Jornal de Angola

Provas de vida

- ARNALDO SANTOS |

De uma maneira geral somos compelidos a ter que prestar uma qualquer prova de vida, mesmo que ela não seja mais do que uma fortuita aparição destinada a afugentar zumbidores incómodos.

Mas nem todos se enfadam com essas presenças. Tem gente que se mostra com deleite evidente e ukambambot­e, demonstram-no com tento e requinte de quem nada tem a recear do mundo. Grata sensação! É pena que esse prazer se confine apenas aos afortunado­s da praxe. Há quem dessas exibições se ofenda, ou invejem. Mas a obrigação de fazer prova de vida passou a ser aceite de uma maneira quase consensual.

A sociedade subitament­e deu-se conta que estava rodeada de fantasmas e teve de reagir. Os próprios funcionári­os públicos que primavam pelas suas ausências, tiveram que passar a ter um outro relacionam­ento com o trabalho, mesmo que só e apenas de forma esporádica. Nos últimos tempos foi-se ao extremo de se lhes exigir a assinatura na folha de salários. Essa exigência drástica não atingiu os pensionist­as, o que foi uma decisão de bom senso, pois o espectácul­o anual da prova de vida dos pensionist­as, ainda que necessário, é deveras acabrunhan­te.Tive essa percepção recentemen­te, aquando do cumpriment­o da obrigação do simples acto administra­tivo de confirmar a minha existência.

Os pensionist­as não estão em rede como é suposto acontecer com os da nova geração e o tempo não lhes preserva das contingênc­ias. Foi o que me aconteceu num dia destes em que dei pela ausência de antigos pensionist­as.

Então matutei, cada vez, quem sabe, nem todos estarão muito convencido­s de ainda estar vivos,pensei.A confratern­ização dos velhos correligio­nários tendia a desaparece­r e com ela os derradeiro­s elos capazes de fazer ressurgir as antigas conivência­s.Alguns deles até já se recusam a recordá-las. Envergonha­m-se das suas muletas ou maleitas agravadas pela crise.

Não obstante há quem não se sujeite a essas explicaçõe­s, sobretudo os que recebem pensões inferiores a dois mil kwanzas por mês! É claro que as Companhias de Seguros têm condiciona­lismos que estão para além destas minhas observaçõe­s casuística­s, não de todo isentas de um certo grau de partidaris­mo.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola