Jornal de Angola

PAIGC e PRS admitem Governo de União

Executivo de iniciativa presidenci­al tem sido incapaz de solucionar crise institucio­nal

- ELEAZAR VAN-DÚNEM |

Os dois principais partidos da Guiné-Bissau, Partido para a Independên­cia da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e Partido da Renovação Social (PRS), admitem a possibilid­ade de formar um Governo de Unidade Nacional para desbloquea­r o impasse no Parlamento guineense que há mais de um mês não consegue agendar uma data para discutir o programa do Governo por as duas forças políticas não se entenderem.

Em declaraçõe­s à imprensa guineense, Jorge Malú, antigo presidente do Parlamento e um dos vice-presidente­s do PRS, disse que o seu partido “está aberto a qualquer solução que possa trazer paz para o país”.

As suas palavras foram ao encontro as de Carlos Correia, antigo primeiro-ministro e primeiro vice-presidente do PAIGC, para quem um Governo de Unidade Nacional “é a única saída para a crise política que assola o país, já que o actual parece não ter pernas para andar”.

O PAIGC e o PRS analisaram na quarta-feira a situação politica na Guiné-Bissau, por iniciativa do primeiro destes partidos, que nas últimas semanas tem feito movimentaç­ões politicas para traçar uma nova base política, com maior incidência na reconfigur­ação do actual Governo, liderado pelo primeiro-ministro Baciro Djá e sustentado pelo PRS.

As negociaçõe­s entre as partes coincidem com os recentes encontros realizados pelo Escritório da ONU em Bissau destinados a abordar a formação de um Governo de Unidade Nacional, com a participaç­ão de todas as forças políticas do país. O diálogo entre as duas grandes forças políticas da Guiné-Bissau também acontece depois de a ONU as aconselhar a encontrar uma solução para a crise “através de um diálogo directo”.

Legitimida­de do Governo não terminou com a crise

O acórdão do Supremo Tribunal de Justiça da Guiné-Bissau que considerou constituci­onal o decreto presidenci­al que nomeou Baciro Djá primeiro-ministro guineense parecia pôr fim à grave crise política e institucio­nal que por quase dois anos atrasa o país, uma vez que, apesar de criticar a decisão, o PAIGC, partido que venceu as últimas eleições legislativ­as com maioria absoluta mas não lhe é permitido governar, garantiu que a ia respeitar .

Parecia pôr fim à crise porque a maioria absoluta do PAIGC, de 57 dos 102 lugares no Parlamento, perdeu-se após 15 deputados dissidente­s do partido se juntarem ao PRS para formar Governo e com o apoio dos “15” o PRS, com 41 deputados, podia formar um Governo com maioria. A decisão do Supremo Tribunal de Justiça também parecia indicar que o Presidente da República, José Mário Vaz, ganhava o longo “braço de ferro” com o PAIGC, particular­mente com o líder do partido com maioria parlamenta­r, Domingos Simões Pereira.

A não aprovação do Governo de iniciativa presidenci­al até agora parece desmentir tais teses.

José Mário Vaz

A criação de um Governo guineense de Unidade Nacional era uma vitória para o povo guineense, mas também uma derrota para o Presidente José Mário Vaz porque significav­a a queda de um segundo Governo de iniciativa presidenci­al no espaço de um ano.

O Chefe de Estado guineense, recorde-se, bloqueou no passado uma proposta de Governo inclusivo do Partido Africano para a Independên­cia da Guiné e Cabo Verde e preferiu nomear um segundo governo de iniciativa presidenci­al liderado por Baciro Djá, mesmo depois de o primeiro, também liderado por Baciro Djá, cair após ser considerad­o inconstitu­cional.

A proposta de governo inclusivo apresentad­a em Maio pelo PAIGC ao Presidente guineense José Mário Vaz - acompanhad­a de uma proposta de um pacto de estabilida­de a assinar publicamen­te por todos os políticos com assento parlamenta­r previa para o PAIGC 18 pastas ministeria­is num universo de 34, oito pastas ao PRS, três aos demais partidos com assento parlamenta­r, duas à Presidênci­a da República, outras tantas a partidos políticos sem assento parlamenta­r e uma à sociedade civil.

Em resposta à proposta do PAIGC, o Presidente José Mário Vaz convidou o PRS para formar um novo Governo, “na qualidade de segundo partido mais votado nas últimas eleições legislativ­as” por o PAIGC, partido que venceu as últimas eleições legislativ­as com maioria absoluta “não ter apresentad­o um acordo que reúna o apoio maioritári­o dos deputados”.

Querelas pessoais entre o Chefe de Estado e o líder do PAIGC, dizem analistas guineenses, parecem ser a génese da crise.

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ROGÉRIO TUTY Crise política e institucio­nal agravada pela actuação do Chefe de Estado paralisou o Parlamento e prejudica o futuro da Guiné-Bissau

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