“Dever patriótico deve estar acima de tudo”
ZÉ CARLOS GUIMARÃES INCENTIVA ATLETAS
Jornal de Angola - Como jogador de referência da Selecção Angolana de Basquetebol em duas edições de Jogos Olímpicos (Barcelona 1992 e Atlanta 1996) que mensagem deixa aos atletas olímpicos que vão ao Rio 2016?
José Carlos Guimarães -
Agradeço antes de mais a oportunidade de voltar a esta casa (Jornal de Angola), onde estive pela primeira vez em 1980, quando ganhámos o Campeonato Africano de Basquetebol em Juniores, cá em Luanda. Hoje, trinta e seis anos depois, continua a ser um prazer imenso estar cá a falar sobre desporto, sobretudo com pessoas conhecedoras da matéria. Aos atletas, recomendo que tenham em conta que vão à maior festa desportiva, onde poderão interagir com os melhores desportistas do mundo, trocar experiências culturais, etc., mas, no fim, é triste ver partir aquelas pessoas com as quais se faz amizade. Tenham em conta, antes de mais, que ir à selecção nacional é cumprir um dever patriótico, é representar toda uma nação. Os atletas devem estar disponíveis a consentir sacrifícios em prol do país e, apesar do momento de crise, os treinadores devem dar o melhor de si, cientes de que não teremos as condições que já tivemos, mas podemos manter a motivação de lutar pelo melhor.
JA - Perante o quadro actual que resultados desportivos podemos esperar?
JCG -
Dificilmente teremos bons resultados, porque os orçamentos destinados ao desporto também estão sujeitos a cortes e isso irá limitar o alcance de níveis óptimos de preparação desportiva. Não podendo participar em torneios pré-competitivos com 10 ou 12 jogos ao mais alto nível, antes da competição, e trabalhar um mês e meio ou dois antes, para atingir um estado de forma aceitável, não há milagres. É improvável que consigamos chegar a patamares já antes atingidos, face à situação económica que vivemos. De forma aleatória, poderá surgir uma ou outra coisa boa na performance. Mas, da mesma forma que atletas e treinadores têm consciência das limitações no processo de preparação, também o público e dirigentes devem compreender que os resultados podem não ser os que gostaríamos ou poderíamos atingir, com outras condições.
JA - Quais foram os ganhos e quais as perdas do desporto actual, comparativamente ao tempo em que jogava?
JCG -
Aparentemente, perdeu-se pouco. Muito se ganhou, em termos financeiros. Porém, feitas as contas, o efeito negativo daquilo que se perdeu é muito grande, se tivermos em conta os êxitos desportivos do passado. Tive o privilégio de poder participar em todos os ciclos de evolução do nosso desporto, no período pósindependência. É inquestionável o grande contributo dado pelo Governo e por diversas pessoas singulares, para que atingíssemos um nível elevado em várias modalidades. Houve períodos difíceis, em que tivemos que definir prioridades, estabelecer princípios de actuação, etc. e, até aos anos 90, ainda tivemos um crescimento sustentado pelo desporto escolar. Éramos adversários no clube, mas colegas na escola. O basquetebol e o andebol feminino destacaram-se das demais modalidades e eram, no período da guerra, verdadeiros embaixadores de Angola no exterior. Ganhávamos pouco, em relação àquilo que trabalhávamos. Chegámos a treinar 8 horas por dia, o que hoje é impensável, mas, fizeram-se grandes campeões, apesar das muitas lesões que também apareceram. Actualmente, há uma gran