Jornal Cultura

A CIDADE E A PLURALIDAD­E URBANA EM EXPOSIÇÃO

- ADRIANO DE MELO

Descrever uma cidade sempre foi um desafio para um artista. Os fotógrafos da agência alemã Ostkreuz deram ao público uma amostra da grandeza do tema com “A cidade, Génese e Declínio”.

Descrever uma cidade, qualquer uma, sempre foi e será um desa io para um artista. Pintor, músico ou fotógrafo, o repto é di ícil, porque a descrição da sua dinâmica, com beleza e um toque de inovação, requer um exercício trabalhoso. Alguns chegam lá, outros nem tanto. Mas os fotógrafos da agência alemã Ostkreuz deram uma amostra ao público sobre a grandeza do tema com “A cidade, Génese e Declínio”.

Em 176 fotogra ias, que icam patentes até o próximo dia 27, no Salão Internacio­nal de Exposições (Siexpo) do Museu Nacional de História Natural, em Luanda, os fotógrafos da célebre agência alemã deram uma amostra das esperanças, desejos e anseios dos moradores das cidades, assim como da própria dinâmica social, que envolve todo aquele espaço e o torna num “ponto comum de encontro”.

Para quem visita a mostra, ou assim o pretender fazer, é visível, logo de início, o signi icado da unicidade dentro da multiplura­lidade, quer seja étnica, social, ou cultural, criada pela cidade. A beleza da exposição e o desa io da sua concepção reside, tal como descreve a cantora britânica Adele, na sua canção “Hometown Glory”, está no facto de a cidade mostrar que “as pessoas.. são as maravilhas deste mundo”.

Para Adele, a beleza da cidade reside em vários detalhes, mas acima de tudo no facto de serem pessoas diferentes a partilhare­m o mesmo espaço. “Eu gosto da cidade quando dois mundos colidem/Todo mundo tomando lados diferentes/Mostra que não vamos aguentar coisas ruins/Mostra que somos unidos”.

É esta união que os 18 fotógrafos da Ostkreuz procuraram mostrar com a exposição, através de retratos dos habitantes da cidade utópica de Auroville, na Índia, ou de Detroit, nos EUA, que entrou em decadência nos últimos anos. Porém, não são apenas as imagens de rostos que dão vida a exposição. Ela traz também outros aspectos que ajudam a diferencia­r e a tornar única cada uma delas. Desde os grandes prédios até as favelas de Manila, nas Filipinas.

Explorar os contrastes e mostrar alguns dos factores de singularid­ades entre estas é outro dos propósitos dos fotógrafos que trouxeram também imagens da cidade chinesa de Ordos, feita a partir da prancheta de um desenho, a “artificial­idade” das ruas e avenidas do Dubai e as casas de Gaza, na Palestina, arrasas por bombardeam­entos.

O objectivo dos expositore­s é especí ico. Descobrir que esperanças e desejos associam os moradores à cidade? De que forma esta intervém no quotidiano das pessoas, ou também no relacionam­ento destas com o meio ambiente e os seus semelhante­s?

Outro aspecto de realce ao longo da exposição é uma amostra da grandeza do conceito de urbanizaçã­o, um fenómeno cada vez mais crescente nas sociedades modernas. Porém, e como defende o escritor moçambican­o Mia Couto, os fotógrafos chamam igualmente atenção para a importânci­a da preservaçã­o da identidade. “A cidade não é apenas um espaço ísico, mas uma forja de relações. É o centro de um tempo onde se fabricam e re-fabricam as identidade­s próprias.”

Mia Couto vai ainda mais longe: “A cidade não é um lugar. É a moldura de uma vida. A moldura à procura de retrato, é isso que eu vejo quando revisito o meu lugar de nascimento. Não são ruas, não são casas. O que revejo é um tempo, o que escuto é a fala desse tempo. Um dialecto chamado memória, numa nação chamada infância.”

A exposição “A Cidade, Génese e Declínio” mostra ainda que a pesquisa dos fotógrafos não se limitou apenas aos grandes centros urbanos. Incluiu também as zonas com baixa densidade populacion­al. No inal, o público pode ter uma ideia do que se pode esperar, num futuro próximo, de algumas destas cidades e a importânci­a dos relacionam­entos dentro do conceito de cidade.

Expositore­s

Oriundos de vários países, os fotógrafos que “dão vida” a exposição “A Cidade, Génese e Declínio”, trazem longos anos de experiênci­a neste sector, adquiridos em diversos países, onde com as suas objectivas procuraram capturar a “essência humana”. Além do trabalho feito para a agência fotográ ica Ostkreuz têm se destacado também a nível individual.

Thomas Meyer, Harald Hauswald, Dawin Meckel, Jordis Schlösser, Espen Eichhöfer, Pepa Hristová, Jörg Bruggemann, Andrej Krementsho­uk, Sibylle Bergemann, Anne Schönharti­ng, Linn Schröder, Frank Schinski, Julia Röder, Heinrich Völkel, Annette Hauschild, Maurice Weiss, Mona Lisas dos Subúr- bios Ute e Werner Mahler são os artistas que tornaram real a mostra.

A agência

Ostkreuz era o nome de uma estação de intercâmbi­o em Berlim. Mas em 1990, um grupo dos fotógrafos mais importante­s da República Democrátic­a da Alemanha, reuniu e decidiu criar a agência. No princípio a palavra “Ostkreuz” servia para descrever um local, no Oriente, onde um país ainda tinha deixado de existir, assim como um ponto na intersecçã­o da qual se pode de inir em qualquer direcção. Hoje, a Ostkreuz é a agência de fotógrafos mais bem-sucedida da Alemanha com 22 fotógrafos. Quase todos receberam prémios nacionais e internacio­nais. Eles vêm de todas as regiões da Alemanha e de outros países europeus. Cada um vê o mundo à sua maneira e, assim, está interessad­o em outra coisa. Todos os fotógrafos são enviados para diferentes países, mas voltam a se reunir neste ponto chamado “Ostkreuz”.

Para muitos hoje, e tal como o signi icado da palavra, Ostkreuz passou a ser sinónimo de confronto e trabalho com a realidade, feito com intuito de detectar e descrever o núcleo das coisas, de uma forma sincera.

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A Cidade, Gênese e Declínio

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