Arroz do Longa reduz importação
Pólo Agro-industrial no Cuando Cubango vai abastecer todo o país
O pólo Agro-industrial do Longa, no município do Cuito Cuanavale, Cuando Cubango, caminha para a produção em grande escala. Nos últimos meses, foi instalada uma fábrica que tem permitido empacotar 40 toneladas de arroz por dia que são distribuídas, principalmente, nos mercados das províncias de Benguela, Cunene, Huíla, Huambo e Luanda. O produto é vendido a 90 mil kwanzas por tonelada.
A produção do arroz permite também a triagem de 15 toneladas de farelo, que serve para ração animal. Localizada a 80 quilómetros de Menongue, a fazenda é um projecto do Ministério da Agricultura e coordenada pela Gesterra, em parceria com a empresa chinesa Camic Engenharia, que detém uma vasta experiência em matéria de cultivo de arroz.
A fazenda do Longa representa um orçamento global de mais de sete mil milhões de kwanzas. Instalada numa área de mil hectares, dos cinco mil previstos, tem como meta a produção, nos próximos tempos, de 15 a 20 mil toneladas de arroz por ano, em dois períodos de colheita.
A fazenda conta com 40 trabalhadores efectivos (apenas seis do sexo feminino) e outros eventuais, variando em função do volume de trabalho durante o tempo de colheita. A infra-estrutura conta com um forno de secagem, máquinas de descasque e embalagem, três silos com capacidade para três mil toneladas de arroz cada, 14 pivôs de irrigação, um dormitório para 30 trabalhadores, refeitório, dois campos multiuso e um posto de saúde, entre outros serviços.
O aumento da capacidade de produção vai permitir, numa primeira fase, a exportação do arroz, sobretudo para a Namíbia e a Zâmbia, países que fazem fronteira com a província do Cuando Cubango e já manifestaram esse desejo.
A comuna do Longa possui, desde o tempo colonial, pequenos produtores de arroz, daí a necessidade de preparar-se insumos e garantir assistência técnica para que a região obtenha grandes recursos hídricos e pradarias, com o objectivo de ser um dos maiores celeiros do país.
O projecto da fazenda foi financiado pelo Executivo, através de uma linha de crédito do Banco de Desenvolvimento da China e enquadra-se num amplo programa agro-pecuário, visando incrementar a produção alimentar.
Com esse projecto, o Executivo pretende reduzir as importações, gerar empregos, contribuir para a diversificação da economia, criação de riqueza, integração da população nas comunidades no processo produtivo e atingir a segurança alimentar sustentada, com recurso à produção interna, entre outros benefícios.
O arroz em Angola é o segundo cereal mais consumido depois do milho. Durante a fase de implementação, o Longa criou postos de trabalho, principalmente para a juventude local, acrescentando que projectos desta natureza se encontram também em execução noutras províncias, estando alinhados no plano de desenvolvimento 2013/2017.
Para que a economia não dependa somente dos recursos provenientes do petróleo, no quadro da estratégia da diversificação económica, o Executivo vai manter a aposta no sector agrícola como forma de contribuir para o crescimento da economia, a estabilidade social das famílias, bem como para a redução da fome e da pobreza.
Produção actual
Na presente campanha agrícola 2015-2016, a fazenda Agro-industrial do Longa teve uma colheita reduzida devido às dificuldades na aquisição de sementes e foi cultivada apenas uma área de 500 hectares, contra os mil normalmente utilizados.
Com a redução, a colheita efectuada entre Março e Abril rendeu cerca de duas mil toneladas, sendo necessárias 4.700 para satisfazer os clientes.
Em funcionamento há quatro anos, o primeiro serviu para testar as 46 variedades de arroz e determinar a que se adaptava ao terreno e ao clima.
No final, foi aprovado o arroz do tipo “KK-1”, com um ciclo vegetativo considerado longo até seis meses. Mas, para o próximo ano, a fazenda retoma a produção normal nos 1.050 hectares, com o objectivo de aumentar a concorrência no mercado nacional, sobretudo nesta fase em que o Executivo aposta na diversificação da economia.
Com a redução da entrada dos produtos alimentares importados, com realce para o arroz, a fazenda Agro-industrial do Longa tem o desafio de assegurar esse vazio.
A direcção da empresa tomou nota das orientações do Executivo e criou um plano de ampliação da zona de cultivo, que pode atingir os cinco mil hectares nos próximos tempos.
Está também em carteira a execução de um projecto de apoio aos pequenos produtores de arroz na comuna do Longa, com assistência técnica, entrega de insumos agrícolas e aquisição dos seus produtos para o fomento desta actividade, tendo em vista que a fazenda é a única unidade que dispõe de máquinas de descasque e embalagem.
Geraldo Maiomona um dos funcionários da fazenda, desde Maio, tem 38 anos, que trabalha como electricista e é monitor da máquina de produção, disse ao Jornal de Angola que gosta de fazer parte deste projecto e está satisfeito com as condições de trabalho.
“Sou do Lubango, mas aqui encontrei uma segunda família, porque este local é a minha segunda casa, trabalho e vivo aqui na fazenda. O salário tem servido para satisfazer as minhas necessidades e sustentar a minha família que vive no Lubango.”
20.000 toneladas de arroz por ano Meta de produção estimada na fazenda do Longa
Outros projectos
A fazenda do Longa pretende começar no próximo ano a produção de soja e de outros cereais, hortícolas e tubérculos, entre outras culturas. A fazenda precisa apenas de investimentos para começar o projecto, já que possui terras aráveis e técnicos qualificados para a sua concretização, além dos campos de cultivo de arroz, que vão contar com um sistema de rega permanente e com uma rede de canais abertos a toda a dimensão do terreno, com garantia de drenagem e fornecimento de água no período de escassez de chuvas.
