Jornal Cultura

MISTURADO BALAIO DE EMOTIVOS MENINOS E VENDEDORAS DE ZUNGA

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Carrego o Mundo quase todo e suas quezílias à cabeça e dentro dela Há sagas diárias e nocturnas e meias tragédias ainda em meus balaios O chão é para mim uma autêntica corda bamba onde tento equilibrar a vida Os meus estão-me em todo o lado no cérebro a cada passada e choram de fome Alturas há em que me movo com a destreza de uma gazela ou de uma palanca Faça ou não coração das tripas tenho mesmo que vender a alma ao diabo Fujo que me farto e perco o rumo e a mercadoria em vis mãos alheias A duríssima batalha diária faz de mim a esperança de cada quotidiano Ainda assim enquanto corro olho as estrelas solicitand­o pela ajuda destas Unicamente oiço os meus passos e os dos que me perseguem impiedosam­ente Apesar de tal jogo-me persistent­emente contra a corrente dos acontecime­ntos Desligo-me tantas vezes da realidade como se a pairar sobre o tudo e o nada Chego a duvidar que esta realidade é a verdadeira e convenço-me de estar a sonhar Acordo assiduamen­te em sobressalt­o agarrado a mim mesmo e livro-me do pesadelo Chupo cola misturada com cheiro volátil e pesado de gasolina e rodopio sem dó Nem a piedade mais quer saber mim ou eu dela nem um bocadinho de nada Passamos o tempo a jogar às escondidas ou à apanhada ou a qualquer jogatana Atiro para o charco da chuva que me molha por dentro e por fora o destino Frequentem­ente corro as ruas tonto que nem um abandonado pela sorte Todos têm caras disfarçada­s de meus hipotético­s pais e mães e nenhum deles o é Arranco-lhes as mascaras feitas em série e com elas debaixo de braço desando Chamam-me de miúdo de rua e já me chamaram zungueira que vende tudo Já e talvez nem nunca tenha sabido bem quem sou ou para onde irei Procuro por um buraco qualquer perdido ao virar da esquina onde me en iar Portas e travessas fecham-se-me e bloqueiam-me a toda a hora as ilusões Nada tenho ou terei e nem mesmo meros sorrisos me serão próprios jamais Choco com os pés e mãos que me tentam agarrar e esbofetear por vezes Quiçá sou um extraterre­stre de muitas e multifacet­adas e divididas emoções…

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