Gaboneses escolhem entre Ali Bongo e Jean Ping
Realizaram-se ontem as eleições presidenciais no Gabão, um escrutínio que opôs o Presidente cessante, Ali Bongo Ondimba ao ex primeiro-ministro e antigo Presidente da Comissão Executiva da União Africana, Jean Ping, numa altura em que o primeiro tornou público um escrito de 132 páginas, denominado em francês Plan Stratégique Gabon Émergent (PSGE), uma espécie de balanço dos seus feitos e com projecções para o futuro.
Num universo de mais de um milhão e oitocentos habitantes, foram registados como eleitores 628.124 de gaboneses, que exerceram o direito de voto nas 2.580 assembleias distribuídas pelo país, de acordo com as listas apresentadas pelo Ministério do Interior à Comissão Eleitoral Nacional Autónoma Permanente (CENAP).
Dos catorze candidatos inicialmente previstos em que sobressaem os dois principais contendores, nomeadamente o Presidente cessante, Ali Bongo Ondimba, a frente do Partido Democrático Gabonês (PDG) e Jean Ping, pela Frente Unida da Oposição para Alternância (em francês FUOPA), sobraram nove.
Falhou a tentativa da oposição em congregar todos os políticos com pretensão de concorrer em torno de um único candidato, independentemente de alguns pesos pesados da cena política gabonesa terem desistido a favor de Jean Ping, como era inicialmente a intenção da oposição.
Além de Jean Ping, concorreram às presidenciais Casimir Oye Mba Guy, Nzouba-Ndama, dois antigos principais colaboradores de Omar Bongo Ondimba, malogrado Presidente e pai do Presidente cessante. Leo Paul Ngoulakia, antigo colaborador de Ali Bongo e ex primeiro-ministro, Raymond Ndong Sima, perfazem a lista ao lado de outros rostos menos conhecidos da política gabonesa.
Mas não há dúvidas de que o Presidente cessante partiu em vantagem, sobretudo pela forma humilde e dialogante como se dirigiu para os eleitores, apresentando um programa que se reflecte no seu “Plano Estratégico de um Gabão Emergente”. Conhecido pelas iniciais PSGE, este ideário serve como descrição completa do que, entre 2009 a 2016, foi feito em todo o país e constitui também o documento orientador sobre a continuidade das reformas que Ali Bongo pretende para o país, sobretudo quando se olha para o conjunto de metas ainda por alcançar.
O que torna inovador e único o referido documento são referências às metas não alcançadas e as respectivas razões que a equipa de Ali Bongo não hesitou em colocar preto no branco, orientando o eleitor fundamentalmente sobre o que está em causa neste momento em termos de realizações.
Trata-se de um documento encorajador que, entre outras coisas, aponta como realização materializada, por exemplo, a construção de infra-estruturas, combate cerrado contra a existência de funcionários fantasmas, a ênfase na promoção em função do desempenho e mérito, bem como a igualdade de oportunidades.
Reagindo aos seus detractores, provavelmente ao seu principal oponente, Jean Ping, com alegações sobre as condições da generalidade dos gaboneses, sobre o estado da economia, entre outros, Bongo defendeu-se tendo como base o seu PSGE.
Disse que compreende as acusações contra si e admite que desde os anos 90 o Partido Democrático Gabonês (PDG), no poder, enfrenta uma espécie de crise geracional, com antigos barões a demonstrarem reservas aos esforços de reforma de uma geração que aposta no fim de um estado de coisas que fez o Gabão regredir.
Quando questionado sobre o que alcançou e o que não materializou Bongo disse, referindose ao seu Governo, que “em sete anos, nós construímos mais estradas do que nos últimos vinte anos e conseguimos estender o seguro de saúde obrigatório (CNAMGS, sigla em francês) a mais de um milhão de gaboneses. Ao longo de todo o período, 2009-2016 o investimento público foi mais importante do que em todo o período de 1970 a 2009. Em 2009, a taxa de crescimento foi inferior a um por cento. Em 2015, foi cerca de seis por cento”.
Sendo um país exportador, o Gabão viu reduzir significativamente as suas receitas com o seu principal produto de exportação o petróleo, embora o peso do petróleo no PIB represente cerca de 32 por cento, quando se prevê um crescimento de menos de três por cento.
O Presidente cessante disse assumir inteiramente parte das expectativas e aspirações das populações não materializadas, numa altura em que tudo indica que o povo gabonês lhe venha a dar mais um voto de confiança.
Prevê-se que os resultados eleitorais sejam publicados na terçafeira e algumas delegações estrangeiras testemunharam o pleito, tido como mais disputados.
Daí os apelos para a condução de um processo eleitoral livre, justo, transparente e democrático que vêm de todos os lados, a começar pela União Africana, pelas organizações regionais de que o Gabão faz parte, da União Europeia, etc. E, dependendo da opção do povo gabonês, é fundamental que as partes respeitem os procedimentos legais, acatem os resultados e se unam em torno do Gabão para todos os gaboneses, como advoga Ali Bongo Ondimba.