Jornal Cultura

A INÚTIL IDADE DOS LIVROS

- José Luís Mendonça

aAngola vive um período muito particular da sua História, em que os factores (materiais e políticos) que moldaram a sociedade actual, desde o 11 de Novembro de 1975, revelam as suas consequênc­ias no plano da intelectua­lidade, ou seja, do pensamento crítico e das manifestaç­ões linguístic­as derivadas do (mau) uso da Língua Portuguesa.

A sociedade angolana insere- se no contexto universal de uma Humanidade em processo de mudança do seu paradigma de civilizaçã­o, do seu conceito de valoração do conhecimen­to. Assiste- se a uma crise de valores humanos, que está a redundar numa aversão ao conhecimen­to escrito, através do fenómeno mundial da des- leitura. Quase ninguém lê, hoje em dia. Porque é que ler não atrai a juventude? Não é apenas devido à intrusão do Android, não senhor! Não é apenas devido ao fascínio do ecrã, não senhor!

A inal, o que se está a passar entre nós, humanos? Quem vai bene iciar de tantas palavras e números guardados nos livros, se não os queremos mais abrir? Ou será que a sociedade de consumo consumiu também o tempo necessário para abrirmos um livro e lê-lo com paixão até ao im?

Aonde nos levará esta nova realidade, na qual, em todo o mundo, as editoras de livros estão a entrar numa tremenda depressão inanceira?

De que forma, devemos educar as novas gerações que já não sentem atracção nenhuma pela leitura, nem mesmo pelo livro acessível na Internet a custo zero?

Não se vislumbra, em Angola, para os próximos 50 anos, outra fonte de saber mais acessível do que o livro. Daí que para garantir o futuro promissor do país é urgente a edi icação de um sistema de acesso ao livro, com infra-estruturas e serviços já existen- tes e outras a criar, através do qual fôssemos capazes de:

1. Investir poderosame­nte na reciclagem e formação dos professore­s para a pedagogia da leitura, incutindo-lhes também o hábito de lerem. Como já existe legislação sobre esta matéria, então o que falta é pô-la em prática.

2. O Estado deve subvencion­ar o preço do livro, desonerand­o as taxas aduaneiras de importação do livro, seja ele qual for o objecto que o enforma, porque Angola não fabrica livros e está com um atraso intelectua­l muito grande que não pactua com os ditames do comércio. O homem é prioridade absoluta para o desenvolvi­mento.

3. Investir nas biblioteca­s populares de bairro, incluindo biblioteca­s móveis e em projectos de círculos de leitores juvenis em cada rua, em que cada um contribui com 200 kwanzas, para a compra de um, dois ou três livros que seriam lidos por um círculo de 10 a 20 leitores.

4. Incentivar a venda de livros também nas lojas de conveniênc­ia (Mamadous).

5. Investir no acesso ao livro através de um sítio electrónic­o nacional.

6. Permitir a leitura doméstica de obras do acervo da Biblioteca Nacional, através do registo e controlo do leitor, que terá um cartão.

Doutra forma, os angolanos serão devorados pela maré competitiv­a da Globalizaç­ão, que não se compadece com o marasmo da falta de aplicação prática de politicas públicas que dêem o valor devido ao LIVRO e à LEITURA , como paradigma essencial da formação das novas gerações e da população em geral. Sob pena de a nossa forma de estar no mundo passar a ser ditada pela desvaloriz­ação de um artefacto muito útil que é o livro, e aí estaremos a viver uma inútil idade dos livros.

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