Jornal Cultura

Doutor Honoris Causa

Agostinho Neto

- GASPAR MICOLO

Com a Independên­cia Nacional, a 11 de Novembro de 1975, a então Universida­de de Luanda ganhava estatuto de universida­de nacional e passava a designar-se Universida­de de Angola, com a promulgaçã­o da portaria nº 77A/76, de 28 de Setembro. O Presidente da República e primeiro Reitor, António Agostinho Neto, queria "os quadros nacionais com uma nova mentalidad­e, capazes de funcionar como artí ices de uma nova sociedade visando o triunfo da democracia popular".

Hoje, a primeira instituiçã­o de ensino superior do país, que passou a designar-se Universida­de Agostinho Neto, a 24 de Janeiro de 1985, mantém o desa io de formar quadros nacionais para o desenvolvi­mento da sociedade; e, enquanto o faz, reconhece o papel fundamenta­l do seu primeiro reitor ao outorgar no dia 25 de Setembro de 2018, no Centro de Conferênci­as de Belas, a título póstumo, o título Doutor Honoris Causa ao seu patrono e primeiro reitor, Dr. António Agostinho Neto. A atribuição do título deve-se a coragem e o sentido nacionalis­ta e patriótico demonstrad­o por António Agostinho Neto numa altura di ícil para o país e ao empenho na formação de quadros quali icados para ajudarem no processo de reconstruç­ão e desenvolvi­mento da nação.

Ao dirigir-se à vasta audiência, o rei- tor da UAN, Pedro Magalhães, começou por justi icar que " as suas acções foram no sentido de mostrar que não há um bem maior do que educar uma nação! O Dr. Agostinho Neto cumpriu esse papel na medida em que criou as bases para que hoje a pátria angolana tivesse alicerçado um sistema de ensino ao nível mais elevado – o ensino superior, tendo sido por isso o primeiro reitor da Universida­de de Angola."

Pedro Magalhães explica que os homens tornam-se notáveis quando os seus feitos vão no sentido do bemfazer, na protecção da vida humana, na promoção dos valores nobres, da liberdade e da justiça. "Ninguém tem dúvidas do quanto o Dr. António Agostinho Neto fez pela Nação angolana e pelo desenvolvi­mento do nosso País, pela independên­cia dos povos da África e pela promoção da justiça no mundo do qual somos parte integrante."

O reitor da UAN partilha com a vasta audiência um depoimento de um dos membros da ex-Comissão Directiva da então Universida­de de Luanda, um colaborado­r directo do reitor Dr. António Agostinho Neto, para elucidar a visão que o líder transmitia à sua equipa: “Para além do melhoramen­to da formação técnica e cientí ica dos quadros que deviam ser formados, paralelame­nte, era necessário tirar maior proveito dos resultados das pesquisas cientí icas certi icados e publicados, desde os primeiros anos do estabeleci­mento do ensino superior em Luanda, e o rendimento dos equipa- mentos instalados, mau grado a fuga precipitad­a de docentes, dos técnicos de várias especialid­ades e de alguns discente com conhecimen­tos e prática demonstrad­os. Numa Angola que se pretendia moderna, dotada de quadros tecnicamen­te capazes, preparados cienti icamente e treinados para fazerem face as etapas que se avizinhava­m, a Universida­de deveria ter a capacidade de formar pro issionais para garantir de forma soberana que os melhores pusessem o seu saber não somente na execução das actividade­s ligadas as suas especialid­ades, mas também na docência e passarem as suas experiênci­as no decurso das aulas práticas."

Por fim, Pedro Magalhães explica que, como se pode perceber, o reitor Agostinho Neto tinha clara noção do papel duma universida­de no desenvolvi­mento dum País, da relação entre a prática e a teoria. "É tão interessan­te que são exactament­e estas as linhas de orientação que temos procurado perseguir e corrigir ao longo dos tempos", disse, para depois declarar: "eu Pedro Magalhães, reitor da Universida­de Agostinho Neto, confiro ao Dr. António Agostinho Neto, a título póstumo, o título de Doutor Honoris Causa, que lhe foi concedido pela classe académica desta universida­de, de acordo com o que estipula o estatuto orgânico da nossa universida­de." De seguida, a viúva de Agostinho Neto, Maria Eugénia Neto, recebeu do reitor da UAN, Pedro Magalhães, o diploma em papiro, as vestes e a medalha de Reitor.

Maria Eugénia Neto começou por lembrar que naquele dia 25 de Setembro se celebrava o Dia do Trabalhado­r da Saúde, em homenagem ao Dr. Américo Boavida morto em plena luta armada de libertação nacional, e por essa razão, era com bastante honra que recebia o título que a Universida­de Agostinho Neto decidiu render ao seu primeiro reitor e patrono.

"É com profunda emoção que, em meu nome pessoal e da minha família, agradeço a decisão e o gesto da Universida­de Agostinho Neto de outorgar, postumamen­te, a honraria e o grau de Doutor Honoris Causa a António Agostinho Neto, meu esposo e companheir­o de uma vida sem tréguas."

Para Maria Eugénia Neto, o gesto ganha uma nova dimensão no momento em que o país desperta para a necessidad­e de retornar às sábias orientaçõe­s cardeais de Agostinho Neto, nomeadamen­te, primeiro: “a agricultur­a é a base e a indústria o factor decisivo”, segundo: “o mais importante é resolver os problemas do povo” e terceiro: Angola é parte integrante do concerto das nações e deve ter voz igual e participar no progresso da humanidade.

Depois de discorrer sobre os desa ios da agricultur­a alimentar e da indústria agro-alimentar e elencar um conjunto de sectores prioritári­os para redução das importaçõe­s, Maria Eugénia Neto, chama a atenção dos convidados e explica que, quando Agostinho Neto orientou para a solução dos problemas do povo, "o seu objectivo era nortear a governação para o bem do povo e não de uma elite e era destinar os recursos para a saúde, a educação, a habitação, os transporte­s, a água, a electricid­ade, a justiça e outros sectores vitais e não para serem desperdiça­dos numa gestão danosa e ruinosa que nos levou a uma profunda recessão."

Maria Eugénia Neto aproveitou o momento para apelar aos académicos presentes a unir esforços para se concluir, faseadamen­te, o Campus Universitá­rio, por formas a dotar a universida­de de imóveis e infra-estruturas, tais como o icinas, laboratóri­os, hospital universitá­rio e as residência­s dos professore­s e alunos. “A nossa universida­de deve acertar o passo à modernidad­e e desenvolve­r o ensino, a par da investigaç­ão e das diversas áreas de extensão, para que a ciência e a tecnologia em Angola ajudem o cresciment­o de todas regiões do país”, disse.

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 ??  ?? Maria Eugénia Neto recebeu o título de Doutor Honoris Causa atribuído, a título póstumo, para António Agostinho Neto
Maria Eugénia Neto recebeu o título de Doutor Honoris Causa atribuído, a título póstumo, para António Agostinho Neto
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