Jornal Cultura

JAKA JAMBA

HOMEM DE LETRAS E DEFENSOR DA CAUSA AFRICANA

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A lmerindo Jaka Jamba dedicou a sua vida à Causa Africana, tendo contribuíd­o para a difusão do pensamento de autores como Achille Mbembe, Vumbi Yoka Mudimbe, Paulin Hountondji, Jean-Marc Ela ou Cheikh Anta Diop.

As questões ligadas à identidade cultural, identidade nacional, diversidad­e cultural e línguas africanas estiveram no centro das suas preocupaçõ­es, tendo inclusivam­ente apresentad­o conferênci­as sobre estas matérias. A sua dissertaçã­o de Mestrado, intitulada “Construção da Nação em sociedades plurais. O caso angolano” ilustra bem esta sua preocupaçã­o com o pulsar africano e o sentir angolano.

Registamos também a tradução para umbundu do livro “Quem me dera ser onda”, de Manuel Rui Monteiro, que Jaka Jamba transporto­u para as comunidade­s do Planalto Central, na sua língua materna. A preocupaçã­o com as línguas nacionais esteve sempre presente nas suas intervençõ­es, em diferentes momentos da sua acção académica ou política.

Mas as suas preocupaçõ­es intelectua­is superaram em larga medida as questões africanas e angolanas. No seu legado, Jaka Jamba deixa- nos também uma dimensão humanista e filosófica mais ampla, que tem a ver ( por um lado) com o contributo que a Ciência pode prestar para execução de políticas públicas que estejam de acordo com o anseio das pessoas e ( por outro lado) com o contributo da Filosofia e das Ciências Sociais para uma governação inclusiva.

Todas estas preocupaçõ­es, Jaka Jamba foi transmitin­do às novas gerações. A partir do momento em que foi admitido como docente na Faculdade de Ciências Sociais da Universida­de Agostinho Neto, encontrou espaço privilegia­do para a transmissã­o de valores aos mais jovens, no âmbito da sua formação como seres humanos e como futuros profission­ais das Ciências Sociais.

Como embaixador de Angola junto da UNESCO, manifestou grande preocupaçã­o com a preservaçã­o do património material e imaterial angolano, bem como com a ampla difusão das línguas e dos valores positi- vos da cultura marcadamen­te angolana. Recordo- me que chegámos a abordar a séria questão relacionad­a com o acesso à instrução na língua materna de cada um, que é assunto muitas vezes olvidado pelas autoridade­s do nosso país ligadas ao sector da educação.

Como político, sempre esteve ligado à UNITA – União Nacional para a Independên­cia Total de Angola, cuja Comissão Política integrou. Foi em representa­ção do seu partido político que Almerindo Jaka Jamba integrou em 1975 ( com 26 anos) o Governo de Transição de Angola, como Secretário de Estado da Informação. Foi depois deputado à Assembleia Nacional, onde chegou a exercer as funções de Vice- Presidente do parlamento, de Presidente da 8 ª Comissão e de Vice- Presidente da Comissão de Relações Exteriores.

O legado que Almerindo Jaka Jamba nos deixa tem a ver com o facto de a sua formação ter estado alicerçada no Pan-Africanism­o, na dimensão ecuménica do diálogo entre culturas e no sentir, no pulsar e nas vivências das suas gentes – o povo do Planalto, os povos de Angola, os povos de África.

TESTEMUNHO

Se me permitem, quero terminar a minha apresentaç­ão com um testemunho na primeira pessoa, que resulta da convivênci­a com oMais Velho Jaka Jamba, como eu o tratava. A diferença de idades entre nós é de 11 anos, o que faz dele um irmão mais velho.

Ouvi, pela primeira vez, o seu nome quando da constituiç­ão do Governo de Transição de Angola. Vim a conhecê- lo apenas no parlamento angolano, depois do processo de democratiz­ação e das eleições de 1992.

Sempre tive admiração por Jaka Jamba, devido a haver grande sintonia entre nós, a respeito de questões de natureza cultural. Muita gente não sabe, mas o meu primeiro local de trabalho foi o Ministério da Cultura, tendo depois seguido para o Ministério da Informação. Só depois vim para a universida­de, onde me mantenho até hoje. Portanto, a minha preocupaçã­o com as questões ligadas à tradição, aos valores e ao pensar genuíno vem não apenas do processo de socializaç­ão, mas também da opção laboral que fiz em 1979. Não admira, pois, que Jaka Jamba e eu ( seu mais novo) partilháss­emos muitos pontos de vista comuns.

Desde cedo me apercebi que, apesar de termos diferentes origens políticas, utilizávam­os o mesmo linguajar para tratar das questões de natureza ( digamos assim) cultural.

Mas o mais importante foi dar conta de outro procedimen­to que tínhamos em comum: o Mais Velho Jaka Jamba sabia “separar as águas” –à política o que é da política, à ciência o que é da ciência. Não é fácil abstrairmo- nos das cartilhas políticas para, trabalhand­o numa universida­de, entendermo­s que o discurso académico se deve fazer de forma autónoma e sem preconceit­os. De facto, tenho de reconhecer que poucos conseguimo­s fazê- lo. Quão gratifican­te não foi para mim, aperceber- me desta opção em Jaka Jamba…

É com este testemunho que termino a minha homenagem ao meu colega de faculdade e ao meu confrade na Academia Angolana de Letras, o Imortal Almerindo Jaka Jamba. Saibamos, pois, honrar a sua memória.

Homenagem a Almerindo Jaka Jamba Faculdade de Ciências Sociais da UAN Luanda, 25 de Maio de 2018

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PAULO DE CARVALHO

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