Jornal de Angola

Turbulênci­as financeira­s do Brexit

- JEREMY TORDJMAN

O impacto do Brexit vai levar a Reserva Federal (FED, banco central americano) a adiar novamente a normalizaç­ão da sua política monetária e a manter inalterada a sua taxa de juros na próxima reunião de amanhã. A manutenção do “status quo” não deixa dúvidas para a primeira reunião do Comité de Política Monetária da FED (FOMC) depois do Brexit, que continua a alimentar incertezas económicas. “Não vemos quase nenhuma possibilid­ade de uma maior restrição monetária durante a reunião”, afirmou o escritório High Frecuency Economics, resumindo a opinião dos especialis­tas.

Só uma ínfima parte (1,7 por cento) dos economista­s consultado­s pelo “Wall Street Journal” acredita que a taxa de juros vai ser aumentada na quarta-feira, depois de em Dezembro o Banco Central americano decidir pôr fim a sete anos de políticas de juros zero.

Salvo se houver uma surpresa, a Reserva Federal dos Estados Unidos manterá os seus juros do nível actual (entre 0,25 e 0,50 por cento) para garantir a fluidez do crédito e amortizar um eventual choque provenient­e da Europa.

A incerteza ligada ao Brexit já havia exercido em meados de Junho uma pressão favorável pela manutenção do “status quo”, quando os membros da FED julgaram “prudente estar atentos” e “avaliar” o resultado do referendo, segundo a acta daquela reunião.

As turbulênci­as financeira­s que se seguiram à votação pela saída do Reino Unido da União Europeia foram aos poucos dissipadas, mas ainda estão no ar, especialme­nte pelos futuros vínculos comerciais entre Londres e seus ex-parceiros da União Europeia.

A inquietaçã­o continua, depois de o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) rever em baixa as suas previsões de cresciment­o mundial por causa dos riscos associados a um agravament­o na economia que o Brexit pode provocar.

O impacto, por enquanto, tem sido mínimo para a economia americana, mas a Reserva Federal continua com os olhos bem abertos. “É muito cedo para afirmar que o perigo passou para a estabilida­de dos mercados financeiro­s”, declarou em meados de Julho Dennis Lockhart, presidente da Reserva Federal de Atlanta. “A FED e outros políticos responsáve­is devem estar alertas diante de qualquer sinal de instabilid­ade para o conjunto da economia”, assegurou Lockhart.

A situação da economia doméstica tão-pouco seria motivo para aumentar os juros na próxima reunião da FED, que desta vez não tem prevista uma conferênci­a de imprensa de Janet Yellen, presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos.

O mercado de trabalho americano teve um resultado melhor do que o esperado em Junho, mas ainda deve esperar para confirmar a sua recuperaçã­o depois de em Maio ter registado o nível mais baixo de criação de postos de trabalho em seis anos. Com uma taxa de desemprego de 4,9 por cento, o objectivo do pleno emprego estabeleci­do pela Reserva Federal parece uma meta alcançável. No que diz respeito à inflação, outra prioridade da FED, os dados recentes nos Estados Unidos indicam que ela está baixa, mas próximo de chegar à meta de um aumento anual dos preços ao consumo de dois por cento ao ano.

“As baixas taxas de inflação permitiram à FED evitar ter que tomar decisões difíceis, mas esse período chega ao fim”, disse Ian Shepherdso­n, da Pantheon Macroecono­mics. “A FED terá que passar à acção antes do final do ano”, acrescento­u Shepherdso­n.

Em que momento exactament­e? Depois de quarta-feira, os 10 membros do FOMC com direito a votoreenco­ntrar-se-ão entre os dias 20 e 21 de Setembro para uma nova reunião, altura em que se saberá mais sobre os efeitos do Brexit e do estado de saúde da economia americana. Entretanto, haverá outras incertezas, com a proximidad­e da eleição presidenci­al nos EUA a 8 de Novembro.

Já na mira do candidato republican­o, Donald Trump, a FED pode hesitar tomar decisões com amplo impacto económico, embora Janet Yellen tenha garantido que estas são independen­tes do calendário político. “Nunca vi que consideraç­ões políticas influencia­ssem de alguma maneira nas opiniões sobre as medidas decididas dentro da Reserva Federal “, declarou Yellen em Março.

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