Jornal Cultura

“UM DIA POR DIA” DE ISABEL BAPTISTA UMA HOMENAGEM ÀS MULHERES

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tranquilos de esmeralda e azuis profundos e infinitos).

Neste seu mais recente trabalho, Isabel Baptista não resistiu ao apelo da poesia e envolve palavras poéticas em cada uma das obras, um exercício que, além de não ser novo para ela, revela e rea irma a sua profunda dimensão poética. Isabel Baptista abusa ainda da cor como se fosse uma música, um ilme fruído, um livro encantado, um hino de vida, como a mania de sim, porque sim. Uma obra que marca o habitual regresso ou apelo à beleza capaz de nos acrescenta­r o seu melhor.

Considerad­a a mais velha artista plástica do país, Isabel Baptista teve sempre uma relação estreita com as cores e a arte. Nasceu em Luanda, onde fez os seus estudos em pintura na antiga Escola Industrial, no início dos anos 70; mas a sua primeira exposição individual só teria lugar em 1990, no Museu de História Natural de Luanda.

Hoje, a beirar os 60 anos de idade, a artista ainda se lembra do seu primeiro dinheiro ganho na juventude: "O primeiro dinheiro que ganhei foi com as minhas mão e a pintar". Isabel nasceu numa família de gente criativa, que se desdobrava­m nas artes, na música, na dança, entre outras. Mas é mesmo com as mão que exterioriz­a e concretiza a sua visão cromática do belo.

Entretanto, foi em 2015 que a artista regressou ao contacto com o públi- co após mais de uma década de ausência, desde o encerramen­to da galeria Cenarius, na Cidade Alta, que foi pioneira das galerias de arte no pós-independên­cia em Angola. A casa, que albergava a galeria, datava de 1840 e pertencia à sua avó, sendo que os ilhos da artista faziam parte da quinta geração nascida na residência.

No espaço, Isabel Baptista catalisou toda a sua energia e criativida­de como artista e como gestora, ao longo de largos anos, transforma­ndo-o numa referência e num ponto de encontro obrigatóri­o de artistas e escritores, acolhendo centenas de actividade­s culturais, nas mais diversas expressões artísticas. “O lugar era o resumo da cidade. Era a sala de estar”, lembra. Hoje lamenta a ausência quase total de galerias na cidade.

Isabel Baptista faz das suas viagens o seu lugar de eleição, tão natural para artista é partir à descoberta pelo mundo, ou simplesmen­te de Cabinda ao Cunene, que não há espaço para nostalgia ou sensação de exílio. Durante longos anos, por entre digressões fotográ icas e incursões na fotogenia dos seres e espaços envolvente­s cruzou-se com mulheres e com elas trocou olhares, sorrisos e até peças de joalharia, coisas que, para muitos, não passavam de “tralha”, pedaços quebrados de beleza. Hoje, esse universo de descoberta e aprendizag­em ainda persegue a artista, que disso se serve para fazer uma pontual homenagem às mulheres de todos os tempos e de todos os lugares, ainda que seja “um dia por dia”.

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