AS QUATRO PARTES DO FILME
rente, seria o fator principal de qualquer obra de ficção.
No entanto, simples envoltório, apenas representa, como no símile natural, elemento que compõe o ilme, independentemente da casca e até da película, solidi icando e mantendo a polpa agregada.
A casca, não obstante sua função, pode estar solta e ser até extraída ou retirada que o fruto permanece uni icado, íntegro.
Já, a precariedade da membrana ou película acarreta automática atrofia do núcleo.
Quer isso dizer que tanto a competência e a técnica quanto a ação e os fatos, por melhores sejam, ainda não con iguram a obra ou ilme, mas, suas partes externas, com funções especí icas e relativa importância.
O que se deve considerar, segundo Hegel, não é a estória, mas, o aqui denominado núcleo (concepção e expressão), ou seja, seu sentido, signi icado e elaboração formal, sintetizando continente e conteúdo internos.
O que distingue filme comercial de filme de arte é apenas sua quarta parte. As demais, por alheias ao específico artístico, não têm o condão de diferençar, qualificar ou desqualificar a realização, atribuindo- lhe essa ou aquela categoria.
Em consequência, pode- se ter filme competente e seguramente dirigido, tecnicamente perfeito, contando com entrecho repleto de peripécias, intrigas, ação, lances dramáticos ou fulminantes, hábil e coerentemente narrados, trançados ou entrançados, mas que não seja arte, não atingindo o grau, o nível e as condições próprias, necessárias e indispensáveis a essa condição.
Ou seja, seu conteúdo é vazio de sentido, de verdade humana e carente de
sutileza, perspicácia e tratamento so isticado. Ao contrário, pois, da percepção corrente, na hipótese quatripartite considerada, o núcleo perfaz todo o complexo autoral e unitário que engloba desde o entendimento do mundo até a maneira (ou forma) de conduzir o drama humano enfocado e de utilizar a linguagem cinematográ ica.
Constitui, pois, concepção unitária e ao mesmo tempo abrangente do que seja (ou deva ser entendido) como núcleo ou cerne de qualquer obra iccional, independentemente da arte em que se manifeste, seja literatura (que inclui o texto teatral), seja cinema.
Esse entendimento do fenômeno ou prática iccional faculta sua compreensão, análise e avaliação, classi icando-o ou desclassi icando-o sob o ponto de vista artístico.
Mesmo que se não o faça de imediato, consciente e e icazmente (por meio da crítica), o passar dos seres humanos pelo tempo encarrega-se de separar uns e outros ou uns dos outros, relegando ao oblívio os que não atingiram o status artístico, condenando-os ao desaparecimento.
(do livro inédito Ficção e Cinema) ___