A perada do João Corcunda
casal, que seguia taciturno, passou sem dar pela presença deles e entrou no quintal do kota João Corcunda.
- É a Panchola!!! – baixinho, em uníssono, disseram os dois. Reconheceram a mulher, assim que se virara ao entrar. Se o macho era inconfundível por causa da sua corcunda, já ela era pela sua avantajada bunda. Sem igual.
Obnubilados pelo que acabavam de ver, os dois amigos ficaram com as cabeças às voltas. Um silêncio funesto veio fazer- lhes companhia. Nas cachimónias, cada um tentava juntar as peças. A Panchola vivia na rua de trás. Era, sem medo de errar, a mais linda e mais cobiçada cachopa do bairro. Atolados em divagações, sentiram o silêncio que os comandava a ser corrido. Quem o corria era o tilintar do “molho” de chaves que o kota Das Chaves tinha pendurado num dos guarda- cintos frontais das suas calças.
- Kota Das Chaves!! – o Kito chamouo numa voz baixa.
Kota Das Chaves, tomado por repentino susto, cortou a azáfama que trazia nos pés. Quedou- se. O tilintar das suas chaves voltou a ceder o poder ao silêncio. Os dois amigos descolaram as nádegas da pedra. Abeiraram- se dele.
- Olha, nesta escuridão, não podem chamar assim um gajo. Querem me bondar do coração ou quê?! Eu já estou a andar cheio de medo. Nunca mais façam isso. – kota Das Chaves disse numa voz ofegante. Estava mesmo assustado.
- Desculpa lá, kota. É que não deu para ser de outra forma. O João Corcunda entrou na casa dele com a Panchola… - Kito falou, sempre num tom baixo.
- O quê?! O mulumbeiro?! Vocês viram bem, é mesmo a Panchola?! – kota Das Chaves, num repente, cambiou o susto pela pasmaceira. Fez-se incrédulo de verdade.
- Ó kota, então não a conhecemos!!? É ela mesmo. – ripostou o Zevares, com certo aborrecimento na voz, mas conseguiu mantê- la num tom baixo.
Kota Das Chaves levou a mão direita à cabeça. Seguramente, na sua cachola, procurava também por respostas para aquele inusitado caso. Kota Das Chaves nunca rebuçara o seu grande desejo de um dia ter a linda Panchola nos seus braços. Razão que levou os dois amigos a esquecer o motivo que os mantinha na rua deserta e escura. - Vamos sentar! – Zevares propôs. Ao andar, pela lentidão, kota Das Chaves parecia que calçava sapatos de chumbo. Abancados, o silêncio avassalou- os de chofre. Enquanto o tempo passava por eles, kota Das Chaves não conseguia desprender os olhos cheios de pasmo do portão do João Corcunda. Seguramente, na