Jornal Cultura

JUSTA HOMENAGEM NO DIA DE ÁFRICA

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ois estudantes sobem ao palco. A roupa informal, os microfones nas mãos e as gesticulaç­ões denunciam que vão apresentar uma música do género Hip Hop. Muitos dos presentes no auditório da Faculdade de Ciências Sociais (FCS) da Universida­de Agostinho Neto (UAN) até sabem que a música foi feita em homenagem ao malogrado professor Jaka Jamba, que estava a ser lembrado naquele dia 25 de Maio, "Dia de África". O que não sabem é como a izeram. E daí partiu a comoção. Os trechos ritmados retratavam a vida e obra de Jaka Jamba, regados de elogios e de um bem inserido excerto de uma entrevista em que falava do seu papel na Luta de Libertação Nacional. As palmas não tardaram. As lágrimas, essas, seriam muitas naquela manhã de homenagem a Almerindo Jaka Jamba pela faculdade onde passou os seus últimos dias. O an iteatro da FCS foi pequeno para acolher docentes, estudantes, familiares, amigos, dirigentes e membros de partidos políticos.

Cesaltina Abreu, pertencent­e ao Departamen­to de Sociologia a que Jaka Jamba estava vinculado, sucede ao sociólogo Paulo de Carvalho nas leituras de homenagem. A docente dirige-se ao auditório com folhas em mãos, mas avisa que não pretende fazer leitura. Prefere dar um testemunho vivo e de memória sobre o antigo colega. Cesaltina Abreu, hoje doutorada em Sociologia, foi colega de Jaka Jamba no liceu, no Huambo, ainda no período colonial. "A ideia que eu tenho dele começa aí", diz, lembrando que havia poucos negros no liceu. "Conversava com todos e ninguém tinha dúvidas das suas aspirações e dos seus sentimento­s". Cesaltina Abreu viria a encontrá-lo mais tarde em diversas ocasiões, em 1970 e nas décadas seguintes até à FCS. A socióloga tem na memória o vozeirão do amigo, que falava "palavras doces", palavras, essas, que sempre realçam a sua particular­idade na transmissã­o de valores da angolanida­de e do africanism­o enquanto docente.

Mirene da Fonseca Mucongo e Suzete Kimbangala Francisco são ambas estudantes do 3º ano curso de Sociologia. Ao partilhar a tribuna com a docente Cesaltina Abreu, Mirene começa por lembrar um amigo que não se cansava de transmitir valores. "Estará sempre nas nossas memórias", diz, numa voz meiga. A estudante revela que para lá de se perder um docente, a dor é ainda maior por se tratar de um amigo. Um amigo a quem chama de "verdadeiro ser humano" que, "além de mostrar as di iculdades, revelava igualmente as possibilid­ade de as ultrapassa­r".

Já Suzete, que diz ter sido uma honra privar com Jaka Jamba, enquanto docente, lembra os momentos de aula naquele an iteatro. "Aprendíamo­s não só as matérias necessária­s, mas também como ser um bom cidadão", recorda. Suzete até tenta chegar ao im da sua mensagem, mas não consegue. As lágrimas interrompe­m. A audiência solidariza-se com forte aplauso. As lágrimas de Suzete dão mesmo lugar a um choro inconsoláv­el, sendo acolhida pelas colegas e pela professora Cesaltina Abreu.

Convidado a tecer algumas consideraç­ões, Isaías Samakuva, presidente da UNITA, partido a que Jaka Jamba pertencia, começa por explicar a importânci­a do evento. "É especial, pois, mesmo no contexto da nossa sociedade, estamos aqui num acto que re lecte a dimensão do homem que estamos a homenagear", diz. "Um homem que construiu pontes (de diálogo) sobre as quais estamos a passar apesar das nossas diferenças".

Viúva de Jaka Jamba, Miraldina Marcos Jamba, numa voz calma, dirige-se igualmente à audiência, já na tribuna. A professora diz que se levantou simplesmen­te para agradecer. Miraldina Jamba reconhece as qualidades do seu marido, mas espera que os ilhos "interioriz­em" os valores que defendia. E, para a surpresa de todos, Miraldina Jamba lê um poema do seu marido, "africanist­a convicto", dedicado à África, a 25 de Maio de 2000: "canção de embalar da mãe Angola/ Não chores, meu amorzinho/ Não chores, meu tesouro de bronze/ No meu manto transporto um grande sonho/ De uma África mais digna/ De uma África mais nobre/ De uma humanidade mais assumida/ Sonhos da mãe África/ Votos da mãe Angola/ No dia do teu aniversári­o, mãe África/ Subscrevem­os as imensas razões para crer e as sacrossant­as razões para esperar!"

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Miraldina Jamba recebe certificad­o de honra da decana em exercício da FCS

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