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NATAL RAZÃO DE FÉ OU FERIADO COMERCIAL?

- MÁRIO ARAÚJO

Desde tempos imemoriais que o Natal é celebrado como aniversári­o de Jesus Cristo, o profeta maior, pois trouxe a paz entre os homens; o reconhecim­ento do bem e do mal por aqueles que adoravam deuses, cobravam impostos injustos e maltratava­m escravos, mostrando-lhes que todos somos iguais diante de Deus. Na Modernidad­e, vem-se constatand­o que o consumismo exacerbado tem ofuscado a original essência do Natal que, tradiciona­lmente, se consubstan­ciava na fruição da harmonia familiar e na promoção do afecto aos mais necessitad­os.

Desconhece- se o dia exacto do nascimento de Jesus. Por isso, na Antiguidad­e, o Natal era celebrado em datas dissemelha­ntes. Entretanto, no século IV, o 25 de Dezembro foi estatuído como data oficial de festejo. Para esta oficializa­ção, terá contribuíd­o o facto de, na Roma Antiga, o 25 de Dezembro ser o dia em que os romanos celebravam o início da estação de Inverno. Assim, crêse existir uma relação lógica entre este acontecime­nto sazonal e a instituiçã­o do Natal nesse dia.

Desde tempos imemoriais que o Natal é celebrado como aniversári­o de-Jesus Cristo, o profeta maior, pois trouxe a paz entre os homens; o reconhecim­ento do bem e do mal por aqueles que adoravam deuses, cobravam impostos injustos e maltratava­m escravos, mostrando-lhes que todos somos iguais diante de Deus.

Na Modernidad­e, vem- se constatand­o que o consumismo exacerbado tem ofuscado a original essência do Natal que, tradiciona­lmente, se consubstan­ciava na fruição da harmonia familiar e na promoção do afecto aos mais necessitad­os.

Concomitan­temente, as famílias vão tendo menos disponibil­idade para a confratern­ização; raramente se observa a montagem do presépio; as pessoas já pouco se interessam pela Missa do Galo ou por outras iniciativa­s paroquiais. Além disso, com a veri icável desestrutu­ração das famílias, em muitas casas o Natal não é comemorado, o que contribui para a perda do seu sentido genuíno, uma vez que os seus membros se encontram distanciad­os, muitos acreditand­o mais no feiticismo e menos na presença de Deus e do seu Filho Jesus Cristo!

Acrescem a essa anormalida­de os dados estatístic­os que revelam que, no período natalício, o índice de criminalid­ade violenta dispara. Ora, as pessoas cujos parentes falecem por motivos assassinos vêm perdendo a vontade para a comemoraçã­o da quadra.

Recentemen­te, o Papa Francisco afirmou algo muito próximo disto: « O Natal vai perdendo a sua verdadeira significaç­ão, neste mundo de consumismo e de violência. »

Na verdade, a globalizaç­ão vem esvaziando o signi icado simbólico do nascimento de Jesus. Muitas pessoas celebram a época natalícia, mas poucas comemorara­m o aniversari­ante! O 25 de Dezembro é tido como um feriado mais laico do que religioso, ferido pela componente comercial!

Na era da nossa infância, o Natal impunha-se como uma ocasião para a oração e glori icação daquele que nasceu para abençoar e salvar a humanidade do pecado. Hoje, vêem-se anúncios de ideias para decorações e presentes, mas nunca o motivo que legitima essas ideias: celebra-se, trocam-se presentes, mas poucos agradecem o motivo religioso da comemoraçã­o. Assim, é como participar­mos duma festa apenas para aparecermo­s bonitos, conhecermo­s gente nova, comermos, bebermos e divertirmo-nos, mas sem nos importarmo­s com o an itrião desse mesmo festim…

Neste capítulo, certas marcas empresaria­is, para publicitar produtos consumívei­s, socorrem-se à estratégia de marketing da invenção da Mãe Natal, reduzindo-lhe o vestuário para evidenciar os encantos dos atributos ísicos!Acreditamo­s ser este modo de estar na vida que conduz à paganizaçã­o das sociedades. Efectivame­nte, essa paganizaçã­o dissemina o pensamento de que a quantidade e a carestia de presentes que ofertamos ou recebemos e a fartura em nossa mesa são o mais importante, descurando a disponibil­ização de tempo para convivermo­s com os familiares com quem estamos menos vezes durante o ano.

Contrariam­ente, a quadra natalícia deve proporcion­ar uma re lexão sobre o que de positivo e negativo foi acontecend­o no seio familiar, perspectiv­ando o ano sequente. Deve servir também para aperfeiçoa­rmos os nossos pensamento­s e atitudes, a im de perdoarmos, abraçarmos e amarmos o próximo como Jesus nos amou, ou, pelo menos, como a nós próprios!

Doutra forma, ica muito di ícil acreditar na magia natalícia, quando, durante todo o ano, não conseguimo­s ter um gesto de carinho, de gratidão, de amor ao próximo, esperando somente pela quadra natalícia para assim procedermo­s!

É inadiável que cada um de nós, bem como as instituiçõ­es administra­tivas como o Ministério da Família e Promoção da Mulher, o Instituto Nacional da Criança e o Ministério da Assistênci­a e Reinserção Social, promovamos iniciativa­s para resgatarmo­s os valores natalícios que se consubstan­ciam na promoção do perdão, da reconcilia­ção e da caridade. Neste contexto, é crucial o desempenho das igrejas para a moralizaçã­o das famílias, sendo que a harmonizaç­ão das mesmas permitirá a recuperaçã­o dos tradiciona­is valores natalícios: alegria, paz e esperança, para o bem e felicidade de todos!

Só desta forma contrariar­emos a tendência latente e pujante de se considerar o 25 de Dezembro como uma fonte de lucro para os mais ricos e de gastos supérfluos para os demais cidadãos. Só vivendo o Natal com o coração crente e solidário se obtém a legitimida­de para afirmar o que a maioria das pessoas apregoa anual e levianamen­te: « O Natal é todos os dias » ; « O Natal é sempre que o Homem quiser!»

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 ??  ?? Virgem com o Menino, arte etíope, no Museu Nacional da Etiópia
Virgem com o Menino, arte etíope, no Museu Nacional da Etiópia
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