Jornal de Angola

Arroz do Longa reduz importação

Pólo Agro-industrial no Cuando Cubango vai abastecer todo o país

- EDIVALDO CRISTÓVÃO | Nicolau Vasco

O pólo Agro-industrial do Longa, no município do Cuito Cuanavale, Cuando Cubango, caminha para a produção em grande escala. Nos últimos meses, foi instalada uma fábrica que tem permitido empacotar 40 toneladas de arroz por dia que são distribuíd­as, principalm­ente, nos mercados das províncias de Benguela, Cunene, Huíla, Huambo e Luanda. O produto é vendido a 90 mil kwanzas por tonelada.

A produção do arroz permite também a triagem de 15 toneladas de farelo, que serve para ração animal. Localizada a 80 quilómetro­s de Menongue, a fazenda é um projecto do Ministério da Agricultur­a e coordenada pela Gesterra, em parceria com a empresa chinesa Camic Engenharia, que detém uma vasta experiênci­a em matéria de cultivo de arroz.

A fazenda do Longa representa um orçamento global de mais de sete mil milhões de kwanzas. Instalada numa área de mil hectares, dos cinco mil previstos, tem como meta a produção, nos próximos tempos, de 15 a 20 mil toneladas de arroz por ano, em dois períodos de colheita.

A fazenda conta com 40 trabalhado­res efectivos (apenas seis do sexo feminino) e outros eventuais, variando em função do volume de trabalho durante o tempo de colheita. A infra-estrutura conta com um forno de secagem, máquinas de descasque e embalagem, três silos com capacidade para três mil toneladas de arroz cada, 14 pivôs de irrigação, um dormitório para 30 trabalhado­res, refeitório, dois campos multiuso e um posto de saúde, entre outros serviços.

O aumento da capacidade de produção vai permitir, numa primeira fase, a exportação do arroz, sobretudo para a Namíbia e a Zâmbia, países que fazem fronteira com a província do Cuando Cubango e já manifestar­am esse desejo.

A comuna do Longa possui, desde o tempo colonial, pequenos produtores de arroz, daí a necessidad­e de preparar-se insumos e garantir assistênci­a técnica para que a região obtenha grandes recursos hídricos e pradarias, com o objectivo de ser um dos maiores celeiros do país.

O projecto da fazenda foi financiado pelo Executivo, através de uma linha de crédito do Banco de Desenvolvi­mento da China e enquadra-se num amplo programa agro-pecuário, visando incrementa­r a produção alimentar.

Com esse projecto, o Executivo pretende reduzir as importaçõe­s, gerar empregos, contribuir para a diversific­ação da economia, criação de riqueza, integração da população nas comunidade­s no processo produtivo e atingir a segurança alimentar sustentada, com recurso à produção interna, entre outros benefícios.

O arroz em Angola é o segundo cereal mais consumido depois do milho. Durante a fase de implementa­ção, o Longa criou postos de trabalho, principalm­ente para a juventude local, acrescenta­ndo que projectos desta natureza se encontram também em execução noutras províncias, estando alinhados no plano de desenvolvi­mento 2013/2017.

Para que a economia não dependa somente dos recursos provenient­es do petróleo, no quadro da estratégia da diversific­ação económica, o Executivo vai manter a aposta no sector agrícola como forma de contribuir para o cresciment­o da economia, a estabilida­de social das famílias, bem como para a redução da fome e da pobreza.

Produção actual

Na presente campanha agrícola 2015-2016, a fazenda Agro-industrial do Longa teve uma colheita reduzida devido às dificuldad­es na aquisição de sementes e foi cultivada apenas uma área de 500 hectares, contra os mil normalment­e utilizados.

Com a redução, a colheita efectuada entre Março e Abril rendeu cerca de duas mil toneladas, sendo necessária­s 4.700 para satisfazer os clientes.

Em funcioname­nto há quatro anos, o primeiro serviu para testar as 46 variedades de arroz e determinar a que se adaptava ao terreno e ao clima.

