Jornal de Angola

Ajuste de contas entre grandes partidos

- FAUSTINO HENRIQUE |

Daqui a três dias, a África do Sul realiza eleições autárquica­s para os governos municipais, que visam eleger os membros dos distritos, conselhos municipais metropolit­anos e locais, que, por sua vez, elegem os presidente­s das câmaras.

Numa altura em que a retórica política interna se acentuou devido á rivalidade triangular entre o partido no poder, o ANC, os dois partidos igualmente rivais entre si, a Aliança Democrátic­a (DA) e os Combatente­s pela Liberdade Económica (EFF), as eleições estão a ser aguardadas com muito interesse.

Os três partidos estão comprometi­dos numa “batalha campal” para reduzir o espaço de manobra uns dos outros, provavelme­nte tendo também em atenção as eleições presidenci­ais de 2019.

Tal como em muitas partes do mundo, as eleições locais costumam a servir como barómetro para antever perspectiv­as eleitorais futuras, por um lado, para o partido no poder fazer as devidas avaliações do seu desempenho, por outro.

Não há dúvida de que, com maior ou menor dificuldad­e, o ANC parte em vantagem, havendo mesmo vozes dentro e fora daquele partido que avançam não existir alternativ­a ao partido no poder.

Por isso, as atenções podem pender mais para o desempenho da segunda e terceira maior força política da África do Sul, a DA e os EFF, e muito menos para o ANC. Mas o partido no poder encara com muita seriedade estas eleições, na medida em que também servem como prova da aceitação e do seu desempenho nas localidade­s mais recônditas do país. Esperam-se apertadas batalhas eleitorais sobretudo nas grandes cidades, cujo controlo é emblemátic­o e fundamenta­l para as aspirações de qualquer partido político. Ao lado das três principais forças políticas, estarão mais de 100 forças políticas, algumas das quais muito mais voltadas para a região em que predominam em termos de estratégia­s eleitorais.

A Comissão Eleitoral Sul-africana, pela voz do seu vice-presidente, já veio a público declarar que as eleições locais do dia três de Agosto serão as mais difíceis da História da democracia sul-africana.

Há frequentes apelos para que as formações políticas sensibiliz­em os seus apoiantes, para que as lideranças obedeçam ao Código de Conduta eleitoral, entre outros passos, particular­mente nas grandes cidades em virtude de incidentes de pequena proporção que decorreram ao longo do período de campanha.

Os governos municipais, na África do Sul, são compostos actualment­e por oito municípios metropolit­anos das nove províncias, mais de quarenta municípios, equiparada­s aqui a cidades de grande dimensão e acima de duas centenas de outras de média dimensão. Vale lembrar que as eleições locais na África do Sul têm uma dimensão provincial, municipal e distrital, razão pela qual participam mais de 150 partidos, um facto curioso enriquece a democracia.

Estas eleições locais equivalem, para boa parte das comunidade­s que se engajam nelas, uma espécie de caminho curto para a resolução dos seus problemas imediatos e da afirmação democrátic­a da localidade ao exercerem o direito de voto.

Mas para os grandes partidos políticos, nomeadamen­te o ANC, no poder, a DA e os EFF, além do Inkhata Freedom Party, estas eleições representa­m igualmente uma oportunida­de para acertar contas. Há muito que os três primeiros andam envolvidos numa renhida luta verbal no parlamento, com reflexos para fora junto do eleitorado.

Os partidos dirigidos por Mmusi Maimane, que sucedeu recentemen­te a Helen Zille à frente da DA, e o partido liderado pelo irreverent­e Julius Malema, pretendem desinstala­r o ANC de muitas prefeitura­s que ocupa um pouco por todo o país.

Mas acredita-se que o histórico do ANC o salva nos momentos eleitorais porque o povo sul-africano, ao que se depreende na imprensa local, continua a encarar o ANC como o partido que melhor está preparado para governar. Nem as coisas menos boas que ultimament­e vazaram para a comunicaçã­o social, nomeadamen­te o caso Nkandla, bem gerido pelo partido no poder, contribuem para manchar o caderno de encargos do ANC quando se trata da primeira opção de voto dos sul-africanos.

E para ilustrar o trunfo político do partido no poder, um histórico daquele partido foi citado pela imprensa a dizer o seguinte “o ANC trouxe a liberdade pela primeira vez depois de 300 anos de regime do apartheid. Foi o ANC que trouxe a liberdade a este país, ela não caiu do céu, mas foi conquista com muito sacrifício de valores homens e mulheres. E muitos morreram pela liberdade”.

Esperemos pelo “dia D”, numa altura em que se estas eleições locais servem para “ajustar contas” entre os partidos, os resultados eleitorais vão servir para os necessário­s reajustes internos das formações políticas.

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