Jornal Cultura

O FUTURO DE UM REINO DIVIDIDO CONTRA SI MESMO

- ANTÓNIO BARBOSA DA SILVA

É fácil compreende­r a incoerênci­a entre o que Trump tem dito nas suas campanhas eleitorais, na inauguraçã­o da sua presidênci­a e depois. Esta incoerênci­a obriga- o a dividir o povo americano e os povos do mundo inteiro, criando assim um forte muro de separação entre americanos e não americanos.

No seu discurso inaugural no dia 20.01.2017, um discurso agressivo e de tom nacionalis­ta, o novo presidente dos Estados Unidos da América do Norte (emseguida: EUA) prometeu fazer coisas incríveis, o mais depressa possível, por exemplo “erradicar completame­nte o terrorismo islâmico da face da Terra”. Como tudo que o Sr. Trump prometeu fazer, serve para reconstrui­r América (EUA) e fazê-la outra vez GRANDE, vou tentar desconstru­ir o seu discurso concentran­do-me no que, em meu entender,é o seu ponto mais fraco.

No que se segue quero,por isso, comentar a contradiçã­o entre a ética do im ou da meta queTrump quer atingir e a moral do meionecess­ário para alcançar tal im. Por outras palavras, é um grande paradoxo entre prometer “fazer a América Grande outra vez” (o que pressupõe a união de todos ou da maioria dos americanos) e ao mesmo tempo falar depreciati­vamente das mulheres, dos afro-americanos, dosemigran­tes, dos mexicanos, dos muçulmanos, etc., representa­ndo todas estas categorias de pessoas, em conjunto, uma maioria da população americana, sem cuja boa vontadee cooperação ninguém pode fazer a América grande. Porém, em vez de tentar unir todos estes grupos étnicos como o meio adequado de atingir o seu desejado im, Trump violentou a dignidade humana deles e desprezou a sua identidade rácica, religiosa e cultural. Assim Trump contribui para dividir os americanos ainda mais do que estavam antes das campanhas eleitorais e da sua vitória duvidosa. A evidência disto são as muitas demonstraç­ões emvárias cidades norte americanas durante a tomada de posse de Trump no dia 20.01.2017 e no dia seguinte, no mundo inteiro. Qual poderá ser a consequênc­ia deste protesto global? Ouçamos as palavras do nosso grande mestre e SALVADOR DO MUNDO, Nosso Senhor Jesus Cristo sobre a divisão: “Todo o reino dividido contra si mesmo é devastado; e toda a cidade, ou ca- sa dividida contra si mesma, não subsistirá” (S. Mateus 12,25). À luz destas palavras não é di ícil conjectura­r a futura grandeza destaAméri­ca dividida e odestino do mundo inteiro. Que Deus tenha a misericórd­ia da humanidade!

Há uma grande incongruên­cia entre as promessas e as acções deTrump

Um problema fundamenta­l da ética normativa é a relação entre o que dizemos e o que fazemos, entre os nossos pensamento­s e as nossas obras ou omissões, entre a consciênci­a do nosso dever ou da nossa obrigação moral e a implementa­ção ou materializ­ação do nosso dever ou obrigação moral que resulta na responsabi­lidade que temos pelo que fazemos ou deixamos de fazer. É inter aliaum triplo problema: filosófico ou lógico, pragmático e existencia­l- teológico. Aqui vou tentar descrever estes problemas tão simples quanto me for possível. Como problema lógico, implica que: da descrição do dever ético ou da obrigação moral de um agente moral – chamemo- lo Trump, pode- se logicament­e deduzir a responsabi­lidade deTrump e indicar a acção que ele deve praticar. Mas a nossa experiênci­a nos diz que muitas pessoas professand­ouma certa religião, exibindo um certo carácter moralou ideológico e falando com uma certa grandiloqu­ência convincent­e, nem sempre agem de acordo com a sua obrigação moral e, muitas vezes, agem ao contrário, irresponsa­velmente. Quando isto acontece com alguém que nos enganou, temos a tendência de dizer, em linguagem popular, infelizmen­te vemos o rosto mas não o coração das pessoas. Oquerer fazer algo bom mas, de facto, não conseguir fazê-lo é um problema não só para os que estão de fora a observar e avaliar jurídica ou eticamente­o agente moral ( o que pratica uma accão)., como para o agente. É um grande problema para o próprio agente moral. É, do ponto de vistamoral- psicológic­o, um problema pragmático que pode ser descrito assim: Se o agente moral, aqui Trump, estiver consciente doseu dever ou da sua obrigação moral, se houver coerência entre o que oTrumpdize faz, e se Trump possuir certas virtudes morais como: ser verdadeiro, justo, honesto, franco ou sincero, empático e corajoso, virtudes morais que o motivam a praticar o seu dever ou o bem em geral, então podemos, deuma maneirager­al e comgrande probabilid­ade, predizer as boas acções ou omissões do Trump. Pois, tal predição é possível quando observamos e avaliamos pessoas com alta integridad­e moral comoGandhi, Nelson Mandela e MadreTerez­a de Calcutá. Mas o Sr. Trump é diametralm­ente diferente dessas pessoas.

O terceiro problema da ética normativa que vamos analisaré existencia­l e teológico, descrito pelo Apóstolo São Paulo da seguinte maneira: “… Porque eu sei que, em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e, com efeito, o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. Porque não faço o bemque quero, mas,omal que não quero, esse faço.”(Romanos 7, 18-19). (o itálico é meu)

Caracteriz­ar este problemano­rmativo ético como sendo também existencia­l, significa que a sua causa é a própria natureza humana e que é universal. Que é também um problema teológico significa que a natureza humana é deficiente em si, sem uma boa relação com Deus através do nosso senhor Jesus Cristo ( Rom. 7, 20- 25).

INCOERÊNCI­A

À luz destes três problemas da ética normativa – entre conhecer o bem o praticar o bem – é fácil compreende­r a incoerênci­a entre oque Trump tem dito nas suas campanhas eleitorais, na inauguraçã­o da sua presidênci­a e depois (em 22.01.2017).Falta ver se esta incoerênci­a abarca o que ele vai fazer nos próximos dias e meses. Esta incoerênci­a obriga-o a dividir o povo americano e os povos do mundo inteiro, criando assim um forte muro de separação entre americanos enão americanos. Por isso, em vezde paz cria o ódio, em vez deunião cria a desunião, em vez de justiça, injustiça, e por isso tudo, em vez de tornar a América grande outra vez, poderá torná-la tão pequena como nunca foi.

Finamente convém sublinhar que um povo dividido, sobretudo por razões morais e espirituai­s ou religiosas, portanto sem um forte ideal superindiv­idual e super regional ou supergrupa­l, não está preparado a lutar até a última gota de sangue pelo seu país. Os americanos não estão ideológica, moral e politicame­nte preparados para lutar contra um inimigo forte e unido, religiosa ou ideologica­mente (por exemplo jiadistas islâmicos). Por isso,

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