O CARNAVAL LUANDENSE COMO IDENTIDADE CULTURAL NACIONAL
O carnaval é uma celebração que surge da necessidade do homem de desprender-se dos cânones sociais e viver uma época de festa. É também uma ruptura de convenções e limitações, que o homem experimenta para a descarga isiológica e emocional com o propósito de alcançar uma certa harmonia colectiva.
Para os Angolanos, é a grande festividade que inclui todas as massas populares onde homens, mulheres, anciãos, jovens e crianças se congregam com o mesmo objectivo: a diversão sem distinção de tom de pele, orientação sexual e posição social. Onde se re lectem os hábitos e tradições do povo, particularmente a diversidade dos costumes regionais, que constituem o maior atractivo da sua cultura, tornando-a numa expressão de identidade nacional.
O carnaval luandense é uma celebração assimilada pela colonização, e sua estrutura organizacional é o modelo da Corte Portuguesa; em outras palavras, é uma herança deixada pela Colónia, onde o povo tratou de introduzir nesta pratica cultural suas próprias tradições, pondo seu selo e tornando-a numa expressão de identidade nacional. Para este povo, pouco ou nada lhe interessou a origem da festividade, porque o mais importante é que esta seja o re lexo dos seus valores culturais e dos objectivos da cultura de inida pelos seus antepassados.
Nesta manifestação cultural existe uma grande diversidade em quanto aos bailes, música, vestuários, coreogra ia, alegorias, disfarces, temática entre outros elementos, e pode ser considerada como um io no qual se tece um importante discurso colectivo. Se a irma ao largo da história sócio - política do país, e constitui um selo de identidade nacional do povo, portanto, a modalidade tradicional, deve ser a fonte de inspiração da modernização desta celebração.
Tem grande importância na vertente educativa como re lexão e analises, na medida que retoma as raízes de uma celebração conhecida a nível mundial; entretanto na actualidade está exposta ao fenómeno da globalização, o estrangeirismo/imitação e o mercantil, no qual desvirtua as bases e valores da “cultura popular tradicional” (Guanche, 2007) do povo, que se torna re lexivo, criando mentes alienadas a espectacularização (Ford, 2002) teatral.
É necessário resgatar e preservar as manifestações músico-dançantes da celebração, e encontrar através destas expressões culturais aqueles aspectos que são da sua cultura e foram adoptadas devido a in luencia da globalização e o estrangeirismo; elementos pelos quais se verá re lectida a identidade da própria festividade.
Esta manifestação cultural foi tomando diversas matrizes perdendo parte da sua essência a raiz dos câmbios sociais e o sincretismo de culturas; hoje em dia se mantêm como um acto formal, não como parte da expressão do património cultural do povo angolano.
É notável a ausência das raízes e valores nas suas manifestações músicodançantes, assim como insu iciências nas presentações durante o des ile, pelo que se pode observar a falta da percussão em vivo, substituída pelas músicas electrónicas, os bailes típicos, mesclados com outros de índole popular, e nos vestuários se nota a ausência de elementos identitários.
Em conclusão, em todos eles, se comprova a in luencia da globalização e o estrangeirismo/imitação nos quais constituem aspectos que deformam os modelos estabelecidos pela tradição, isto é preocupante porque, a falta da preservação das expressões culturais de qualquer país dani ica a mesma herança cultural.
A partir desta abordagem, se analisamos a globalização e o estrangeirismo/imitação no campo cultural, podemos dizer que neste caso a identidade se transforma na principal fonte de signi icado dado no período histórico caracterizado por uma ampla desestruturação das organizações, deslegitimação das instituições, desaparecimento dos principais movimentos sociais e expressões culturais efémeras. Desta feita, si toma
como exemplo o carnaval luandense, que nele existe uma tendência a reproduzir o carnaval de Brasil, quanto a estrutura do des ile e nos seus vestuários, neste se evidencia também uma busca á moda ocidental. Em conclusão suas expressões culturais foram tão estilizadas e ao mesmo tempo modernizadas para atender á demanda deste fenómeno ao ponto de perder a identidade histórico-cultural do povo.
Isto ocasiona uma debilidade da cultura popular tradicional, pois se evidencia nas presentações cénicas dos grupos carnavalescos perante os des iles principais, uma busca ao comercial dentro da própria celebração em vez do espírito festivo que a caracteriza, e da preservação e divulgação do seu património cultural vivo, para os mais jovens e a sociedade vindoura.
Citando alguns exemplos pontuais temos: os trajes estilizados da Corte á moda ocidental, a música gravada com o im de promoção (ainda que esta se pode entender também como uma forma de modernizar a festa apoderando-se das novas tecnologias), as carroças alegóricas com anúncios de produtos para a comercialização, a introdução das Baianas brasileiras na falange de apoio, os bailes tradicionais associados com outros de índole popular, a inserção dos Bloco de animação no des ile principal, que são novos mecanismos ou políticas estatais criadas como formas camu ladas de vender a festa, entre outros aspectos.
Por outra razão, ainda que se façam algumas inovações que sejam favoráveis nas expressões culturais, atendendo ao contexto político e económico que vive o país, se considera importante preservar sua forma original, para poder passar este legado histórico-cultural deixado pelos antepassados que deve perdurar de uma geração a outra, como forma de continuidade e rea irmação nacional.
A demonstração de que esta celebração tenha sido transformada do festivo á “espectacularização” teatral e comercial, não sobressairia o contexto da re lexão teórica sobre uma expressão artística, se paralelamente não se tivessem desvirtuado alguns princípios da festividade, e simultaneamente não se tivessem ido produzindo por parte da população mostras de insatisfação.
Esta festividade tradicional deve estar em sintonia com as suas referencias históricas, para preservar o seu valor patrimonial e a identi icação cultual nacional, com a diversidade de expressões culturais que caracteriza este carnaval, dentro do inevitável mundo globalizado.
É importante aclarar que não estou em contra das contribuições e inovações que se possam desenvolver nas suas expressões culturais, pelo contrario, o tradicional e a modernidade devem caminhar sempre de mãos dadas. A questão não é deter-se ao passado, senão conservar a essência popular repondo a qualidade festiva das suas manifestações músico- dançantes mais endógenas, com as quais o povo se identifica, objectivando ao futuro. É um chamado ao “resgate das tradições” (Guanche, 2007) sem menosprezar a criatividade e imaginação da juventude e o contexto sociopolítico actual.
Se pretende com esta analises especializada, criar uma consciência comum no leitor, ajudando-o a compreender como os elementos que compõem ao carnaval, os bailes, os instrumentos musicais tradicionais e o vestuário têm uma linguajem própria que re lete a identidade cultural do povo angolano.