Jornal Cultura

ANGOLA ANGO LA NA ARQUARQUIT­ECTURA ITECTURA TECTU DE PAZ E SEGURANÇA EGU NÇA AFRICANA AFRIC RICAN NA

(Análise da Função Estratégic­a das Forças Armadas Angolanas)

- MIGUEL JÚNIOR|

É importante perceber o processo da edificação militar no contexto do Estado democrátic­o e direito porque esta parte representa outra etapa do ponto de vista da história da edificação militar em Angola. A obra A Posição de Angola na Arquitectu­ra de Paz e Segurança Africana, da autoria do tenente-coronel Luís Manuel Brás Bernardino, oficial do Exército português, docente universitá­rio e investigad­or, foi publicada agora em língua inglesa, em Lisboa, no dia 31 de Maio 2017, data do 26º aniversári­o da assinatura dos Acordos de Bicesse. Com esta publicação em inglês, os leitores vão perceber o ponto de vista deste académico português sobre o papel das Forças Armadas Angolanas no domínio da segurança nacional e no que respeita à segurança das regiões geográfica­s onde se encontra inserida a República de Angola. Numa palavra esta obra constitui, sem dúvida, mais um contributo à historiogr­afia militar angolana.

A obra A Posição de Angola na Arquitectu­ra de Paz e Segurança Africana (Análise da Função Estratégic­a das Forças Armadas Angolanas) é da autoria do tenente-coronel Luís Manuel Brás Bernardino, o icial do Exército português, docente universitá­rio e investigad­or. O autor publicou este trabalho em Março de 2013 (Editora Almedina). Por isso, a obra está disponível, desde essa data, aos leitores da língua portuguesa. Entretanto, o autor decidiu publicar agora a presente obra em língua inglesa, com a chancela da Mercado de Letras Editores, aqui na Sociedade de Geogra ia de Lisboa, sociedade cientí ica, cuja missão, desde 1875, é auxiliar o estudo de matérias cientí icas e contribuir para o progresso das ciências geográ icas e correlativ­as em Portugal.

Esta publicação em inglês é uma iniciativa louvável na medida em que os leitores da língua de Shakespear­e, e outros, terão assim a oportunida­de de ler mais uma obra que retrata o percurso das Forças Armadas Angolanas desde o momento da sua criação (1992). Além do mais, com esta publicação em inglês, os demais leitores vão perceber o ponto de vista deste académico português sobre o papel das Forças Armadas Angolanas no domínio da segurança nacional e no que respeita à segurança das regiões geográ icas onde se encontra inserida a República de Angola.

Tecendo outras consideraç­ões sobre esta edição em língua inglesa, devemos salientar que ela difere, em certa medida, da versão em português porque o autor excluiu a parte conceptual. Isto é, o aparelho epistemoló­gico. De resto, esta parte constituiu o suporte teórico e a base de enquadrame­nto da sua tese de doutoramen­to e ela consta da publicação em língua portuguesa. Esta parte condensa, nada mais, nada menos, que os aspectos teóricos e conceptuai­s no âmbito da História, Estratégia, Ciência Política, Geopolític­a, Geoestraté­gia, Diplomacia, Segurança, Desenvolvi­mento, Defesa e Relações Internacio­nais, associados ao fenómeno da guerra e à questão da paz nos contextos internacio­nal, continenta­l, regional e nacional.

Os aspectos teóricos e conceptuai­s são essenciais para uma obra desta envergadur­a, mas a sua omissão não descaracte­riza a obra. Muito pelo contrário, ela confere a mesma outra elasticida­de. De resto, no miolo da obra há incursões teóricas que colmatam a parte que foi retirada. A obra preserva, assim, a sua clareza e o seu propósito.

Esta obra insere-se, entretanto, no âmbito dos estudos de defesa e segurança e na perspectiv­a dos estudos teorico- militares já que o seu autor prestou atenção aos aspectos da edificação militar do Estado angolano de 1992 em diante. A edificação militar é sempre conceptual­izada com base nas políticas de defesa, mas atendendo a situações de segurança nacional, a envolvente e desafios regionais, continenta­is e internacio­nais. De facto, é importante perceber o processo da edificação militar no contexto do Estado democrátic­o e direito porque esta parte representa outra etapa do ponto de vista da história da edificação militar em Angola.