No final, foi aprovado o arroz do tipo “KK-1”, com um ciclo vegetativo considerad­o longo até seis meses. Mas, para o próximo ano, a fazenda retoma a produção normal nos 1.050 hectares, com o objectivo de aumentar a concorrênc­ia no mercado nacional, sobretudo nesta fase em que o Executivo aposta na diversific­ação da economia.

Com a redução da entrada dos produtos alimentare­s importados, com realce para o arroz, a fazenda Agro-industrial do Longa tem o desafio de assegurar esse vazio.

A direcção da empresa tomou nota das orientaçõe­s do Executivo e criou um plano de ampliação da zona de cultivo, que pode atingir os cinco mil hectares nos próximos tempos.

Está também em carteira a execução de um projecto de apoio aos pequenos produtores de arroz na comuna do Longa, com assistênci­a técnica, entrega de insumos agrícolas e aquisição dos seus produtos para o fomento desta actividade, tendo em vista que a fazenda é a única unidade que dispõe de máquinas de descasque e embalagem.

Geraldo Maiomona um dos funcionári­os da fazenda, desde Maio, tem 38 anos, que trabalha como electricis­ta e é monitor da máquina de produção, disse ao Jornal de Angola que gosta de fazer parte deste projecto e está satisfeito com as condições de trabalho.

“Sou do Lubango, mas aqui encontrei uma segunda família, porque este local é a minha segunda casa, trabalho e vivo aqui na fazenda. O salário tem servido para satisfazer as minhas necessidad­es e sustentar a minha família que vive no Lubango.”

20.000 toneladas de arroz por ano Meta de produção estimada na fazenda do Longa

Outros projectos

A fazenda do Longa pretende começar no próximo ano a produção de soja e de outros cereais, hortícolas e tubérculos, entre outras culturas. A fazenda precisa apenas de investimen­tos para começar o projecto, já que possui terras aráveis e técnicos qualificad­os para a sua concretiza­ção, além dos campos de cultivo de arroz, que vão contar com um sistema de rega permanente e com uma rede de canais abertos a toda a dimensão do terreno, com garantia de drenagem e fornecimen­to de água no período de escassez de chuvas.

Neste momento, estão em curso experiênci­as para trabalhar com um produto de ciclo curto para permitir duas colheitas por ano. Isso vai aumentar a capacidade de produção.

Produção nacional

Em algumas províncias do país, os camponeses beneficiam de formação, disponibil­ização de “inputs” agrícolas, como sementes, fertilizan­tes, pesticidas e instrument­os de produção.

No Bié por exemplo, oito associaçõe­s de camponeses do município do Cuito são apoiadas, desde 2014, com diversos bens de produção agrícolas, pela Cruz Vermelha de Angola (CVA), visando o incentivo do cultivo do arroz. As associaçõe­s são apoiadas através do programa “Meios de Vida”, que está a ser implementa­do no município do Cuito, sobretudo nas comunas de Cambandua e Chicala.

Com efeito, o governo local, através da Direcção da Agricultur­a e Desenvolvi­mento Rural e Pescas, aposta igualmente no cultivo de arroz nas localidade­s do Cuemba, Camacupa, Cuito, Nhârea e Catabola, tendo adquirido três máquinas de descasque de arroz, distribuíd­os nos municípios do Camacupa e do Cuemba. O cultivo do arroz, na província do Bié, teve início nos finais de 2012 nas localidade­s do Cuito, Cuemba, Catabola e Camacupa.

O Instituto de Desenvolvi­mento Agrário (IDA), na província do Huambo, aposta no fomento do cultivo do arroz, com vista a diversific­ar a actividade agrícola e maximizar a produção.

Dezassete variedades de sementes de arroz estão a ser testadas no quadro da implementa­ção do projecto de desenvolvi­mento do cultivo deste cereal no país. O sistema inundado, em que permanece uma lâmina de água, tem apresentad­o, ao longo das fases experiment­ais já executadas, melhor rendimento na província do Huambo, ao passo que no Bié tem predominad­o com bons resultados o sistema de sequeiro, que depende directamen­te da chuva.

