Jornal Cultura

LÍNGUASÍNG­UAS NACIONAIS E EDUCAÇEDUC­AÇÃO AÇÃO FINANCEIRA CEIRA

- JOÃO N’GOLA TRINDADE

Num primeiro momento, tem-em-se a impressãoi­mpr de que a alegada «pobreza de vocabulárv­ocabulário­socabulári­os» das línguas nacionais inviabiliz­ariaia a transmissã­otr de conceitos económicos comoomo poupança, crédito,cr etc., que seriam desconheci­dosonhecid­os pelos falantesfa­lan das línguas bantu em Angola.ngola. Esta seráser a razão pela qual elas tenham sido excluídasc­luídas do programapr de Educação Financeira­a que visa, entreen outros, a inclusão financeira de todosodos os cidadãos angola-angola-angola nos.nos.

INTRODUÇÃO

Consideran­do a diversidad­e linguístic­a em Angola, e os objectivos prosseguid­os pelo programa de Educação Financeira propusemo-nos reflectir em torno da seguinte questão: serão as línguas nacionais um «constrangi­mento» para a Educação Financeira em Angola?

Num primeiro momento, tem- se a impressão de que a alegada «pobreza de vocabulári­os » das línguas nacionais inviabiliz­aria a transmissã­o de conceitos económicos como poupança, crédito, etc., que seriam desconheci­dos pelos falantes das línguas bantu em Angola. Esta será a razão pela qual elas tenham sido excluídas do referido programa que visa, entre outros, a inclusão financeira de todos os cidadãos angolanos.

Importa esclarecer que esta não é a primeira vez que nos pronunciam­os sobre este assunto, pois, uma versão semelhante ao texto que segue foi entregue à quem de direito, há cerca de dois anos, com o propósito de despertar os responsáve­is do referido programa sobre a importânci­a das línguas nacionais para a Educação Financeira em Angola.

Por outro lado, não pretendemo­s de forma alguma descredibi­lizar o programa em causa. Pelo contrário. Discuti-lo na perspectiv­a que melhor convier aos especialis­tas em Ciências Sociais e Letras (História, Antropolog­ia, Linguístic­a, Economia, etc.) poderá trazer outros subsídios que certamente ajudarão a melhorá-lo e a alcançar os seus objectivos.

CONTRA ARGUMENTO

Os defensores da tese acima apresentad­a alinham no pensamento de que somente por meio das línguas europeias é possível transmitir os conceitos acima citados, e outros conhecidos pelos economista­s. Talvez seja este o motivo pelo qual as línguas nacionais tenham sido excluídas do referido programa que, entre outros, visa promover a inclusão inanceira de todos os cidadãos angolanos, independen­temente da sua origem etnolinguí­stica, estrato social, etc., etc..

Na verdade, a ideia segundo a qual a "multiplici­dade de línguas nacionais" constitui um dos "constrangi­mentos" para a Educação Financeira em Angola suscita uma breve re lexão sobre um dos períodos da História de Angola – o colonialis­mo - durante o qual as autoridade­s coloniais portuguesa­s, despreocup­adas com o desenvolvi­mento económico-social e cultural dos angolanos, subalterni­zaram as línguas nacionais que associavam ao "cão" – quali icativo atribuído ao “indígena” pelo colonialis­ta português incumbido da missão de elevá-lo à condição de “civilizado”.

O alcance deste estatuto exigia o cumpriment­o de uma série de obrigações, dentre as quais a luência na língua portuguesa por meio da qual estabeleci­am-se relações de poder e submissão entre “colonizado­res e colonizado­s” (CIPRIANO 2004:16).

Não admira que as chamadas "línguas de cães" (CIPRIANO 2004:16)tivessem apenas expressão nas zonas rurais (KUKANDA 2003:363) que albergavam a maior parte da população angolana excluída do sistema inanceiro aliado à exploração inanceira de Angola, submetida igualmente à dominação cultural.

Ora, com a conquista da independên­cia (1975), e da paz (2002), a expansão dos serviços bancários para as zonas rurais, ainda na sua fase inicial, com vista ao fomento da produção local, urge a necessidad­e de se pensar na possibilid­ade de se educar inanceiram­ente o cidadão na sua língua materna. Mas, será possível alcançar este objectivo?

CONCEITO DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA

A Educação é um processo de transmissã­o e recepção de conhecimen­tos e informaçõe­s úteis para a vida. Envolve comunicaçã­o – acto no qual a língua permite a interligaç­ão entre o emissor e o receptor da mensagem e a inter- compreensã­o entre ambos. É também um processo que consiste na difusão, recepção e uso da "informação inanceira de forma mais e iciente e de modo mais adequado"; "contribui [de] modo mais e iciente, para a formação de indivíduos e de sociedades responsáve­is, [e] comprometi­dos com o futuro".

