Jornal Cultura

OBRIGADO, SIMÃO SOUINDOULA

- JOSÉ LUÍS MENDONÇA

Obrigado, Simão Souindoula, que soubeste, sob a égide da UNESCO, mostrar que nós, africanos, fomos os grandes fazedores não só materiais, mas também culturais da América e da Europa.

Obrigado, Simão Souindoula, incansável e dedicado companheir­o das inócuas armas da ensaística histórico-cultural, tu, que foste o primeiro a responder ao nosso apelo de contribuir com uma peça para o número inaugural deste jornal em 2012.

Obrigado, Simão Souindula, irmão de tertúlias e debates, nosso maisvelho conselheir­o, dono de um saber alicerçado no rigor da pesquisa e que connosco soubeste partilhar, com as inúmeras colheitas da tua lavra literária aqui dados para alimento dos leitores.

Obrigado, Simão Souindoula: partiste do nosso seio, desde o passado dia 8 de Janeiro (Dia da Cultura Nacional), mas o teu legado permanece gravado nas páginas deste órgão e nas páginas da nossa memória sobre as quais a tua palavra deixou marcas indeléveis.

Obrigado, Simão Souindoula, em nome dos nossos antepassad­os, os que lutaram e venceram, os que perderam e pereceram e os que arrastaram entre grilhetas a dignidade humana na longa travessia do Atlântico e, depois, numa diáspora gravada a ferro em brasa no dorso e pesada de trabalhos forçados, para recuperá-la no traço da Rota do Escravo, que tu soubeste, sob a égide da UNESCO, tão bem delinear, ao mostrar que nós, africanos, fomos os grandes fazedores não só materiais, mas também culturais da América e da Europa.

Obrigado, Simão Souindoula, a quem dedicamos, em preito de homenagem, estas palavras nós que, como o apóstolo Pedro, não temos ouro nem prata, mas, aquilo que temos, isso te damos, para que a tua alma, perdido o corpo, connosco permaneça.

Obrigado, Simão Souindoula.

Simão Souindoula nasceu em 11 de Maio de 1956 na aldeia Maquela do Zombo, província de Uige, Angola. Dedicou a sua carreira ao enriquecim­ento da história de Angola e de África, mais especi icamente na vertente relacionad­a ao fenómeno de trá ico de escravos. Quadro sénior do Ministério da Cultura, Simão Souindula começou a sua carreira em 1976, no Laboratóri­o Nacional de Antropolog­ia; trabalhou no Centro Internacio­nal das Civilizaçõ­es Bantu (CICIBA), em Libreville, de 1983 a 2003, e reintegrou-se no Ministério da Cultura em 2004, ocupando o cargo de director do Museu Nacional da Escravatur­a. Fez parte da Comissão Cientí ica do Projecto Mbanza Kongo.

Foi membro do Comité Cientí ico Internacio­nal do Projecto UNESCO "The Slave Route", Professor de História e Director do Bantulink de Rede Internacio­nal.

Autor de centenas de artigos e comunicaçõ­es cientí icas, milhares de comunicado­s de imprensa, críticas e co-autor de uma dúzia de obras relacionad­as com diferentes aspectos da evolução proto-histórica e histórica, realidades antropológ­icas e linguístic­as, bem como ligada às expressões artísticas (artes visuais, música) da África Bantu e sua diáspora.

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