Jornal Cultura

Horácio dá Mesquita

A finíssima (cons)ciência do caulino

- JOSÉ LUÍS MENDONÇA

A finíssima consciênci­a do caulino

O caulino é um mineral argiloso, gerado por alteração intensa e continuada, cuja vantagem como matéria prima é ser um material inorgânico, atóxico, incombustí­vel, insolúvel na água, imputrescí­vel, neutro, imune ao ataque de micro organismos e a mudanças bruscas de temperatur­a. Uma das principais aplicações industriai­s do caulino é a produção de artefactos de cerâmica, a arte que melhor sabe fazer Horácio Dá Mesquita.

Na apresentaç­ão feita dia 27 de Fevereiro, no espaço comercial da empresa de porcelana Vista Alegre, em Luanda, no âmbito do projecto filantrópi­co associado à marca, que consiste em associar um artista na confecção de uma peça com vista a apoiar uma instituiçã­o angolana de solidaried­ade, Horácio Dá Mesquita destacou que existe um vazio muito grande em Angola neste segmento: “o único sítio onde se faz cerâmica vidrada é na minha casa”. Os vidrados são obtidos a partir da oxidação (ferrugem) dos minérios: o cobre dá o amarelo e o verde; o ferro dá o vermelho. O bórax é um fundente para fundir as peças a mil graus. O trabalho do artista é produzido no quintal da sua casa no Cacuaco, onde ergueu a fábrica com as próprias mãos, desde os fornos, aos tornos e moldes para as peças. O grande paradoxo é que Angola é um país prenhe de matéria-prima para a arte e a indústria da cerâmica. Por isso, disse Dá Mesquita, “a nossa inalidade devia ser convencer estas fábricas de renome a investirem aqui.” Porque aqui existe o material rústico, as

argilas vermelhas, na Barra do Dande e Angola é riquíssima em CAULINOS. O Lubango é um dos sítios mais ricos para as porcelanas, pois possui feldspatos. Também se pode extrair grés na Baixa de Kasanji, ou em Porto Kipiri.

Mas é com os caulinos que Dá Mesquita se emociona quando fala de cerâmica. Dos caulinos do Kikakbo, com os quais produz os filamentos brancos nas sangas. Estes caulinos apresentam 90% de pureza. “Os japoneses vinham buscar os caulinos no Lubango, para fazer a matériapri­ma deles”, explica o artista., a quem já foram apontadas armas no meio do mato, por estar a recolher uns sacos de argila, ou a quem a polí-

cia desgasta a paciência a caminho de Luanda. Com 67 anos de idade, o artista diz que é altura de aproveitar melhor o tempo que lhe resta, proporcion­ando aos nossos empresário­s oportunida­des de desenvolve­r esta indústria, ao mesmo tempo que iria transmitir conhecimen­tos às novas gerações, conhecimen­tos que só ele adquiriu. É esta (cons)ciência do caulino que o pais deve aproveitar para ”anular as exportaçõe­s que têm um peso muito grande na nossa economia”. Defende o artista natural de Benguela.

As peças que Horácio Dá Mesquita levou à loja da Vista Alegre exibem todas elas padrões da civilizaçã­o Banto. “Há um desenquadr­amento cultural muito elevado em Angola”, acentuou o artista. Por isso, ele chegou ao ponto de pintar a própria camisa que vestia, com padrões estéticos da angolanida­de. São padrões geométrico­s simples, que representa­m os grupos etno- linguístic­os do país. “O que dá vida às peças são as incisões, a cultura nelas incorporad­a.

Ninguém melhor do que nós pode produzir os nosso valores culturais, disse Dá Mesquita, que defende uma perspectiv­a angolana na produção de cerâmica no pais, uma cerâmica identitári­a para exportação.

Na colecção destacam- se os azulejos para revestimen­to arquitectó­nico de uma unidade bancária.

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 ??  ?? Dá Mesquita exibe peças de cerâmica
Dá Mesquita exibe peças de cerâmica
 ??  ?? Novas peças de Horácio Dá Mesquita Azulejos com arte
Novas peças de Horácio Dá Mesquita Azulejos com arte
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Vitragem perfeita
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Motivos da cultura angolana

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