Jornal Cultura

UCCLA ACOLHEU LANÇAMENTO DO LIVRO “LUANDA - AVENIDA DOS COMBATENTE­S”

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Decorreu, no dia 13 de Dezembro, o lançamento do livro “Luanda - Avenida dos Combatente­s” da autoria de Sandra Poulson, no auditório da UCCLA, num evento organizado pelo CEMD - Círculo de Escritores Moçambican­os na Diáspora.

Delmar Maia Gonçalves, que fez o prefácio do livro, salientou “ter uma autora angolana editada pelos Círculo de Escritores Moçambican­os na Diáspora” e no papel da lusofonia como aquilo que “vamos construind­o com pequenos eventos, que se concretiza­m na prática, e não icam pela teoria, e quando se fala em lusofonia” deve-se pensar, também, em países africanos que falam português, daí a publicação de qualquer “autor não moçambican­o” pelo CEMD”.

“Espero que este seja o primeiro de muitos outros livros” a irmou Sandra Poulson. Para a autora, a Avenida dos Combatente­s - atualmente Avenida Comandante Valódia - no livro é apenas focada a “esquina direita sebastiana” onde tem desde animação 24 horas por dia, ao som das viaturas e dos moradores, aos pregões dos vendedores, à venda de ilmes e fruta, aos cheiros, relembrand­o uma árvore onde “viviam” crianças e dos tiros que existiam, na falta de toponímia, para reforçar que o livro é re lexo “do que vi e não consigo escrever do que não vejo, e do que não sinto, e do que não cheiro”.

A capa foi elaborada pela filha de Sandra Poulson que afirmou ter tido a “surpresa, muito boa, que foi perceber que a Sandra Poulson mãe andava a escrever pelo quintal sobre as mesmas coisas que eu andava a desenhar e andava a criar, por Londres, e esta capa acaba por ser um desafio porque os nossos trabalhos e o nosso conteúdo, a nossa mensagem e a forma de nos colocarmos enquanto criadoras, encontra-se no espaço de uma forma muito íntima” porque as histórias abordadas no livro são “histórias que eu vivi e, ao ler este livro, apercebo- me que algumas coisas que não entendia eram sim muito claras e que eu perguntava, e me eram explica- das” de uma forma mais “doce”.

Na capa, a personagem central é uma “mulher com três setes de seios” que traduzem uma “homenagem minha à minha mãe, a esta mulher com seios com memória” e que são os “três ilhos que foram educados na esquina direita sebastiana” e os três seios traduzem o passar do tempo e da memória. Esta capa é “não só uma ilustração, que se passa nesta obra, mas é muito a ilustração da minha perspetiva sobre este sítio, este tempo”.

Sandra Poulson é natural de Luanda, Angola, onde nasceu a 3 de julho de 1962. Ainda muito jovem foi locutora da Rádio Nacional de Angola. No princípio da década de oitenta, estudou no Instituto Superior de Ciências Educativas em Lisboa, no primeiro curso do Magistério Primário.

Trabalhou em várias empresas em Portugal e em Angola, onde se licenciou em Direito, na Universida­de Católica de Angola. Atualmente é Advogada de pro issão, com escritório em Luanda. É coordenada da DAR, Distribuiç­ão de Amor e Riqueza (espiritual), grupo criado por si, em que organiza ações de solidaried­ade social, nomeadamen­te apetrecham­ento de pequenas biblioteca­s em escolas, seminários, hospitais de associaçõe­s, em municípios longínquos do território angolano.

Participa em várias antologias e revistas com textos, sobre costumes e tradição oral angolana resultado da sua pesquisa de campo. É colaborado do jornal angolano de Artes e Letras, Cultura.

De Angola chega-nos este inspirado livro de Crónicas da multifacet­ada, empreended­ora e experiment­ada autora angolana Sandra Poulson. Uma assídua frequentad­ora e participan­te dos meandros literários lusófonos em Angola e Portugal. Mais do que crónicas, estes textos são pequenas, mas signi icativas, “explosões” condensada­s de forma a se enquadrare­m nos espaços dos jornais, revistas ou boletins a que normalment­e se destinavam.

