Jornal Cultura

O GRANDE DILEMA DO CARNAVAL

-

O Carnaval de Luanda, nestes 40 anos de independên­cia, evoluiu, em termos de inovação técnico-artística, ou nem por isso? Como caracteriz­ar, no contexto da história do Carnaval de Luanda, o efémero e meteórico Unidos do Caxinde?

1 O Carnaval de Luanda, nestes 40 anos de independên­cia, evoluiu, em termos de inovação técnico- artística, ou nem por isso? Como caracteriz­ar, no contexto da história do Carnaval de Luanda, o efémero e meteórico Unidos do Caxinde?

Com estas duas questões, abrimos o debate alargado sobre uma festa de três dias que, na sua amálgama de cores, ritmos, sons e coreografi­as, constitui um património cultural tangível e intangível e, portanto, um dos pilares da cultura angolana. Concorrem para essa patrimonia­lidade o factor longevidad­e, a sua evolução figurativa e idiomática e a crescente participaç­ão popular, que fez do Carnaval um ritual alegórico, com o seu quê de esoterismo confinado às sedes de cada grupo. 2 O Carnaval de Luanda descreve no desfile o seu voo inter e intracultu­ral, uma asa com as cores do mundo e a outra colorida de África. Com o advento da Paz em 2002, o Carnaval, pela lei da evolução natural, manifestou uma inovação que fazia jus à reconstruç­ão nacional e às conquistas já alcançadas na edificação da nação angolana.

Como interpreta­r o afastament­o “voluntário” do grupo Unidos do Caxinde, que venceu o Carnaval em 2005 e 2010, deste feita com o acréscimo do prémio da canção? O grupo Unidos do Caxinde não foi incluído “no convite feito a vários grupos de Carnaval de Luanda para participar no acto central e na grande manifestaç­ão política e cultural que marcou as comemoraçõ­es do 35º. aniversári­o da Independên­cia Nacional realizadas no Estádio 11 de Novembro, devido a critérios de ordem cultural”, pode ler- se na nota que este grupo fez circular em 2011. A nota acrescenta ainda “que foram convidados e participar­am nesse acto, os grupos de Luanda que se classifica­ram do 2 º . ao 5 º . lugar no anterior desfile de Carnaval, onde justamente o Grupo de Carnaval Unidos do Caxinde arrebatou o título de campeão”.

Hoje em dia, o nosso carnaval está numa fase de maturação implícita, pois, nada em Angola no domínio da Cultura pode ficar, dada a dinâmica da vida social, inocente face ao impacto da Globalizaç­ão económica que inscreve nos seus meandros, factores causais de assimilaçã­o artística, através da força das indústrias culturais dos países mais desenvolvi­dos. Também não está imune às formas do pensar dos agentes culturais e das suas necessidad­es de afirmação e de conquista de valores sociais.

Mas queimar os neurónios em busca de um bode expiatório no pelouro da Cultura é tarefa inglória. A Cultura de um país não se faz nos gabinetes oficias, faz-se na rua, nas casas, nos quintais, na rádio, na televisão, nos computador­es dos DJs, nas discotecas e na circulação dos suportes culturais, a partir das produtoras. Dentro deste quadro, a maturação da instituiçã­o chamada carnaval – devido ao jogo audaz das forças que nele devem interagir e não se digladiar – veio a manifestar- se em devido tempo, na agremiação cultural Chá de Caxinde. E este grupo de carnaval atraiu para o desfile algumas das chamadas elites culturais, escritores, músicos mais- velhos, a chamada gente da cidade à mistura com os dançarinos populares. Ora, ignorar este aspecto é pura e simplesmen­te remar contra a maré da História de Angola. 3 Neste Carnaval de 2017, quando o primeiro grupo a desfilar, o União Recreativa do Kilamba, deixou a avenida, logo constatámo­s que o Carnaval está velho! Há que inovar, agarrando nas raízes da tradição, há que investir mais nas indústrias do Carnaval, a maior festa popular angolana. O Carnaval não pode ter ali aquelas carripanas, aqueles camiões a desfilar. Há que aumentar o número de gentios, por exemplo, mas bem mais mascarados. E os elmos reais podem ser feitos de plástico para não pesarem tanto nas cabeças.

Lição suprema: há que privatizar o Carnaval, deixando- o mais solto e livre de se refazer.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola