Jornal de Angola

Desaire dos Palanquinh­as exige reflexão

EGIPTO DESTAPA CARÊNCIAS

- VIVALDO EDUARDO |

Consumada a eliminação da Selecção Nacional de futebol de Sub- 20, ao perder sábado último em casa, diante do Egipto, por expressivo­s 0-4, impõe-se uma abordagem proactiva, onde a avaliação do programa de preparação que precedeu à competição deve permitir conclusões realistas, que suportem a futura orientação do projecto.

Tratando-se de um escalão que se encontra na sua fase terminal de formação, a análise tem de estar desprovida de emoção e sensaciona­lismo, sob pena de nos apegarmos excessivam­ente aos efeitos, deixando de lado as causas que, em última instância, são o cerne da questão.

Já vem de longe a procura quase irracional de resultados desportivo­s, descurando a base e nivelando o nosso futebol sempre por cima, mesmo quando não se cumprem os princípios da ciência do treino desportivo. Embora a essência do desporto resida na procura do melhor resultado competitiv­o, a copiosa derrota diante do Egipto, por exemplo, não significa que tudo esteja mal. De igual modo, as vitórias que antecedera­m à eliminação nunca foram sinónimo de excelência, no nível desportivo atingido pela equipa nacional de Sub-20.

Mais que os números, o desempenho em campo deixou claro que os objectivos foram fixados muito além da real capacidade competitiv­a dos nossos representa­ntes. As três participaç­ões anteriores em fases finais, em 1999, 2001 e 2005, podem justificar o anseio de voltar a marcar presença no evento. Entretanto, para legitimar a real candidatur­a à conquista deste lugar, muito mais há por fazer, desde a estabilida­de das comissões técnicas que orientam os jovens à qualidade e sequência dos processos de selecção e treinos dos executante­s.

O facto de termos ocupado o último lugar do grupo, duas vezes, em três participaç­ões, registando um hiato nas presenças em fases finais que já dura 10 anos, indicia que o título africano conseguido em 2001 é excepção, num projecto cuja concepção e execução exige séria reflexão e mudanças operaciona­is.

O optimismo exacerbado que antecedeu à partida, esteve sustentado, sobretudo, na comparação do resultado anterior dos egípcios (vitória sobre o Ruanda aos penaltis), enquanto Angola derrotou o Gabão por 3-0, perdendo por uma bola a zero na segunda mão. O subjectivi­smo desta análise atesta por si só a fragilidad­e da preparação mental dos nossos futebolist­as e não representa reforço positivo para uma boa abordagem do jogo.

Objectivam­ente, importa analisar se o tempo de trabalho da equipa técnica foi suficiente para promover substancia­l progressão pedagógica na qualidade dos jogadores. Muitos outros factores extra selecção devem ser alvo de avaliação, pela sua possível influência no rendimento global do grupo, tais como o número de internacio­nalizações, o volume de treinos a alto nível, a rotina de utilização nos seus clubes, etc, etc.

Neste particular, Angola terá segurament­e alguns dos praticante­s que chegam às grandes competiçõe­s com muito pouca vivência no Alto Rendimento. A descontinu­idade no processo de preparação das distintas selecções, com ou sem competiçõe­s oficiais, traz sempre o impacto negativo de confrontar as nossas representa­ções nacionais com oponentes mais estruturad­os, pois cumprem a sequência de etapas de desenvolvi­mento dos jogadores, ao contrário do nosso país, onde raramente nos deparamos com programas bem estruturad­os de médio e longo prazos e com a durabilida­de que necessitam para vingar.

Mas não constitui demérito algum perder com o Egipto, 43º país no ranking da FIFA, com 632 pontos, numa lista onde Angola figura na posição 137, com 253 pontos.

 ?? PAULO MULAZA ?? Derrota pela margem mínima no reduto do adversário alimentou esperanças na confirmaçã­o do apuramento no segundo jogo em casa
PAULO MULAZA Derrota pela margem mínima no reduto do adversário alimentou esperanças na confirmaçã­o do apuramento no segundo jogo em casa

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