Desaire dos Palanquinhas exige reflexão
EGIPTO DESTAPA CARÊNCIAS
Consumada a eliminação da Selecção Nacional de futebol de Sub- 20, ao perder sábado último em casa, diante do Egipto, por expressivos 0-4, impõe-se uma abordagem proactiva, onde a avaliação do programa de preparação que precedeu à competição deve permitir conclusões realistas, que suportem a futura orientação do projecto.
Tratando-se de um escalão que se encontra na sua fase terminal de formação, a análise tem de estar desprovida de emoção e sensacionalismo, sob pena de nos apegarmos excessivamente aos efeitos, deixando de lado as causas que, em última instância, são o cerne da questão.
Já vem de longe a procura quase irracional de resultados desportivos, descurando a base e nivelando o nosso futebol sempre por cima, mesmo quando não se cumprem os princípios da ciência do treino desportivo. Embora a essência do desporto resida na procura do melhor resultado competitivo, a copiosa derrota diante do Egipto, por exemplo, não significa que tudo esteja mal. De igual modo, as vitórias que antecederam à eliminação nunca foram sinónimo de excelência, no nível desportivo atingido pela equipa nacional de Sub-20.
Mais que os números, o desempenho em campo deixou claro que os objectivos foram fixados muito além da real capacidade competitiva dos nossos representantes. As três participações anteriores em fases finais, em 1999, 2001 e 2005, podem justificar o anseio de voltar a marcar presença no evento. Entretanto, para legitimar a real candidatura à conquista deste lugar, muito mais há por fazer, desde a estabilidade das comissões técnicas que orientam os jovens à qualidade e sequência dos processos de selecção e treinos dos executantes.
O facto de termos ocupado o último lugar do grupo, duas vezes, em três participações, registando um hiato nas presenças em fases finais que já dura 10 anos, indicia que o título africano conseguido em 2001 é excepção, num projecto cuja concepção e execução exige séria reflexão e mudanças operacionais.
O optimismo exacerbado que antecedeu à partida, esteve sustentado, sobretudo, na comparação do resultado anterior dos egípcios (vitória sobre o Ruanda aos penaltis), enquanto Angola derrotou o Gabão por 3-0, perdendo por uma bola a zero na segunda mão. O subjectivismo desta análise atesta por si só a fragilidade da preparação mental dos nossos futebolistas e não representa reforço positivo para uma boa abordagem do jogo.
Objectivamente, importa analisar se o tempo de trabalho da equipa técnica foi suficiente para promover substancial progressão pedagógica na qualidade dos jogadores. Muitos outros factores extra selecção devem ser alvo de avaliação, pela sua possível influência no rendimento global do grupo, tais como o número de internacionalizações, o volume de treinos a alto nível, a rotina de utilização nos seus clubes, etc, etc.
Neste particular, Angola terá seguramente alguns dos praticantes que chegam às grandes competições com muito pouca vivência no Alto Rendimento. A descontinuidade no processo de preparação das distintas selecções, com ou sem competições oficiais, traz sempre o impacto negativo de confrontar as nossas representações nacionais com oponentes mais estruturados, pois cumprem a sequência de etapas de desenvolvimento dos jogadores, ao contrário do nosso país, onde raramente nos deparamos com programas bem estruturados de médio e longo prazos e com a durabilidade que necessitam para vingar.
Mas não constitui demérito algum perder com o Egipto, 43º país no ranking da FIFA, com 632 pontos, numa lista onde Angola figura na posição 137, com 253 pontos.