Outro aspecto que caracteriz­a esta obra é o facto de que o seu autor fez uma introspecç­ão a história militar de Angola. O passado militar angolano é vasto e é composto por vários momentos. Momentos distintos, mas todos eles ricos, os quais devem ser valorizado­s em trabalhos desta envergadur­a. Desta maneira, este trabalho também possui elementos historico-militares no seu corpo e que estão bem enquadrado­s devido à metodologi­a e à estrutura adoptadas pelo autor. Numa palavra esta obra constitui, sem dúvida, mais um contributo à historiogr­a ia militar angolana.

Outrossim, esta versão em língua inglesa está a ser lançada hoje, dia 31 de Maio 2017, data do 26º aniversári­o da assinatura dos Acordos de Bicesse em 1991. Na verdade, estamos diante de um dia histórico porquanto as Forças Armadas Angolanas são uma emanação desses acordos e elas representa­m o pilar da segurança nacional e são um instrument­o da política externa da República de Angola.

Desta maneira, nunca é de mais revisitar o percurso das Forças Armadas Angolanas. De facto, estas Forças Armadas constituír­am- se com base num conjunto de directrize­s à luz dos Acordos de Bicesse e tendo em conta também os pressupost­os históricos e políticos. Assim a herança militar do Estado, oriunda das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola ( 1975- 1991), mais os subsídios armados de base guerrilhei­ra, decorrente­s das Forças Armadas de Libertação de Angola ( 1975- 1991), mereceram o tratamento que se impunha no contexto da formação do novo Exército nacional.

Estas foram as bases que permiti- ram edi icar o novo Exército nacional e dar continuida­de ao processo de edi icação militar do Estado angolano. Da junção do Exército regular (FAPLA) mais a Organizaçã­o armada ( FALA) nasceram as Forças Armadas Angolanas. Mas, desde 1991 até ao momento, as Forças Armadas Angolanas passaram por várias etapas. Elas cresceram de forma rápida, a fim de travar a guerra que se tinha instalado no país logo após as eleições de 1992. Para o efeito, o recurso foi aproveitar os meios das FAPLA e incorporar muitos dos seus efectivos e outros das FALA. Nestas condições, e com base em várias mudanças que se operaram nas Forças Armadas Angolanas, foi possível fazer a guerra e contribuir para a paz em Angola.

Quando as Forças Armadas Angolanas estavam a fazer a guerra em Angola, elas interviera­m na África Central (República do Congo Brazzavill­e e na República do Zaíre). Essas intervençõ­es militares, em parceria com a Namíbia e o Zimbabwe, contribuír­am para estabiliza­ção política da África Central e elas foram a prova da disponibil­idade do Estado angolano em relação à paz e à segurança desta região em concreto. E isto constituiu, de maneira inequívoca, a demonstraç­ão de que o Estado angolano mais as suas Forças Armadas estão disponívei­s a emprestar o seu melhor do ponto de vista da paz e segurança regionais, quer no âmbito da União Africana, quer das Organizaçõ­es Regionais ( África Central e África Austral). Aliás, no presente, esforços têm sido congregado­s no sentido de se garantir à paz e à segurança. No entanto, a arquitectu- ra de um sistema de segurança e paz implica olhar para duas direcções: segurança nacional e segurança regional. Fica difícil contribuir para segurança regional, quando não se valoriza a segurança nacional.

Mas a paz e a segurança no continente africano têm também que desembocar em contributo­s à paz e à segurança mundiais. De resto, Ko i Annan, antigo Secretário-Geral das Nações Unidas, teceu consideraç­ões em 2016 sobre Africa and Global Security Architetur­e e destacou que os desa ios de África e o seu papel na segurança global implicam ter em conta o papel de África no Conselho de Segurança das Nações Unidas, o papel da União Africana e das Organizaçõ­es sub-regionais, o enquadrame­nto da massa juvenil nas economias nacionais e o aproveitam­ento de jovens talentosos e futuros líderes, o estabeleci­mento de sistemas eleitorais credíveis e o reforço dos sistemas democrátic­os e “a qualidade das forças de segurança” (in Tana Hign Level Forum on Security in Africa, 16 April 2016, Remarks by Ko i Annan).

Estas palavras atestam que os Estados nacionais em África têm que articular a segurança e a paz de forma abrangente e valorizand­o o papel e o lugar das Forças Armadas no contexto da segurança nacional. Finalmente, em vinte cinco anos de existência, as Forças Armadas Angolanas cresceram e continuam a crescer. Elas têm feito muito para alcançar outros patamares de organizaçã­o. O cresciment­o é indispensá­vel porque facilita o cumpriment­o das missões constituci­onais e ajuda a garantir à paz e à segurança no continente africano.

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Miguel Júnior (ao centro)r, embaixador Luís de Almeida, Manuel Kassapa e outros

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