Neste momento, estão em curso experiências para trabalhar com um produto de ciclo curto para permitir duas colheitas por ano. Isso vai aumentar a capacidade de produção.
Produção nacional
Em algumas províncias do país, os camponeses beneficiam de formação, disponibilização de “inputs” agrícolas, como sementes, fertilizantes, pesticidas e instrumentos de produção.
No Bié por exemplo, oito associações de camponeses do município do Cuito são apoiadas, desde 2014, com diversos bens de produção agrícolas, pela Cruz Vermelha de Angola (CVA), visando o incentivo do cultivo do arroz. As associações são apoiadas através do programa “Meios de Vida”, que está a ser implementado no município do Cuito, sobretudo nas comunas de Cambandua e Chicala.
Com efeito, o governo local, através da Direcção da Agricultura e Desenvolvimento Rural e Pescas, aposta igualmente no cultivo de arroz nas localidades do Cuemba, Camacupa, Cuito, Nhârea e Catabola, tendo adquirido três máquinas de descasque de arroz, distribuídos nos municípios do Camacupa e do Cuemba. O cultivo do arroz, na província do Bié, teve início nos finais de 2012 nas localidades do Cuito, Cuemba, Catabola e Camacupa.
O Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA), na província do Huambo, aposta no fomento do cultivo do arroz, com vista a diversificar a actividade agrícola e maximizar a produção.
Dezassete variedades de sementes de arroz estão a ser testadas no quadro da implementação do projecto de desenvolvimento do cultivo deste cereal no país. O sistema inundado, em que permanece uma lâmina de água, tem apresentado, ao longo das fases experimentais já executadas, melhor rendimento na província do Huambo, ao passo que no Bié tem predominado com bons resultados o sistema de sequeiro, que depende directamente da chuva.
A produção do arroz ocorre em grande escala nas localidades de Quipemba, Malangue e Nguji, numa área de mais de 25 hectares em cada localidade. Já no município do Quirima, 15 hectares de terra estão preparados para o relançamento da produção do arroz.
No município de Sanza Pombo, Uíge, 155 quilómetros da sede capital da província, existe o projecto de cultivo de arroz na fazenda Sanza Pombo, cujo campo abrange uma extensão de dez mil hectares para o cultivo de arroz e emprega, nesta primeira, fase 80 trabalhadores angolanos e chineses.
O projecto agro-industrial do município do Cuimba, no Zaire, que prevê a produção de cereais (arroz e milho) em grande escala, já começou também a ser implementado. Localizado no perímetro entre a sede municipal do Cuimba e a comuna de Luvaca, numa área de 15 mil hectares, cinco dos quais de cultivo, a unidade contará com fábricas de transformação, processamento de cereais e a construção de outras infra-estruturas de apoio.
Produção mundial
Dados disponibilizados pela FAO mostram que a produção mundial de arroz, em 2013, foi de 746 milhões de toneladas colhidas numa área de 165 milhões de hectares, com uma produtividade média de 4.527 quilogramas por hectare.
Comparado com as demais culturas, o arroz destaca-se, em segundo lugar, pela produção e pela extensão de área cultivada, sendo superado apenas pelo trigo. O arroz participa com aproximadamente 30 por cento da produção mundial de cereais e é consumido em todo o mundo.
O arroz é cultivado em todos os continentes, destacando-se em primeiro lugar o asiático, com uma produção equivalente a 90 por cento da mundial. Segue-se o americano e o europeu, com cinco por cento, o africano, com quatro e o oceânico 0,5. Na Oceânia, destaca-se a Austrália, que produz 1,2 milhão de toneladas.
Na Ásia, estão os oito maiores produtores mundiais de arroz. Em primeiro lugar, está a China, seguida pela Índia, Indonésia, Bangladesh, Vietname, Tailândia, Myanmar e Filipinas, que produzem 203, 159, 71, 52, 44, 39, 28 e 18 milhões de toneladas, respectivamente.
A China contribui com uma produção equivalente a 27 por cento da mundial e 30 da asiática, seguida pela Índia com 21 e 24, respectivamente. Nas Américas, o arroz reveste-se de grande importância social e económica. Na América Latina e no Caribe, a produção de 28 milhões de toneladas de arroz representa 3,8 por cento da produção mundial, com destaque para o Brasil que participa com 42 por cento dessa produção. Na América do Norte, o arroz é produzido apenas nos Estados Unidos da América, cuja produção é de 8,6 milhões de toneladas.
O arroz é rico em hidratos de carbono. Há sete espécies de arroz: oryza barthii, oryza glaberrima, oryza latifolia, oryza longistaminata, oryza punctata, oryza rufipogon e oryza sativa. É uma planta da família das gramíneas que alimenta mais da metade da população mundial. É a terceira maior cultura cerealífera do mundo, apenas ultrapassada pela de milho e pela de trigo.
Para poder ser cultivado com sucesso, o arroz necessita de água em abundância, para manter a temperatura ambiente dentro de intervalos adequados, e, nos sistemas tradicionais, de mão-de-obra intensiva. Desenvolve-se bem mesmo em terrenos muito inclinados, nos países do sudeste asiático, devido aos socalcos onde é cultivado. Em qualquer dos casos, a água mantém-se em constante movimento, embora circule a uma velocidade muito reduzida.