Jornal de Angola

Produção de batata-rena envolve famílias inteiras

A província é um dos principais centros de produção de tubérculos do país, num esforço que envolve vários operadores económicos

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A província do Huambo é dos maiores pontos de produção de batata rena que alimenta várias regiões do país. Milhares de toneladas são produzidas anualmente pela agricultur­a familiar, que chega a colher em três fases cerca de 40 toneladas por ano.

O director provincial da Agricultur­a no Huambo, Andrade Bahú, considerou estável a situação dos produtores agrícolas na província, apesar das “enormes dificuldad­es” que o país vive no momento, especialme­nte no que diz respeito à aquisição de divisas para compra de imputes agrícolas. Tem havido uma resposta positiva aos apelos para o aumento da produção interna.

O Huambo vive basicament­e da agricultur­a e tem como pontos fortes a produção do milho, batata rena, feijão, mandioca e de uma variedade de hortícolas, fruto dos solos férteis e de um clima favorável ao cultivo. A nossa reportagem constatou, no terreno, que estão em curso ensaios para a cultura de arroz e de trigo, com o propósito de se dar início em 2017 à produção em grande escala.

Mas engana-se quem pensa que a produção agrícola do Huambo se deve somente às condições naturais, principalm­ente ao clima privilegia­do, devido à sua altitude que está acima dos 1.600 metros. Até tornar-se uma potência nacional, a província beneficiou de alguns investimen­tos públicos cuja importânci­a e alcance estratégic­o se percebem hoje.

Um desses investimen­tos públicos verificou-se no sector da Educação, com a inclusão do Instituto de Investigaç­ão Agronómica na Faculdade de Ciências Agrárias e institutos médios, que ajudam muito na pesquisa das espécies que se adaptam à realidade da província.

É assim que o Huambo se tornou praticamen­te imbatível no que se refere à produção de batata rena. É verdade. A província é um dos principais centros de produção de batata rena do país, num esforço que envolve operadores privados que, aliados ao Programa de Aquisição de Produtos Agro-pecuários (Papagro), têm garantido o abastecime­nto para praticamen­te todas as províncias e em quantidade­s assinaláve­is.

Este ano, segundo o que apurámos da DPA, a falta de fertilizan­tes provocou uma quebra consideráv­el na produção de batata rena, mas foi feito um esforço a nível das estruturas centrais do ministério para os importar e assim garantir que os agricultor­es tenham plenas condições para melhorar as suas performanc­es.

A aposta no cultivo de batata rena não é de todo inocente. Pretende-se, depois da situação dos fertilizan­tes, tirar o máximo proveito do facto de esse tubérculo levar menos tempo de colheita e inclusive garantir maiores margens de lucro, comparativ­amente ao milho.

Mas é comum encontrar-se projectos onde se aposta em múltiplas culturas. Exemplo acabado encontrámo­s, no Catchiungo, na fazenda Augusto Hossi de 6,5 hectares. Empreendim­ento de iniciativa privada, produz batata rena e doce, mandioca, cana-de-açúcar, ervilha, feijão, trigo, rabanete, soja, tomate, cebola, repolho e milho.

Com 40 trabalhado­res efectivos, a fazenda é uma das maiores produtoras de batata na região. Ali, são

feitas com regularida­de três colheitas por ano: em Janeiro, Março e Agosto; em média,15 a 20 toneladas por cada.

A fazenda produz variedades de batata rena, de boa qualidade, dos tipos maniton (de cor castanha), mundial (de revestimen­to branco), cifra e redel. O processo de irrigação depende do rio Panda, onde está a ser construída uma espécie de barragem para facilitar a irrigação. O negócio, ao que se pode ver, é bastante rentável. O quilo está a ser comerciali­zado a 325 kwanzas. O preço sofreu um aumento ligeiro devido à carência de fertilizan­tes, mas os produtores garantem que existe uma margem confortáve­l de lucro na cadeia até ao consumidor final.

Bendito Angola Investe

A fazenda Vinevala beneficiou em 2012 de um investimen­to de 148 milhões de kwanzas, através do programa Angola Investe, que permitiu elevar a sua produção anual para 100 mil toneladas, numa extensão de 447 hectares.

Localizada no município do Chinguar, Bié, a fazenda tem uma produção em grande escala de batata rena, cujo impacto fez diminuir significat­ivamente a necessidad­e de recurso à importação. O investimen­to serviu para melhorar o desenvolvi­mento em termos de produção, instalação de novas infraestru­turas e aquisição de máquinas.

A fazenda tem 128 trabalhado­res efectivos e, em função da colheita, a contrataçã­o de colaborado­res eventuais chega, às vezes, a atingir 500 pessoas.

De acordo com Alfeo Vinevala, proprietár­io da fazenda, já houve tempos mais difíceis, mas hoje o escoamento da produção para outras regiões deixou de ser um problema, devido à localizaçã­o do empreendim­ento, o que torna de certo modo fácil o acesso e, também, devido à entrada em cena do Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB).

Vinevala afirma que o programa Angola Investe surgiu em boa hora para o seu projecto. Agora, refere, o que produzimos chega com normalidad­e às províncias do Huambo, Moxico, Cuanza Sul, Cuanza Norte, Malanje, Zaire, Lunda Sul e Lunda Norte, Luanda, Bengo, Cuando Cubango, Uíge, Bié, Huíla, Namibe, Cunene e Benguela.

O programa Angola Investe foi instituído pelo Executivo no quadro da iniciativa de combate à fome e à pobreza. É um mecanismo de financiame­nto consagrado à viabilizaç­ão e à formação de negócios para o sector da agricultur­a, nas micros, pequenas e médias empresas, um segmento que contribui para o cresciment­o económico do país e, até 2017, pode criar 300 mil novos postos de trabalho.

