Síndroma do vinagre corrói cinema angolano
Sem estilos ou correntes para limitar a sua criação artística, Thó Simões desa iou os limites do seu imaginário para criar uma (des)construção dos vários multiversos da consciência, erguidos sobre uma análise social, que denominou “Congolândia”.
A exposição, que esteve patente no Camões, até à passada quinta-feira, dia 4, incluiu pintura, instalação e performance, estilos multidisciplinares a que o artista já acostumou o seu público. Porém, para inovar e dar “uma pitada” diferente à “Congolândia”, Thó Simões explorou o papel da performance, como instrumento ideológico que veicula ideias sobre a cidadania e a comunidade.
Para a sua performance, o artista convidou congéneres seus, que em tons de preto e branco, deram ao público que assistiu a cerimónia de inauguração no Camões - Centro Cultural Português momentos singulares. A maioria das pessoas icou impressionada pela simplicidade e a “actuação” dos performistas.
Tendo como referência o trabalho da norte-americana Rosalee-Goldberg, uma das maiores promotoras da performance artística a nível internacional, como comparou a directora do Camões, Teresa Mateus, “Congolândia” trouxe à análise do público uma nova forma de ver a arte contemporânea, com a inclusão de várias disciplinas numa única exposição, onde todas sobressaem em simultâneo. O objectivo da inclusão deste conceito, como destacou Thó Simões, é apresentar a “arte como um processo democrático de escolhas efectuadas pelos espectadores”. Com base nesta ideia, o artista utilizou o público como “material” para poder criar “Congolândia”, uma exposição na qual os visitantes poderiam se envolver e participar de forma activa.
Embora alguns teóricos acreditem que a performance artística tenha as suas origens na antiguidade, o termo ganhou uma maior dimensão nos últimos anos, como forma de agregar vá- rias disciplinas, como a dança, música, mímica, ou malabarismo, numa exposição de arte, e “Congolândia” trouxe um pouco destas expressões artísticas. Na mostra, a performance surge como um meio libertador por excelência e também um compromisso com os espaços sociais diversi icados.
Thó Simões procurou igualmente explorar a performance na sua dimensão mais vanguardista, de tal forma que qualquer meio utilizado por si na exposição é visto como uma marca do seu percurso artístico e uma forma de completar a sua urgência interior de pesquisa e estudo de algumas dimensões da arte contemporânea.
Como um aspecto recorrente na sua arte, o criador fez uso de várias linguagens artísticas para rea irmar a sua aposta na multi-diversidade, de uma forma mais abrangente, ao ponto do seu alcance não estar susceptível ao enquadramento em categorias, estilos ou correntes. “Declinando rótulos, Thó Simões pinta, faz colagens, cria arte urbana e digital, performance, instalações, cinema e fotogra ia. Considera-se ‘simplesmente’ um artista”, defendeu Teresa Mateus.
A directora do Camões - Centro Cultural Português destacou ainda o facto de “Congolândia - Multiversos em desencanto” ser a estreia do artista naquele espaço. “Esperamos que seja a primeira de outras propostas inovadoras, neste tempo em que as novas tecnologias permitem a circulação, à velocidade da luz, de expressões artísticas, como a performance evocada por Thó Simões neste trabalho”.
O ARTISTA
António “Thó” Simões nasceu em 1973, em Malanje. Fez a sua formação em Arte, em Luanda, onde também manteve os primeiros contactos com artistas de referência na União Nacional dos Artistas Plásticos (UNAP). Anos depois, o artista integrou o “Movimento dos Nacionalistas”, onde começou a demarcar-se dos cânones estético/artísticos então dominantes.
O seu percurso artístico inclui a realização de várias exposições, individuais e colectivas, a nível nacional e internacional, com destaque para Portugal, Itália, Gana, África do Sul e Brasil. A sua principal fonte de inspiração e tema de investigação, recorrente nas suas mostras, são as suas raízes africanas, em geral, e angolanas, em particular.
Os seus trabalhos, que incluem pintura, colagens, arte urbana e digital, performance, ilmes, instalações e fotogra ia, procuram exprimir afectos e alternam in luências da arte moderna com a tradicional, com maior incidência para a cokwe, com inspiração no modo de vida da tribo mumuíla.
Actualmente trabalha em projectos de carácter sócio- cultural e ambiental, como o graf iti que faz no Elinga Teatro, contra a destruição do espaço. Também fez parte do projecto Murais da Leba, que levou um grupo de artistas a pintarem murais nas províncias do Namíbe e Huíla.