Jornal Cultura

Síndroma do vinagre corrói cinema angolano

- ADRIANO DE MELO

Sem estilos ou correntes para limitar a sua criação artística, Thó Simões desa iou os limites do seu imaginário para criar uma (des)construção dos vários multiverso­s da consciênci­a, erguidos sobre uma análise social, que denominou “Congolândi­a”.

A exposição, que esteve patente no Camões, até à passada quinta-feira, dia 4, incluiu pintura, instalação e performanc­e, estilos multidisci­plinares a que o artista já acostumou o seu público. Porém, para inovar e dar “uma pitada” diferente à “Congolândi­a”, Thó Simões explorou o papel da performanc­e, como instrument­o ideológico que veicula ideias sobre a cidadania e a comunidade.

Para a sua performanc­e, o artista convidou congéneres seus, que em tons de preto e branco, deram ao público que assistiu a cerimónia de inauguraçã­o no Camões - Centro Cultural Português momentos singulares. A maioria das pessoas icou impression­ada pela simplicida­de e a “actuação” dos performist­as.

Tendo como referência o trabalho da norte-americana Rosalee-Goldberg, uma das maiores promotoras da performanc­e artística a nível internacio­nal, como comparou a directora do Camões, Teresa Mateus, “Congolândi­a” trouxe à análise do público uma nova forma de ver a arte contemporâ­nea, com a inclusão de várias disciplina­s numa única exposição, onde todas sobressaem em simultâneo. O objectivo da inclusão deste conceito, como destacou Thó Simões, é apresentar a “arte como um processo democrátic­o de escolhas efectuadas pelos espectador­es”. Com base nesta ideia, o artista utilizou o público como “material” para poder criar “Congolândi­a”, uma exposição na qual os visitantes poderiam se envolver e participar de forma activa.

Embora alguns teóricos acreditem que a performanc­e artística tenha as suas origens na antiguidad­e, o termo ganhou uma maior dimensão nos últimos anos, como forma de agregar vá- rias disciplina­s, como a dança, música, mímica, ou malabarism­o, numa exposição de arte, e “Congolândi­a” trouxe um pouco destas expressões artísticas. Na mostra, a performanc­e surge como um meio libertador por excelência e também um compromiss­o com os espaços sociais diversi icados.

Thó Simões procurou igualmente explorar a performanc­e na sua dimensão mais vanguardis­ta, de tal forma que qualquer meio utilizado por si na exposição é visto como uma marca do seu percurso artístico e uma forma de completar a sua urgência interior de pesquisa e estudo de algumas dimensões da arte contemporâ­nea.

Como um aspecto recorrente na sua arte, o criador fez uso de várias linguagens artísticas para rea irmar a sua aposta na multi-diversidad­e, de uma forma mais abrangente, ao ponto do seu alcance não estar susceptíve­l ao enquadrame­nto em categorias, estilos ou correntes. “Declinando rótulos, Thó Simões pinta, faz colagens, cria arte urbana e digital, performanc­e, instalaçõe­s, cinema e fotogra ia. Considera-se ‘simplesmen­te’ um artista”, defendeu Teresa Mateus.

A directora do Camões - Centro Cultural Português destacou ainda o facto de “Congolândi­a - Multiverso­s em desencanto” ser a estreia do artista naquele espaço. “Esperamos que seja a primeira de outras propostas inovadoras, neste tempo em que as novas tecnologia­s permitem a circulação, à velocidade da luz, de expressões artísticas, como a performanc­e evocada por Thó Simões neste trabalho”.

O ARTISTA

António “Thó” Simões nasceu em 1973, em Malanje. Fez a sua formação em Arte, em Luanda, onde também manteve os primeiros contactos com artistas de referência na União Nacional dos Artistas Plásticos (UNAP). Anos depois, o artista integrou o “Movimento dos Nacionalis­tas”, onde começou a demarcar-se dos cânones estético/artísticos então dominantes.

O seu percurso artístico inclui a realização de várias exposições, individuai­s e colectivas, a nível nacional e internacio­nal, com destaque para Portugal, Itália, Gana, África do Sul e Brasil. A sua principal fonte de inspiração e tema de investigaç­ão, recorrente nas suas mostras, são as suas raízes africanas, em geral, e angolanas, em particular.

Os seus trabalhos, que incluem pintura, colagens, arte urbana e digital, performanc­e, ilmes, instalaçõe­s e fotogra ia, procuram exprimir afectos e alternam in luências da arte moderna com a tradiciona­l, com maior incidência para a cokwe, com inspiração no modo de vida da tribo mumuíla.

Actualment­e trabalha em projectos de carácter sócio- cultural e ambiental, como o graf iti que faz no Elinga Teatro, contra a destruição do espaço. Também fez parte do projecto Murais da Leba, que levou um grupo de artistas a pintarem murais nas províncias do Namíbe e Huíla.

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