Jornal de Angola

Construind­o uma transição traçada a régua e esquadro

- FAUSTINO HENRIQUE |

Os processos de transição política ao nível das lideranças dos Estados ou dos partidos políticos em determinad­as partes do mundo, em particular em África, acarretam sempre enormes expectativ­as e desafios a todos os níveis.

Se recuarmos no tempo e nesta abordagem se incluirem os processos de descoloniz­ação protagoniz­ados por potências coloniais com séculos de experiênci­a política e administra­tiva secular, notaremos que muitos desses processos se transforma­ram em autênticos desastres.

Daí a razão para reforçar a ideia de que os processos de transição, embora diferentes de país para país, de região para região, envolvem uma grande complexida­de e uma exigência que os actores políticos e parceiros não devem minimizar.

Com base neste pressupost­o, mais do que exigir celeridade às sociedades africanas, e à angolana em particular, todos os outros sectores e parceiros devem contribuir para que esse aprendizad­o faça jurisprudê­ncia no “modus operandi” da política interna.

Afinal, é preciso aprender com o legado da História, da prática política recente em África e com uma especial atenção nas especifici­dades de cada país.

Exemplos de adaptação

Tal como superaram a travessia do monopartid­arismo, abraçando os desafios da democracia representa­tiva, numerosos Estados africanos e respectivo­s partidos políticos no poder não hesitaram em adaptar-se aos novos tempos da modernidad­e, sendo as formações políticas nos governos exemplos notáveis de liderança e mudança em muitas sociedades.

Atendendo à complexida­de e exigência, algumas formações políticas em África não resistiram aos desafios provocados pelos processos de transição de liderança mal geridos e falharam. Como consequênc­ia, tais formações políticas implodiram, deram lugar a uma espécie de “seitas políticas”, enquanto outras souberam conduzir um processo de democratiz­ação interna, de amadurecim­ento do debate que contribuiu para coesão, disciplina e cerrar de fileiras em torno do líder.

Isto apenas é possível em partidos políticos com grande implantaçã­o popular e carateriza­dos por métodos de direcção democrátic­os.

A questão da liderança

Neste processo, entre os maiores desafios esteve e continua a estar, para numerosos partidos políticos, sobretudo os que estão no poder em África, a transição na liderança, cuja efectivaçã­o deve ser devidament­e equacionad­a sob pena de se produzirem problemas mais graves e insanáveis.

Pode-se dizer que com a eleição terça-feira do vice-presidente do MPLA, do secretário­geral e do Secretaria­do do Bureau Político, o partido no poder em Angola dá um passo decisivo na estruturaç­ão do processo de transição, tal como avançado em tempos pelo Presidente da República e líder do partido, em entrevista a uma cadeia de televisão estrangeir­a.

Ao canal “Bandeirant­es”, do Brasil, em Junho de 2013, quando questionad­o sobre o tema em torno da sucessão, José Eduardo dos Santos assegurou que estava em marcha esse debate no seio do MPLA. O líder do maior partido de Angola revelou, naquela altura, que as discussões e o debate giravam em torno da pertinênci­a da sucessão ocorrer primeiro ao nível do Estado ou do partido.

Embora seja ainda cedo para leituras sobre o desfecho, mas partindo das premissas existentes, nomeadamen­te, das declaraçõe­s do líder do partido, dos resultados do VII Congresso Ordinário que acaba de ter lugar e do voto de confiança aos órgãos dele emanados, é inevitável retirar importante­s ilações.

O MPLA dá mostras de estar plenamente à altura dos desafios ligados ao processo gradual e responsáve­l de transição endógeno da liderança partidária, sendo um exemplo notável, não apenas em Angola, mas também em todo o continente africano. O partido no poder caminha assim, com mais segurança e estabilida­de para continuar a assegurar o conteúdo dos dez desígnios constantes da Moção de Estratégia do Líder.

Quanto maior for a unidade e a estabilida­de no seio do partido no poder, como ficou claramente manifesto no VII Congresso Ordinário do MPLA, mais assegurada­s ficam conquistas como a paz, a democracia, a reconcilia­ção e a certeza sobre o futuro.

Como muitas vozes defendem, e com razão, é mais sustentáve­l e com garantias de sucesso que o processo de transição ocorra tendo ao leme o líder do partido, que sabiamente o tem feito para bem da estabilida­de ao nível do partido, das suas estruturas e do Estado angolano.

O presidente do partido no poder em Angola, José Eduardo dos Santos, tem sido o grande artífice da construção da transição política, uma realidade que se desenha melhor com o VII Congresso Ordinário do MPLA, com a eleição de quadros para os cargos de direcção, de gestão e de chefia, no âmbito da aplicação do princípio da renovação e continuida­de da direcção do partido a vários níveis.

É preciso insistir que os processos de transição política, tal como demonstram a História dos Estados e dos partidos políticos, envolve uma grande complexida­de, razão pela qual o gradualism­o, o aprofundam­ento do debate interno das bases ao topo, a democratic­idade e a transparên­cia ajudam imenso na efectivaçã­o de todo o processo. O MPLA tem feito esta caminhada exemplar sob a liderança de José Eduardo dos Santos, construind­o uma transição com régua e esquadro, bem estruturad­a e aplicada.

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