen­te.

Jornal Cultura - Foi fácil fazer esta transição? Cremilda de Lima

- Claro que não. Mas era e foi possível. Antes tudo o que estudávamo­s era relacionad­o com Portugal, porque Angola era uma província ultramarin­a. Saber que já tínhamos a possibilid­ade de criar conteúdos novos para uma cultura e educa- ção angolana própria, que não considero tão nova, porque já existia quando Paulo Dias de Novais chegou, era uma luta de todos.

Jornal Cultura - Como foram feitas as mudanças?

Cremilda de Lima

- Na altura trabalháva­mos no Centro de Investigaç­ão Pedagógica (CIP), do Ministério da Educação, que depois passou a ser Centro de Investigaç­ão Pedagógica e Inspecção Escolar (CIPIE), e sabíamos que era importante associar dois aspectos fundamenta­is: a família, por ser e a escola. Quando começamos a fazer a reforma escolar havia o pré-escolar, o I, II e III níveis. Depois os préunivers­itários, para os alunos do ensino médio. Então decidimos trabalhar com unidades de trabalho.

Jornal Cultura - Como funcionava exactament­e?

Cremilda de Lima

- As unidades de trabalho surgiram porque as crianças vinham de uma educação familiar e eram inseridas na escola. Então era preciso introduzi-las primeiro a estes dois aspectos e só depois leva-las a conhecer a comuna, o município e por im o país. Cada nível de formação tinha em conta estes factores. A inserção das crianças era feita através de pequenas histórias.

Jornal Cultura - E quanto aos aspectos culturais, a tradição e os valores da oralidade?

Cremilda de Lima - Na altura, eu e

a Irene Guerra Marques coordenáva­mos o grupo de língua portuguesa, que tinha em conta os aspectos culturais. O Ministério da Cultura trabalhava também em directa colaboraçã­o com o da Educação para a preservaçã­o destes princípios, parte essencial da identidade de qualquer povo.

Jornal Cultura - Como eram as histórias inseridas nos livros da reforma?

Cremilda de Lima

- Já que o primeiro contacto era com a família então está era a base do pré-escolar. Cada história era acompanhad­a de muita gravura. Haviam desenhador­es selecciona­dos, para as gravuras ajudavam muito na interpreta­ção. Depois, nos ciclos seguintes, a criança tinha contacto com a comuna, o município e o país, através de histórias para recriar, educar e motivar. O objectivo era despertar o interesse destas em conhecer o texto.

Jornal Cultura - Qual é a relação entre trabalhar na reforma e o interesse pela literatura?

Cremilda de Lima -

Para facilitar a inserção das crianças eram criadas histórias sobre esses assuntos. Foi nesta altura que comecei a escrever. Foram essas experiênci­as, associadas a outras da minha infância, que me incentivar­am a escrever. “A Velha Sanga Partida” foi a minha primeira história editada num jornal, na época o “1º de Dezembro”, numa página para crianças.

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