Horácio dá Mesquita
A finíssima (cons)ciência do caulino
A finíssima consciência do caulino
O caulino é um mineral argiloso, gerado por alteração intensa e continuada, cuja vantagem como matéria prima é ser um material inorgânico, atóxico, incombustível, insolúvel na água, imputrescível, neutro, imune ao ataque de micro organismos e a mudanças bruscas de temperatura. Uma das principais aplicações industriais do caulino é a produção de artefactos de cerâmica, a arte que melhor sabe fazer Horácio Dá Mesquita.
Na apresentação feita dia 27 de Fevereiro, no espaço comercial da empresa de porcelana Vista Alegre, em Luanda, no âmbito do projecto filantrópico associado à marca, que consiste em associar um artista na confecção de uma peça com vista a apoiar uma instituição angolana de solidariedade, Horácio Dá Mesquita destacou que existe um vazio muito grande em Angola neste segmento: “o único sítio onde se faz cerâmica vidrada é na minha casa”. Os vidrados são obtidos a partir da oxidação (ferrugem) dos minérios: o cobre dá o amarelo e o verde; o ferro dá o vermelho. O bórax é um fundente para fundir as peças a mil graus. O trabalho do artista é produzido no quintal da sua casa no Cacuaco, onde ergueu a fábrica com as próprias mãos, desde os fornos, aos tornos e moldes para as peças. O grande paradoxo é que Angola é um país prenhe de matéria-prima para a arte e a indústria da cerâmica. Por isso, disse Dá Mesquita, “a nossa inalidade devia ser convencer estas fábricas de renome a investirem aqui.” Porque aqui existe o material rústico, as
argilas vermelhas, na Barra do Dande e Angola é riquíssima em CAULINOS. O Lubango é um dos sítios mais ricos para as porcelanas, pois possui feldspatos. Também se pode extrair grés na Baixa de Kasanji, ou em Porto Kipiri.
Mas é com os caulinos que Dá Mesquita se emociona quando fala de cerâmica. Dos caulinos do Kikakbo, com os quais produz os filamentos brancos nas sangas. Estes caulinos apresentam 90% de pureza. “Os japoneses vinham buscar os caulinos no Lubango, para fazer a matériaprima deles”, explica o artista., a quem já foram apontadas armas no meio do mato, por estar a recolher uns sacos de argila, ou a quem a polí-
cia desgasta a paciência a caminho de Luanda. Com 67 anos de idade, o artista diz que é altura de aproveitar melhor o tempo que lhe resta, proporcionando aos nossos empresários oportunidades de desenvolver esta indústria, ao mesmo tempo que iria transmitir conhecimentos às novas gerações, conhecimentos que só ele adquiriu. É esta (cons)ciência do caulino que o pais deve aproveitar para ”anular as exportações que têm um peso muito grande na nossa economia”. Defende o artista natural de Benguela.
As peças que Horácio Dá Mesquita levou à loja da Vista Alegre exibem todas elas padrões da civilização Banto. “Há um desenquadramento cultural muito elevado em Angola”, acentuou o artista. Por isso, ele chegou ao ponto de pintar a própria camisa que vestia, com padrões estéticos da angolanidade. São padrões geométricos simples, que representam os grupos etno- linguísticos do país. “O que dá vida às peças são as incisões, a cultura nelas incorporada.
Ninguém melhor do que nós pode produzir os nosso valores culturais, disse Dá Mesquita, que defende uma perspectiva angolana na produção de cerâmica no pais, uma cerâmica identitária para exportação.
Na colecção destacam- se os azulejos para revestimento arquitectónico de uma unidade bancária.