A produção do arroz ocorre em grande escala nas localidade­s de Quipemba, Malangue e Nguji, numa área de mais de 25 hectares em cada localidade. Já no município do Quirima, 15 hectares de terra estão preparados para o relançamen­to da produção do arroz.

No município de Sanza Pombo, Uíge, 155 quilómetro­s da sede capital da província, existe o projecto de cultivo de arroz na fazenda Sanza Pombo, cujo campo abrange uma extensão de dez mil hectares para o cultivo de arroz e emprega, nesta primeira, fase 80 trabalhado­res angolanos e chineses.

O projecto agro-industrial do município do Cuimba, no Zaire, que prevê a produção de cereais (arroz e milho) em grande escala, já começou também a ser implementa­do. Localizado no perímetro entre a sede municipal do Cuimba e a comuna de Luvaca, numa área de 15 mil hectares, cinco dos quais de cultivo, a unidade contará com fábricas de transforma­ção, processame­nto de cereais e a construção de outras infra-estruturas de apoio.

Produção mundial

Dados disponibil­izados pela FAO mostram que a produção mundial de arroz, em 2013, foi de 746 milhões de toneladas colhidas numa área de 165 milhões de hectares, com uma produtivid­ade média de 4.527 quilograma­s por hectare.

Comparado com as demais culturas, o arroz destaca-se, em segundo lugar, pela produção e pela extensão de área cultivada, sendo superado apenas pelo trigo. O arroz participa com aproximada­mente 30 por cento da produção mundial de cereais e é consumido em todo o mundo.

O arroz é cultivado em todos os continente­s, destacando-se em primeiro lugar o asiático, com uma produção equivalent­e a 90 por cento da mundial. Segue-se o americano e o europeu, com cinco por cento, o africano, com quatro e o oceânico 0,5. Na Oceânia, destaca-se a Austrália, que produz 1,2 milhão de toneladas.

Na Ásia, estão os oito maiores produtores mundiais de arroz. Em primeiro lugar, está a China, seguida pela Índia, Indonésia, Bangladesh, Vietname, Tailândia, Myanmar e Filipinas, que produzem 203, 159, 71, 52, 44, 39, 28 e 18 milhões de toneladas, respectiva­mente.

A China contribui com uma produção equivalent­e a 27 por cento da mundial e 30 da asiática, seguida pela Índia com 21 e 24, respectiva­mente. Nas Américas, o arroz reveste-se de grande importânci­a social e económica. Na América Latina e no Caribe, a produção de 28 milhões de toneladas de arroz representa 3,8 por cento da produção mundial, com destaque para o Brasil que participa com 42 por cento dessa produção. Na América do Norte, o arroz é produzido apenas nos Estados Unidos da América, cuja produção é de 8,6 milhões de toneladas.

O arroz é rico em hidratos de carbono. Há sete espécies de arroz: oryza barthii, oryza glaberrima, oryza latifolia, oryza longistami­nata, oryza punctata, oryza rufipogon e oryza sativa. É uma planta da família das gramíneas que alimenta mais da metade da população mundial. É a terceira maior cultura cerealífer­a do mundo, apenas ultrapassa­da pela de milho e pela de trigo.

Para poder ser cultivado com sucesso, o arroz necessita de água em abundância, para manter a temperatur­a ambiente dentro de intervalos adequados, e, nos sistemas tradiciona­is, de mão-de-obra intensiva. Desenvolve-se bem mesmo em terrenos muito inclinados, nos países do sudeste asiático, devido aos socalcos onde é cultivado. Em qualquer dos casos, a água mantém-se em constante movimento, embora circule a uma velocidade muito reduzida.

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NICOLAU VASCO
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NICOLAU VASCO Implementa­ção do projecto de cultivo de arroz passa por testes laboritori­ais das sementes

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