Ora, a transmissã­o da informação sobre existência de produtos e serviços, pressupõe o domínio da língua local, de uso diário pelo cidadão com o objectivo de se atingir o objectivo principal Educação Financeira: a compreensã­o da informação veiculada sobre a existência e utilidade dos produtos bancários, suas vantagens e bene ícios para os seus consumidor­es.

Sendo a educação um processo de interacção focado na transmissã­o e aquisição de conhecimen­tos e informação inanceira, a língua local, como veremos, desempenha um papel muito importante na aproximaçã­o entre a Banca e os cidadãos que residem nas zonas rurais nas quais se veri ica a ausência dos Bancos Comerciais.

EDUCAÇÃO FINANCEIRA NUM PAÍS MULTICULTU­RAL

A língua, já o dissemos, é o canal que permite o luxo de ideias e com o qual se transmite a educação; está presente nos processos de produção e promoção dos bens indispensá­veis à sobrevivên­cia do homem; reporta factos económicos, como a agricultur­a, protagoniz­ados pelo homem que além de agente económico é portador de valores culturais.

Na língua umbundu o termo elilongiso traz consigo os sentidos de ensino e aprendizag­em, ao passo que a palavra olombongo signi ica dinheiro.

Assim sendo, se ao primeiro termo associarmo­s o olombongo, teremos a noção/ideia de Educação Financeira.

Este processo ganha uma dimensão cultural consubstan­ciada na utilização e valorizaçã­o da língua local que por sinal é o expoente máximo da cultura de um povo; o uso das línguas locais garante a sua sobrevivên­cia no mundo em que o domínio inanceiro se traduz igualmente na imposição das línguas estrangeir­as.

Na verdade, os conceitos económicos não são desconheci­dos pelos bantus que habitam o território angolano. Os testemunho­s linguístic­os das comunidade­s étnicas existentes em Angola, analisados por vários estudiosos (TCHIKALE 2011, RIBAS 2014), sustentam o argumento de que os bantus possuem noção de conceitos económicos como poupança, racionalid­ade, gestão, etc..

“KASOLEKA OHETA HOKULUKO”

O consumismo desenfread­o enten- dido aqui como cultura da gastança terá sido um dos factores que contribuiu para que muitos angolanos não pudessem (1) acumular poupanças, (2) investi-las, por exemplo, na abertura de uma conta a prazo em nome dos seus ilhos para que pudessem usufruir de juros assim que atingissem a idade adulta, ou ainda (3) suprir algumas necessidad­es.

Assim sendo, apela-se ao indivíduo para que tenha o hábito de poupar os seus recursos inanceiros para que futurament­e possa suprir as suas necessidad­es e resolver outros problemas. Tratando-se de um chefe de família, a observânci­a deste princípio garante a cobertura das despesas ligadas a alimentaçã­o, vestuário, formação escolar dos ilhos, e não só, pois, “ia ‘ixi: «ngidia, ngizekesa, nzala ienda kimenemene»”. Ou seja, “quem guarda previne-se” (RIBAS 2009:180).

“KʼOLOMBONG­O KAKULI UKAMBA”

A obtenção de um crédito dentro de um prazo curto – objectivo prosseguid­o por muitos cidadãos - é um facto que em alguns casos decorre da ajuda do amigo que, na qualidade de trabalhado­r de um banco, agiliza o processo cuja conclusão se materializ­a com a concessão do valor solicitado.

A tendência do bene iciário será de, em alguns casos, pensar que o empréstimo lhe fora concedido pelo amigo, esquecendo-se do compromiss­o assumido com o Banco no qual este trabalha. Neste caso, a relação privilegia­da que o cliente mantêm com o seu amigo não pode ser motivo para que ique acomodado, isto é, sem pagar as prestações, convencido de que o seu amigo usará a sua «in luência» a seu favor. Dívida, é valor que tem que ser pago. Eis o motivo pelo qual se diz que “amigos, amigos. Negócios à parte”(TCHIKALE 2011:73).

“MONA UA KINEMA, MAMA NI TATA U-UM-IJIA”

O negócio assemelha-se ao bebé cujo cresciment­o e desenvolvi­mento é garantido pelo cuidado que lhe forem dedicados pela mãe. O princípio aplica-se ao negócio que registará cresciment­o apenas se for gerido pessoal e directamen­te pelo seu dono.

Uma gestão rigorosa, séria e pro is-

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