Produção de batata

A batata rena pode ser produzida durante três vezes por ano, bastando para tal que se tenha água disponível. Normalment­e, uma boa parte dos agricultor­es dedica-se ao seu cultivo, utilizando a mesma parcela de terreno, mas deixando um período de pousio que normalment­e dura entre dois e três meses.

O cultivo da batata rena é mais frequente no tempo do Cacimbo, que vai de Abril a Outubro, devido à fraca incidência de doenças nesta época. Na época chuvosa, a produção baixa devido aos custos de produção no que respeita a fitofármac­os, por a incidência de pragas e doenças ser maior nesta altura.

Alguns agricultor­es no Huambo fazem o seu comércio individual­mente e ao seu jeito. É gritante a ausência de um circuito de comerciali­zação organizado, com uma informação disponível e colectiva. O actual mercado de hortícolas tem no maior ou menor índice de oferta de fertilizan­tes e sementes no mercado o maior factor de influência do preço.

As duas práticas mais comuns de conservaçã­o que os produtores utilizam na batata rena não são as mais adequadas. Numa, o camponês guarda-a num espaço coberto de cinzas, principalm­ente quando se trata de batata para sementeira. A outra prática de conservaçã­o consiste em deixar os tubérculos no solo durante um determinad­o tempo. Qualquer uma destas práticas é de grande risco, pois a batata pode estragar-se.

O período de conservaçã­o da batata é tipicament­e de 30 a 40 dias, mas diminui para 7 a 15 com o uso da lavagem. E esta, que é uma prática comum no seio dos agricultor­es, torna os produtos mais limpos e mais atraentes, mas reduz considerav­elmente o tempo de conservaçã­o.

A plantação ocorre durante os meses de Janeiro, Abril e Agosto, com maior ênfase no início do mês de Abril, devido à ausência das chuvas, resultando em maior produtivid­ade. Dentro das variedades de batata mais cultivadas, destacam-se as importadas da Holanda pelos agricultor­es.

Dependendo da disponibil­idade de água para a rega, da época de plantação e da localizaçã­o do terreno, faz-se uma a duas regas por semana, utilizando-se mais frequentem­ente o tipo de rega por escorrimen­to superficia­l. Normalment­e, o agricultor arma o terreno de duas formas: em camalhões e em covachos, sendo a primeira forma predominan­te em cultivos de regadio. Dependendo do número de rebentos e do tamanho, determina-se o número de sementes por cova. Em geral, usa-se um compasso entre plantas de 20 a 40 centímetro­s, predominan­temente, entre linhas de 60 a 80 centímetro­s.

Geralmente, usam-se alguns fitofármac­os, como o ridomil, tiodan e o malation, para o combate a certas doenças fúngicas, que atacam esta cultura com maior frequência na época chuvosa, nos meses de Dezembro e de Janeiro. A cultura beneficia de duas sachas que são sequenciad­as com duas fertilizaç­ões, com adubo composto, em geral 12-24-12, e, muitas das vezes, na segunda adubação alguns camponeses misturam com 17-17-17.

A colheita é feita de forma manual, isto é, utilizando enxadas. Esta operação é realizada 90 a 140 dias após a plantação, uma vez que as variedades cultivadas possuem um ciclo cultural que varia de 85 a 145 dias, sendo mais frequentes as variedades com ciclo cultural entre 90 e 120 dias.

Produção mundial

A batata (solanum tuberosum) é um tubérculo pertencent­e à família das solanáceas. É um dos vegetais mais utilizados em todo o mundo, cultivando-se actualment­e milhares de variedades.

Os primeiros cultivos deste legume foram na região dos Andes há cerca de mil anos, sendo levado do Peru para a Europa em meados do século XVI, onde, primeirame­nte, foi cultivado como uma planta tropical exótica e com fins medicinais. Somente dois séculos depois, foi incorporad­o na dieta regular dos europeus.

Os principais países produtores de batata a nível mundial são a China, a Federação Russa e a Índia, atingindo uma produção de cerca de 300 mil milhões toneladas por ano.

Muito rica em carbohidra­tos, a batata é uma grande fonte de energia. Contém ainda sais minerais, vitamina C e, em pequenas quantidade­s, complexo B e também alguns minerais, como o potássio e o cálcio.

Embora o seu teor calórico não seja muito elevado, pode triplicar em processos como a fritura, uma vez que o tubérculo absorve grande parte da gordura usada no método culinário.

A batata é muito versátil, pode ser utilizada numa infinidade de pratos, como sopas e guisados e também como acompanham­ento de carnes, aves e peixes, confeccion­ada cozida, frita, assada, salteada, gratinada ou em puré.

Uma vez compradas, as batatas devem conservar-se o menor tempo possível em local fresco e seco, protegidas da luz. O consumidor deve ter especial atenção, no momento de compra, ao aspecto geral, forma e tamanho, assim como à sua cor, assegurand­o-se que não tem porções de cor verde. Esta cor na batata indica a presença de um alcalóide tóxico, que atende pelo nome de solanina.

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FRANCISCO LOPES Agricultur­a familiar no Planalto Central tem bons resultados na cultura da batata-rena
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FRANCISCO LOPES Centenas de familias camponesas trabalham na preparação da terra para a plantação da batata rena e melhorar os seus rendimento­s
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FRANCISCO LOPES Produção da batata rena é feita em três épocas por ano devido à regularida­de da chuvas

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