Pepetela apresenta “Sua Excelência, de Corpo Presente”
“Num enorme salão deitado num caixão jaz um ditador africano. Está morto, mas vê, ouve e pensa. Assim estirado, aprisionado num corpo sem vida, mas na posse das suas faculdades intelectuais, só lhe resta entreter-se a recordar as peripécias vividas com muitos dos que lhe vieram dizer adeus, entre os quais se encontram diversos familiares, a primeira-dama (e as outras mulheres e namoradas), os numerosos filhos e as altas dignidades do Estado. Ao relembrar a sua vida, o percurso que o levou a presidente e os muitos anos como chefe de Estado, vai-nos revelando os meandros do poder político, o nepotismo que o corrói e os vários abusos permitidos a quem o detém. E, como percebe tudo o que se passa à sua volta, e é muito difícil a um ditador deixar de o ser, Sua Excelência não só vai tecendo considerações sobre os presentes e os seus interesses políticos, como tenta adivinhar os seus pensamentos e maquinações. Pois, mesmo morto, não deixará a sua sucessão em mãos alheias, e nela tentará imiscuir-se através do seu espião-de-umolho-só, que lhe é tão fiel na morte como era em vida.”
Artur Pestana “Pepetela” lançou no dia 18 de Setembro de 2018, no Camões – Centro Cultural Português em Luanda, o Romance “Sua Excelência, de corpo presente”.
Com a mestria que lhe é própria, Pepetela, nome maior da literatura angolana e de língua portuguesa, volta a surpreender, no estilo, na forma e na substância, com o seu mais recente romance Sua Excelência, de Corpo Presente. Com a lâmina acutilante e a iada da sua apurada ironia, recorta, de forma sarcástica e implacável, realidades, não raras vezes, a raiar a caricatura e o ridículo. Com a perspicácia de observador atento e profundo conhecedor da história e do mundo que o rodeia, particularmente do continente africano, que o viu nascer, Pepetela regressa com toda sua força, talento e sensibilidade, próprios do grande criador que é. Pepetela regressa, rea irmando a sua visão comprometida da escrita e o seu profundo humanismo.
O INSÓLITO
A história desenrola-se, num tempo recente, num local indeterminado de um qualquer país africano. Do protagonista e narrador, não se conhece o nome. Apenas se sabe que foi presidente de um país africano e que teve morte súbita, atingido por uma “maldita doença que apanhou a todos desprevenidos”. O insólito começa no primeiro parágrafo, com a declaração do narrador: “Estou morto”.
Uma crítica mordaz ao abuso de poder e aos sistemas totalitários, disfarçados de democracia, escrita com um sentido de humor inteligente.
Pepetela volta a surpreender com um inal imprevisto, improvável, desconcertante e metafórico, carregado de sentido e de sentidos , que ica para desvendar com a leitura do romance Sua Excelência, de Corpo Presente.
SOBRE O AUTOR
Pepetela (Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos) nasceu em Benguela, em 1941. Licenciou-se em Sociologia, em Argel, durante o exílio. Foi guerrilheiro do MPLA, político e governante. Foi Professor da Universidade Agostinho Neto, em Luanda. Tem sido Dirigente de Associações, com destaque para a União dos Escritores Angolanos e Associação Cultural e Recreativa Chá de Caxinde. Recebeu o Prémio Camões 1997, con irmando o lugar de destaque que ocupa na literatura lusófona.