Provas de vida
De uma maneira geral somos compelidos a ter que prestar uma qualquer prova de vida, mesmo que ela não seja mais do que uma fortuita aparição destinada a afugentar zumbidores incómodos.
Mas nem todos se enfadam com essas presenças. Tem gente que se mostra com deleite evidente e ukambambote, demonstram-no com tento e requinte de quem nada tem a recear do mundo. Grata sensação! É pena que esse prazer se confine apenas aos afortunados da praxe. Há quem dessas exibições se ofenda, ou invejem. Mas a obrigação de fazer prova de vida passou a ser aceite de uma maneira quase consensual.
A sociedade subitamente deu-se conta que estava rodeada de fantasmas e teve de reagir. Os próprios funcionários públicos que primavam pelas suas ausências, tiveram que passar a ter um outro relacionamento com o trabalho, mesmo que só e apenas de forma esporádica. Nos últimos tempos foi-se ao extremo de se lhes exigir a assinatura na folha de salários. Essa exigência drástica não atingiu os pensionistas, o que foi uma decisão de bom senso, pois o espectáculo anual da prova de vida dos pensionistas, ainda que necessário, é deveras acabrunhante.Tive essa percepção recentemente, aquando do cumprimento da obrigação do simples acto administrativo de confirmar a minha existência.
Os pensionistas não estão em rede como é suposto acontecer com os da nova geração e o tempo não lhes preserva das contingências. Foi o que me aconteceu num dia destes em que dei pela ausência de antigos pensionistas.
Então matutei, cada vez, quem sabe, nem todos estarão muito convencidos de ainda estar vivos,pensei.A confraternização dos velhos correligionários tendia a desaparecer e com ela os derradeiros elos capazes de fazer ressurgir as antigas conivências.Alguns deles até já se recusam a recordá-las. Envergonham-se das suas muletas ou maleitas agravadas pela crise.
Não obstante há quem não se sujeite a essas explicações, sobretudo os que recebem pensões inferiores a dois mil kwanzas por mês! É claro que as Companhias de Seguros têm condicionalismos que estão para além destas minhas observações casuísticas, não de todo isentas de um certo grau de partidarismo.