Colombianos celebram o fim da guerra civil
O Governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) anunciaram, quarta-feira, um acordo de paz sem precedentes, depois de quatro anos de duras negociações em Cuba, para acabar com 52 anos de guerra civil.
“Chegámos a um acordo para a paz final, completa e final”, refere um texto assinado por ambas as partes e lido pelo diplomata cubano Rodolfo Benitez, em Havana, sede das negociações da Colômbia, desde Novembro de 2012. Milhares de pessoas saíram às ruas para celebrar o acordo histórico alcançado entre o Governo e a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, ao fim de quase quatro anos de negociações, mediadas pelas diplomacias de Cuba e da Noruega, acompanhadas pelo Chile e Venezuela.
Em Caracas, mal apareceu num ecrã gigante, instalado no Parque dos Hippies, da capital colombiana, a imagem dos negociadores a rubricarem o acordo de paz, uma multidão gritou, com júbilo, “sim, podemos.”
Antes do discurso do Presidente Juan Manuel Santos, os colombianos começaram a cantar em coro o hino nacional, naquele que foi um dos momentos mais emotivos da noite, com lágrimas, abraços e aplausos, segundo a agência Efe, segundo a qual, a concentração reuniu pessoas de diferentes formações políticas. “Parecia demorar muito e realmente chegou o dia. Recebemos a notícia do acordo de paz com emoção. Sinto que toda a Colômbia compreende a responsabilidade que tem no referendo”, disse o ex-candidato presidencial e ex-autarca de Bogotá, Antanas Mockus, à Efe.
O político, um dos mais acérrimos defensores do processo de paz, foi um dos cidadãos que respondeu ao apelo de várias organizações para que se concentrassem naquele parque situado no bairro tradicional de Chapinero. A guerra, que começou em 1964, é o último grande conflito armado nas Américas e provocou a morte a 260 mil pessoas, deslocou 6,8 milhões e deixou 45 mil desaparecidos.
Ao longo dos anos, atraiu vários grupos rebeldes de esquerda e paramilitares de direita. Os cartéis de droga também têm alimentado a violência no maior país produtor de cocaína no mundo. Os três anteriores processos de paz com as FARC terminaram em fracasso.
Apelo ao referendo
O acordo, agora anunciado, ainda tem de ser aprovado pelos colombianos em referendo que, de acordo com o Presidente colombiano, deve ocorrer a 2 de Outubro próximo. “Vai ser a mais importante votação das nossas vidas”, afirmou na quarta-feira o Chefe de Estado colombiano num discurso à nação. “Esta é uma oportunidade histórica e única (...), para deixarmos para trás este conflito e dedicarmos os nossos esforços à construção de um país mais seguro, justo, educado para todos nós, para os nossos filhos e netos”, realçou Juan Manuel Santos.
O principal rival do actual Chefe de Estado, Juan Manuel Santos, o antigo Presidente Alvaro Uribe, lidera a campanha para o “não”, quando argumenta que o seu sucessor deu muito às FARC. O Governo da Colômbia prossegue a luta contra o grupo rebelde Exército da Libertação Nacional (ELN). O presidente recordou que a realização do referendo - em que os colombianos vão responder se aprovam ou não o acordo do fim do conflito com as FARC - resulta do cumprimento da promessa que fez aos colombianos de que “teriam a última palavra” relativamente ao negociado.
Para que o acordo de paz seja aprovado no referendo, o “sim” deve conquistar pelo menos 13 por cento do eleitorado, ou seja, um mínimo de 4.396.626 votos.
ONU promete apoio
O Presidente colombiano não fez referência, na sua alocução, ao lugar e à data da assinatura protocolar do acordo final de paz - que, segundo disse, anteriormente seria na Colômbia -, acto que deverá ser testemunhado por líderes da comunidade internacional.
O Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, felicitou a Colômbia pelo acordo de paz e pediu um esforço “determinado e exemplar” para que o mesmo seja aplicado.
“O Secretário-Geral da ONU felicita calorosamente o Presidente Juan Manuel Santos, o líder das FARC, Timoleon Jiménez, e as suas equipas negociadoras em Havana pelo seu árduo trabalho e perseverança para chegar a esta etapa do processo”, disse, num comunicado, o gabinete do porta-voz de Ban Ki-moon.
O Secretário-Geral das Nações Unidas saudou ainda as organizações e os cidadãos que contribuíram para as conversações com as suas propostas e incentivos, aos países que actuaram como garantes do processo de paz (Cuba e Noruega) e aos que o acompanharam (Chile e Venezuela).
“Agora que as negociações terminaram, vai ser necessário fazer um esforço igualmente determinado e exemplar para implementar os acordos”, referiu.
O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, também felicitou o seu homólogo colombiano, Juan Manuel Santos, pelo acordo de paz com as FARC e disse que os Estados Unidos estão orgulhosos por apoiarem a Colômbia na sua busca pela paz.