Jornal Cultura

OS “SENHORES DO VENTO” COSTUMES DOS HEREROS EM EXPOSIÇÃO DE ARTE

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ADRIANO DE MELO

Quem foram os Hereros? Qual o seu papel na História de Angola? Esta e outras dúvidas foram respondida­s pelo artista plástico Thó Simões que, depois de meses de pesquisa, apresentou o resultado do seu trabalho em “Senhores do Vento”, uma exposição de pintura sobre coragem e determinaç­ão de um povo.

Aberta ao público no passado dia 27, a mostra, patente na galeria Mov’Art, em Luanda, promete levar, qualquer um dos seus visitantes, por uma viagem pela história dos hereros e alguns dos seus desa ios mais marcantes, com base no heroísmo de Samuel Maherero.

Quando questionad­o sobre “quem são os ‘Senhores do Vento’?”, o artista disse que eram os 24 mil hereros que fugiram com medo de icarem con inados aos campos de concentraç­ão, dos quais mil, sob a liderança de Samuel Maherero chegaram até o Botswana.

A base de todo o trabalho é a travessia que este povo - de origem Bantu, tradiciona­lmente pastoris - efectuou pelo deserto do Kalahari (Namíbia), quando o tenente general alemão LotharVonT­rotha tentou os eliminar, devido a questão das terras do sudoeste africano. Este con lito que quase levou a completa extinção dos hereros está agora descrito em diversas telas, em acrílico e noutras técnicas, cujas cores são uma das predominân­cias.

Com vários traços da arte urbana, o artista procura dar vida a inconformi­dade de um povo perante a colonizaçã­o, a sua guerra contra o invasor e a divisão e expropriaç­ão de terra, mas enquadrand­o o assunto também as re lexões dos tempos de hoje. “A determinaç­ão de um povo que mesmo perante a adversidad­e não desistiu é algo que impression­a qualquer um”, disse, destacando que enquanto artista vê esta motivação como pilar para a construção de uma sociedade melhor.

Para Thó Simões, o tema da exposição - cujo enfoque principal é a negritude, a colonizaçã­o, a expropriaç­ão de terras ou até mesmo de culturas - apesar de ter a sua base no passado, é e continua a ser bastante actual. A única variável, acrescenta, são as re lexões que as pessoas podem fazer ao visitar a mostra, como “o que leva o homem a explorar o seu semelhante”. “Desde o início do Mundo este tema tem sido uma constante. Hoje trouxe a abordagem do assunto através da História de um povo - como quase todos os do Sul do país - que me fascina muito, devido a sua cultura e determina- ção para vencer as di iculdades”, conta.

Constantem­ente em busca das causas e motivações que levam as pessoas a agirem desta ou daquela forma, o artista prometeu continuar a procurar por respostas para as suas indagações, algumas das quais muito comuns. Embora a sua pesquisa esteja mais virada para os povos do Sul de Angola, Thó Simões também tem curiosidad­e de conhecer mais sobre o seu passado, “como angolano, pessoa e africano”. “Enquanto não estiver satisfeito com as res- postas os temas dos meu trabalhos vão ser sempre os mesmos.”

Depois de meses a seguir o rasto dos hereros, o artista, que acredita muito na sua intuição, nas vibrações e na curiosidad­e, promete continuar a desenvolve­r o seu trabalho em temas que ajudem as pessoas a conhecerem mais sobre a cultura e História de determinad­os povos, cujo acervo histórico-cultural é vasto, mas correm o risco de serem “engolidos” e esquecidos dentro do fenómeno globalizaç­ão.

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