Jornal Cultura

POEMA DE DAVID DIOP

ÁFRICA

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À minha mãe

África, minha África África de orgulhosos guerreiros das savanas ancestrais África que canta minha avó à beira de seu rio distante eu nunca te conheci mas o meu olhar está cheio do teu sangue o teu belo sangue negro através dos campos difundido o sangue do teu suor o suor do teu trabalho o trabalho da escravidão escravidão dos teus ilhos África, diz-me África é no entanto teu esse dorso que se curva e se deita sobre o peso da humilhação esse dorso tremulo a listras vermelhas que disse sim ao chicote nos caminhos do meio dia? Então gravemente uma voz me respondeu ilhos impetuosos, esta árvore robusta e jovem aquela árvore lá esplendida­mente só no meio das lores brancas e desbotadas esta é a África, tua África que renasce que renasce pacienteme­nte obstinadam­ente e cujos frutos têm pouco a pouco o amargo sabor da liberdade.

David Léon Mandessi Diop teve uma vida curta: nasceu em 1927, em Bordeaux, França e morreu em 1960, aos 32 anos, num acidente de avião na costa do Senegal. Diop, uma promessa da poesia francesa de ascendênci­a africana, é considerad­o o mais revoltado dos poetas do movimento da Negritude.

Filho de pai senegalês e mãe camaronesa, Diop produziu uma poesia fortemente marcada pela raiva e o protesto contra os valores europeus. Escreveu um único livro (lançado ainda em vida), “Coups de Pilon” em que seus poemas retratam pelo sofrimento do negro desde os tempos da escravidão, pela dominação colonial e a condição do negro no século XX, nma sociedade marcada pelo racismo e pelos valores da cultura europeia, e termina com um chamado à luta do povo africano.

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