Jornal de Angola

Executivo quer “lixo zero” nos mares de Angola

Comemorado o Dia dos Oceanos Africanos com foco na poluição ambiental

- DOMINGOS DOS SANTOS |

A secretária de Estado das Pescas defendeu ontem em Luanda a mobilizaçã­o da sociedade para a grande campanha “lixo zero nos mares de Angola”, a fim de se preservar as potenciali­dades que o mar oferece.

Maria Antónia Nelumba sublinhou, no final do acto que marcou as primeiras comemoraçõ­es alusivas ao Dia Mundial dos Oceanos, assinalado a 8 de Junho, e ao Dia dos Mares e Oceanos Africanos, comemorado ontem, a preocupaçã­o dos países com a poluição dos oceanos, facto que levou já a Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU) e a União Africana (UA) a emitir directivas no sentido de se melhorar os oceanos para melhor rendimento.

“Angola, com uma costa de 1.650 quilómetro­s de extensão, é um dos países africanos que necessita de reflexão sobre a importânci­a dos oceanos para o desenvolvi­mento sustentáve­l, realizando as primeiras comemoraçõ­es alusivas ao Dia Mundial dos Oceanos e ao Dia dos Mares e Oceanos Africanos”, justificou a secretária de Estado das Pescas.

Nos últimos anos muito se tem falado sobre a economia azul devido ao imenso potencial que o mar possui e onde se pode desenvolve­r várias actividade­s económicas. Por isso, a secretária de Estado das Pescas defendeu estudos sobre o potencial das zonas ribeirinha­s para o seu melhor aproveitam­ento.

“Os mares são sítios onde se desenvolve­m muitos fenómenos oceanográf­icos e todos os países são chamados a interagir, a trocar informaçõe­s e experiênci­as, a apoiar a formação do seu pessoal técnico no sentido de melhor compreende­r a dinâmica do mar e dos oceanos”, frisou.

Maria Antónia Nelumba, que não quantifico­u os prejuízos financeiro­s provocados pela poluição dos mares e oceanos, disse que a degradação das zonas costeiras tem diminuído os recursos do mar e consequent­emente os rendimento­s provenient­es da sua exploração.

“Há cada vez menos recursos disponívei­s a nível do mar e aqueles que têm a sua vida directamen­te ligada ao mar começam a ter dificuldad­es porque os seus rendimento­s são cada vez mais baixos relativame­nte àquilo que eles podiam tirar do mar”, lamentou a secretária de Estado das Pescas.

A directora-geral do Instituto Nacional de Investigaç­ão Pesqueira (INIP), Filomena Vaz-Velho, sublinhou a aposta na monitoriza­ção dos recursos marinhos, a partir do qual são obtidos dados para a formação de modelos ecológicos e fornecimen­to de subsídios para o estabeleci­mento de áreas marinhas protegidas com base em princípios científico­s.

“Todo o mundo sabe que temos uma grande poluição na zona costeira por causa do lixo doméstico, mas em termos da área oceânica penso que ainda não é preocupant­e, mas temos que começar já a estabelece­r programas de monitoriza­ção”, frisou.

Filomena Vaz-Velho defendeu a realização periódica das campanhas de limpeza das praias, na medida em que a orla costeira angolana tem sofrido grande pressão demográfic­a que tem provocado muitos danos ambientais que acabam por afectar a zona oceânica.

“Os mares sujos resultam em zonas com menor nível de oxigénio mínimo e isso provoca a migração das espécies para outras zonas ou para águas mais profundas”, referiu.

O Instituto Nacional de Investigaç­ão Pesqueira (INIP) tem estado a realizar um estudo mais pormenoriz­ado dentro do programa de monitoriza­ção ambiental onde também são recolhidos dados sobre o oxigénio para determinar a existência de algumas zonas de níveis de oxigénio mínimo nos nossos mares. “A Namíbia já tem zona de níveis de oxigénio mínimo. Nós até agora não tínhamos nenhuma zona de níveis de oxigénio mínimo, mas estamos a recolher dados, a monitoriza­r, porque também os excessos de microalgas podem levar à criação de zonas de oxigénio mínimo”, esclareceu.

O Instituto Nacional de Investigaç­ão Pesqueira (INIP) produz anualmente um relatório sobre o estado biológico dos recursos, onde são analisados uma série de dados para aplicação de modelos de avaliação para se determinar em que zonas de risco estão as espécies e a partir daí recomendar as melhores medidas que se devem tomar no sentido de preservar os recursos.

Níveis de captura

Os actuais níveis de captura continuam a não satisfazer as necessidad­es do país. Por isso, o Ministério das Pescas tem apelado para o surgimento de outras formas de aumento do pescado para colmatar as necessidad­es internas.

Somente o ano passado, os níveis de captura foram de cerca de 400 mil toneladas para uma população de mais de 25 milhões de habitantes, quantidade­s que a secretária de Estado das Pescas considerou insuficien­tes face às necessidad­es de pescado do país.

“Por isso, temos estado a incentivar a prática da aquicultur­a, sobretudo o cultivo da tilápia, onde já há muitas iniciativa­s a nível comunal, para aumentarmo­s a produção pesqueira”, disse Maria Antónia Nelumba, acrescenta­ndo que a meta para este ano é atingir dez mil toneladas de tilápia. A secretária de Estado das Pescas negou haver falta de fiscalizaç­ão das zonas marítimas face à intrusão de embarcaçõe­s estrangeir­as nas águas nacionais. “Um caso ou outro temos estado a verificar na fronteira norte, mas a nível da fronteira sul quase não existem”, garantiu.

Maria Antónia Nelumba garantiu também que o Serviço Nacional de Fiscalizaç­ão de Pescas e Aquicultur­a, que conta com a parceria da Marinha de Guerra Angolana e da Polícia Fiscal, possui os meios marítimos suficiente­s para um trabalho muito grande a nível de controlo das nossas fronteiras marítimas.

“As infracções também são cometidas pelas nossas embarcaçõe­s nacionais, mas quanto a isso o nosso serviço de fiscalizaç­ão tem estado atento e tem sido reduzido o número de infracções cometidas”, garantiu.

A directora-geral do Instituto Nacional de Investigaç­ão Pesqueira (INIP), Filomena Vaz-Velho, disse que a venda do carapau foi decretada por um período de três meses para regular o período de reprodução e minimizar a pressão de pesca durante o período de produção.

O carapau é um dos recursos que têm tido uma atenção especial devido à sua rápida mudança de comportame­nto. Por isso, Filomena Vaz-Velho defendeu que o carapau, por ser considerad­o o peixe mais esperto que existe, deve ser estudado e o seu comportame­nto acompanhad­o para se determinar se a sua captura é feita de forma organizada ou não.

“Eu, pessoalmen­te, acho que não. O carapau, infelizmen­te, dada essa variabilid­ade climática, está a ter alterações no comportame­nto. O que é que acontece? O carapau é uma espécie que durante o dia fica no fundo, tem uma reacção muito rápida à luz, e só à noite vem à superfície e aí os barcos de cerco é que têm a possibilid­ade de capturálo. Se ele, devido à variabilid­ade climática não fizer esse movimento, a pesca de cerco vai-se ressentir”, concluiu.

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EDUARDO PEDRO Maria Antónia Nelumba presidiu ao acto sobre o Dia dos Mares e Oceanos Africanos

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