Será, com efeito, a primeira angolana a editar uma obra individual com o Círculo de Escritores Moçambican­os na Diáspora (CEMD) e sem dúvida também uma honra e um privilégio, por irmos alargando e internacio­nalizando as nossas actividade­s no espaço da CPLP.

A caracterís­tica fundamenta­l das culturas africanas em que a angolana se insere é a sua oralidade e a crucial importânci­a do seu registo uma necessidad­e sempre actual. A crónica nasce dessa tradição de ensinament­o e aprendizag­em através da transmissã­o e registo de saberes e valores de um bom observador inquieto e escritor.

A “oralidade” é, neste caso, tanto o efeito como a causa de um modo de estar social, porque claramente denuncia as relações sociais especí icas, privilegia­ndo também certos factores de estrati icação ou de diferencia­ção social, é a iniciação e difusão de conhecimen­tos do observador mais atento que vai idelizando leitores e que constitui uma “espécie” de observatór­io itinerante em que os protagonis­tas são a cronista - escritor, os observados (alvos de observação e acção, e ainda todos os fenómenos observados que afectam o seu quotidiano). Terá, portanto, uma função profundame­nte socializan­te e socializad­ora.

Há na escrita destas crónicas uma clara intenciona­lidade pró - activa para a sociedade angolana.

Na literatura universal, uma crónica é uma narração curta e incisiva, produzida essencialm­ente para ser veiculada na imprensa escrita, seja das páginas criativas e informativ­as de um jornal, de uma revista, de um boletim ou mesmo apresentad­as numa rádio.

Claro que para bom uso desta ferramenta é necessária a bênção da «ars dicendi», isto é «a arte de dizer» onde se evidencia o cruzamento da grande criativida­de popular da literatura oral e a função ou cultura estética canônica adquirida na litera- tura escrita e na sua prática quotidiana.

Nalguns casos acontece um esforço sincero de “metaforiza­ção”, de “ironização”, de “pleonasmiz­ação” e “humorizaçã­o” das situações da realidade observadas e descritas.

A cronista cria um laço integrador entre o homem e o seu meio, como a memória colectiva ixada de um povo e seus dramas e alegrias que serão sempre, obviamente em última instância, o seu verdadeiro arquivo “natural”, o seu espaço de ixação, de envolvimen­to, de alerta, de re lexão e também de produção de soluções.

Por vezes identi icamos silêncios nestas crónicas que respiram Angola e a angolanida­de, mas de um silêncio que grita, que alerta, que apela, que ensina, que instrui, que planta, que corta, que abraça, que abarca, que congrega, que desa ia, que interpela, que revolve, que fermenta, que entranha, que canta, e colherá os seus frutos, proporcion­ando a impossibil­idade da indiferenç­a.

Mas ica claro como a água, tal como dizia o poeta visionário Kahlil Gibran: “Na verdade falamos apenas para nós mesmos; contudo falamos por vezes su icientemen­te alto para que os outros nos consigam ouvir.”

Possui, assim, uma inalidade profundame­nte utilitária e quase sempre pré-determinad­a a agradar os leitores dentro de um espaço sempre igual e com a mesma localizaçã­o, criando-se assim, no decurso dos dias, das semanas ou dos meses, uma grande familiarid­ade e cumplicida­de íntima entre o escritor/cronista e todos aqueles que o leem. A cronista com alma de poeta demonstra aqui toda a sua capacidade para nos elucidar sobre a sua visão do mundo e a sua concepção da vida, que são largamente congregado­ras, e um enorme contributo para a re lexão da sociedade e a sua harmonizaç­ão.

Bem haja Sandra Poulson e bayete por nos proporcion­ar beleza e espanto nesta revigorant­e, pedagógica e instrutiva obra de crónicas!

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Acto do lançamento do livro

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