CARLOS FERREIRAAPRESENTA “MEAIDADE”
No passado dia 28 de Fevereiro, o poeta Carlos Ferreira apresentou em Luanda, no espaço Verde Caxinde, a mais recente obra MEAIDADE.
Tal como referiu a apresentadora da obra, a professora Cesaltina Abreu, “Meidade remete a duas ideias: minha idade e meia-idade, a idade do autor na fase por ele considerada de intermédia do caminho da vida, impondo-lhe aquele balanço inevitável do quanto já foi e do que ainda há-de ser! Conhecendo a igura, não foi di ícil antecipar que MEAIDADE mescla a verve do Cidadão e a melancólica angústia do Indivíduo, desaguando numa poética simultânea ou alternadamente política, crítica e engajada, para outra mais mansa, acalentadora, ainda que inquieta, expectante, amorosa. Mas ambas incisivas, dilacerando as folhas de papel com a palavras a iadas materializando/dando corpo a/os sentimentos.
Mais a mais porque no percurso da MEIDADE do Autor, a inquieta faixa dos 15 anos coincidiu com o início de contagem de uma outra cronologia, a do seu/nosso território de expressão, do seu/nosso chão: Angola. Contagem essa que começa eivada de promessas e prenhe de possibilidades: construir o Homem Novo, devolver aos angolanos a sua dignidade e a sua terra, e colocar ao serviço do bem-estar de todos os frutos dos seus imensos recursos. Não é di ícil antecipar as expectativas, os sonhos, as visões acalentados, então, por um jovem recém-saído (ou saindo) da adolescência, criado num ambiente esclarecido e engajado, como expresso, entre outros, em passagens dos poemas da página 61:
(…) As minhas (dobradiças, dores, mágoas, sustos, disparates, crenças absurdas) icarão por aqui até me chamarem. De novo. Com toda a crueza do passado. Com toda a saudade do futuro. Com todo o carinho derramado em anos de inocência de meia loucura mas acima de tudo de ingenuidade. Cada vez mais me pareço com as velhas dobradiças. Só que as minhas não têm retorno. Fecho-me. Encolho-me. Nada é grátis a não ser o olhar de relance ao espelho. E mesmo esse me aponta o dedo. Pergunta-me pelas nossas consciências. Pela nossa ce- gueira. Pelo nosso silêncio.
Para Cesaltina Abreu “a poesia política-interventiva de Cassé resiste à tentação de simpli icação, evitando os estereotipos políticos e de representações sociais e, mais uma vez, demonstra que a poesia é um género literário tão capaz – ou mais, até, que os demais -, de expressar opiniões políticas, sociais, culturais, cidadãs! Do seu jeito, usa-a para expor o poder libertador da palavra em denúncia, e oposição, ao silêncio ilho do Medo sufocante e omnipresente.”
Disse ainda a apresentadora que “o eixo organizador desta poesia parece- me residir no seu conteúdo crítico, abordado / exposto de formas diferentes. Vai pela exposição dolorida das situações vividas num quotidiano em geral sofrido, tentativamente tipificado, com contornos de denúncia e indignação, acusação explícita dos descasos e das indiferenças em relação à sua maior riqueza – as suas gentes – e à gestão da coisa pública.”