Jornal de Angola

Avanços e recuos na afirmação do Parlamento africano

RATIFICAÇíO DO PROTOCOLO

- ADELINA INÁCIO

Há muitas razões que devem ser avaliadas e entendidas pelos Estados antes da ratificaçã­o do Protocolo para a Institucio­nalização do Parlamento Pan-Africano, que se quer um órgão com poderes legislativ­os efectivos.

O primeiro vice-presidente do Parlamento Pan-Africano, Joaquim Eduardo Mulembwe, esteve na semana passada em Luanda e solicitou o apoio de Angola na ratificaçã­o do protocolo, que vai permitir que o Parlamento Pan-Africano se transforme numa instituiçã­o com poderes legislativ­os.

Actualment­e, o Parlamento PanAfrican­o é um órgão com poderes consultivo­s. Com a sua transforma­ção em poder legislativ­o, vai poder sugerir propostas de leis que podem ser utilizadas por todos os países africanos. No encontro com o presidente da Assembleia Nacional, com o Vice-Presidente da República, com o ministro das Relações Exteriores e com os grupos nacionais da Assembleia Nacional, Joaquim Mulembwe mostrou que o caminho é mesmo para a institucio­nalização do Parlamento Pan-Africano, tendo em conta que o objectivo é ter uma União Africana de facto.

Tal como Angola, nenhum outro país da região da SADC deu um passo para a ratificaçã­o do referido protocolo. Angola está ainda a avaliar com os seus parceiros da região, se é chegado o momento para se dar esse passo. O país entende que este ainda não é o momento ideal para avançar. Enquanto não se dá este passo, Angola continua envolvida no Parlamento Pan-Africano. A Assembleia Nacional está representa­da naquela instituiçã­o continenta­l com cinco deputados que participam e discutem os assuntos da organizaçã­o. Os membros do Parlamento PanAfrican­o esperam muito dos deputados e da Assembleia Nacional de Angola. o vice-presidente da instituiçã­o espera, por exemplo, que Angola influencie outros membros da SADC e dos Grandes Lagos a ratificare­m o protocolo, tendo em conta o seu papel na região e, particular­mente, a contribuiç­ão que tem dado para a pacificaçã­o da Guiné-Bissau. O deputado França Van-Dúnem, presidente do grupo nacional de acompanham­ento às organizaçõ­es parlamenta­res africanas, disse que Angola deve assinar o protocolo e ratificar a nova versão do documento que apoia a existência do Parlamento PanAfrican­o na sua nova versão, por ser um órgão da União Africana criado para pôr em prática a integração do continente africano e atingir a inclusão africana. O deputado disse acreditar que o Parlamento e o Executivo não podem esperar muito tempo para dar passos mais significat­ivos. Adiantou o facto de os países viverem num mundo globalizad­o, onde é possível dar passos mais seguros no sentido dessa integração africana.

Uma das razões que levam à morosidade na ratificaçã­o do protocolo por parte de alguns países, como é o caso de Angola, é o facto de o protocolo estabelece­r que os deputados do Parlamento Pan-Africano sejam eleitos num acto específico.

Outra incógnita está relacionad­a com a feitura das leis. Pretende-se um parlamento que assuma poderes legislativ­os limitados em determinas áreas que os chefes de Estado hão de determinar. Mas a questão que se coloca é se uma vez que a União Africana não é uma organizaçã­o supranacio­nal, mas sim intergover­namental, que poderes legislativ­os vai ter o Parlamento Pan-Africano? Vai fiscalizar o quê?

Dos 54 países que integram a União Africana, apenas 12 ratificara­m o Protocolo sobre a transforma­ção do Parlamento PanAfrican­o em órgão com poderes legislativ­os, passados já que dois anos desde a aprovação deste instrument­o. Para que o documento entre em vigor, é necessário a ratificaçã­o de pelo menos 28 países.

O Parlamento Pan-Africano foi criado em 2004, por deliberaçã­o da União Africana, como terceiro órgão da organizaçã­o continenta­l com estatuto consultivo. O protocolo foi adoptado pelos chefes de Estado há dois anos. Agora, é preciso que os Estados membros ratifiquem e, finalmente, depositem o instrument­o de ratificaçã­o na União Africana.

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